“Há 10.000 anos os seres humanos
e seus animais representavam menos de ⅒ de 1% da biomassa dos vertebrados da
terra. Agora, eles são 97%” - Patterson
(07/05/2014)
Em
2012, escrevi um artigo provocativo no Portal Ecodebate perguntando se a
expansão do ser humano por todos os cantos e espaços do Planeta poderia ser considerada
uma atividade semelhante ao que acontece na biologia com as espécies invasoras.
A
ideia do conflito irreconciliável e antagônico entre o ser humano e a natureza
não é nova. Diversos autores já trataram a humanidade como um câncer, uma praga
ou erva daninha que ataca a biodiversidade da Terra. Por exemplo, o grande
ambientalista David Attenborough disse: “Somos uma praga sobre a Terra. Não
é apenas a mudança climática; é o espaço absoluto, lugares para cultivar
alimentos para esta enorme horda. Ou nós limitamos o nosso crescimento
populacional ou o mundo natural fará isso por nós. Aliás o mundo natural já
começou a fazer isso para nós agora”.
Na
mesma linha, o filósofo britânico John Gray, em entrevista à revista Época
(29/05/2006), apresenta um prognóstico pessimista sobre a humanidade: “A
espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros
seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a
Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu
ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa
com desastres climáticos e a escassez de recursos. A boa notícia é que, livre
do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu curso”.
Também
o Dr. David Suzuki (2016) considera que os seres humanos estão no topo dos
predadores do mundo. Predação é uma função natural importante. Mas como a
população humana cresceu, passou a influir na dinâmica dos ecossistemas
rompendo os equilíbrios naturais. Ele diz que precisamos parar de procurar
bodes expiatórios e olhar no espelho e perceber que a principal causa do
declínio das espécies são o agigantamento das atividades antrópicas.
Agora
em abril de 2016, a revista Nature publicou o texto “Post-invasion demography
of prehistoric humans in South America” (GOLDBERG, et. al. 2016) que trata da
“invasão” humana na América do Sul. O texto reconstrói os padrões
espaço-temporais de crescimento da população humana na América do Sul, usando
um banco de dados recém-agregados de 1.147 sítios arqueológicos e 5.464
datações calibradas abrangendo quatorze mil a dois mil anos atrás. Demonstra
que, em vez de uma expansão exponencial constante, a história demográfica dos
sul-americanos é caracterizada por duas fases distintas. Em primeiro lugar, os
humanos se espalharam rapidamente por todo o continente desde 14 mil anos, mas
manteve-se com população baixa até 8.000 anos atrás, incluindo um período de
oscilações (boom and bust) sem crescimento líquido por 4.000 anos. Só com
sedentarismo generalizado a partir de 5,5 mil anos atrás houve uma segunda fase
demográfica de crescimento exponencial da população. A capacidade da humanidade
para modificar seu ambiente e para aumentar acentuadamente a capacidade de
carga na América do Sul é, portanto, um fenômeno recente.
O
estudo estabelece uma base para a compreensão de como os seres humanos
contribuíram para a maior extinção do Pleistoceno de grandes mamíferos, como
preguiças, cavalos e criaturas chamadas gomphotheres. Em seguida, o estudo
considera que, de acordo com outras espécies invasoras, os seres humanos
parecem ter sido submetidos a um declínio da população, consistente com a ideia
da sobre-exploração dos recursos naturais. Mas com o surgimento de sociedades
sedentárias houve novamente crescimento exponencial da população.
Hoje
em dia parece que o crescimento populacional ultrapassou a capacidade de carga
novamente. A pergunta que fica é se os avanços tecnológicos serão capazes de
superar os limites da capacidade de carga ou se a pressão das atividades
antrópicas vai provocar uma grande extinção em massa das espécies endêmicas e
dos demais seres vivos do Planeta.
O
artigo publicado na revista PLoS Biology, em agosto de 2016, estima que o mundo
natural contém cerca de 8,7 milhões de espécies. Mas a grande maioria ainda não
foi identificada. Os autores alertam que muitas espécies serão extintas antes
que possam ser estudadas.
As
estatísticas mostram que as áreas de proteção ambiental cobrem apenas 20
milhões de quilômetros quadrados, ou cerca de 15% do planeta, número que está
abaixo das Metas de Aichi de Biodiversidade, adotadas por mais de 190 países em
2010, que prevê 17% de cobertura em 2020. As Metas de Aichi são consideradas o
maior acordo global sobre biodiversidade em nível mundial e estão voltadas à
redução da perda da biodiversidade, em todo o planeta. Reunidas em cinco
objetivos estratégicos, as 20 Metas de Aichi são assim chamadas, pois foram
definidas durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica
(COP-10), realizada em Nagoya, Província de Aichi, Japão. No entanto, segundo o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as conquistas em
número e tamanho têm de ser acompanhadas de melhoras em sua qualidade, com a
proteção de lugares com maior diversidade biológica.
Nos
últimos 20 anos, o mundo perdeu 3,3 milhões de quilômetros quadrados, ou quase
10%, das suas áreas de natureza não domesticada, isto é, regiões praticamente
intocadas pela ação humana, segundo cálculo do periódico científico “Current
Biology”. Trata-se de uma perda catastrófica da vida selvagem. Em artigo
publicado na revista Science, o biólogo americano Samuel Wasser mostra que
cerca de 50 mil elefantes africanos são caçados por criminosos a cada ano, para
uma população de 500 000 indivíduos. Uma taxa de 10% ao ano pode levar
rapidamente à extinção da espécie.
Para
mudar este quadro, o biólogo Edward Osborne Wilson acredita que o ser humano
está provocando um “holocausto biológico” e para evitar a “extinção em massa de
espécies”, ele propõe uma estratégia para destinar METADE DO PLANETA
exclusivamente para a proteção dos animais. No livro O futuro da Vida, Osborne
faz uma defesa da incrível diversidade de espécies que o Homo sapiens está
destruindo antes mesmo de ter acumulado conhecimento sobre elas.
Como
diz matéria da France Presse (06/11/2014): “O ser humano é, por excelência, a
espécie mais invasora do planeta. Surgiu na África e se expandiu, modificando
todos os ecossistemas”. É uma espécie auto invasora, pois as migrações são
seguidas de dominação e destruição.
A
mesma conclusão é apresentada em interessante artigo de Fábio Olmos, em O Eco
(19/09/2016) que mostra como a dominação do Planeta pelo Homo Sapiens provocou
a extinção de inúmeras espécies nos últimos 50 mil anos. Ele sintetiza o
artigo: “Uma conclusão é que somos a mais destruidora dentre as espécies
exóticas e invasoras, embora não nos listem no catálogo oficial das
espécies-praga danosas à biodiversidade”.
Portanto,
se não tomar cuidado, a humanidade pode ser vítima de seu próprio sucesso,
podendo fracassar devido ao retrocesso das demais espécies, como as abelhas que
são fundamentais para a polinização e a produção de alimentos no mundo. O
parasitismo humano está matando o hospedeiro e provocando um holocausto
biológico. O invasor parasitário geralmente fracassa quando o egoísmo predomina
sobre o altruísmo e se adota uma solução de terra arrasada. (ecodebate)
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