A casa sustentável é mais barata (básico de
sobrevivência)
Na
postagem Reciclagem de edifícios, uma leitora escreveu reclamando sobre os custos de
construir-reformar uma casa para padrões sustentáveis. Fiquei surpresa, porque
a ideia é exatamente o contrário, reduzir os custos e impacto ambiental, o que
reduz os custos de todos nós em longo prazo.
Como
a maioria das pessoas tem a visão de que o produto sustentável é como o
orgânico da agricultura, melhores, mas restritos a uma “minoria bio-chic”,
assumo a partir de hoje o compromisso de publicar uma série de posts dando
exemplos práticos de como tornar sua casa mais verde, ou até totalmente verde,
gastando pouco e com muito estilo. Já que eu trabalho na área e gosto muito do
que faço, vejo como inaceitável uma opção reciclada e marginal ser
mais cara do que o convencional para as massas.
Em tempo, orgânicos também são para todos, vá
numa Feira local e veja como pode até sair mais em conta do que o comprado no
supermercado, eu falo melhor sobre isso na postagem Orgânicos
podem ser mais baratos.
E
mãos à obra:
01.
Você não precisa comprar móveis caríssimos e assinados, produzidos em MDF
oriundo de madeira reflorestada. O
reflorestamento de eucalipto é um mito que devasta às áreas remanescentes de
mata atlântica. Reciclagem é um tripé apoiado em pelo menos 3
conceitos: recusar, reutilizar e só então reciclar.
Compre
móveis de segunda mão, em madeira de lei, nas centenas de lojas, feiras de rua,
antiquários de todo o país e até em sites de leilão. Você terá um móvel melhor,
mais resistente e que já consumiu sua cota de madeira, água e combustível fóssil
na logística de transporte.
Aproveite
para comprar as louças (inglesas), copos (de cristal), talheres (de prata),
objetos de decoração, itens de colecionador, obras de arte e afins nesses
locais – os vendedores sempre dão desconto.
02.
Faça seu aquecedor solar em casa, o custo total da placa é menor do que
sua conta mensal de gás. A Sociedade do Sol ensina em cursos e ainda
disponibiliza uma apostila para download gratuito em seu site.
03.
Reuse todas as águas cinzas da máquina de lavar roupa. O custo total desse
“projetinho doméstico” não passa de R$30,00 e te faz reduzir o consumo de água
doméstico em pelo menos 200 lts por semana.
04.
Adote de uma vez por todas o sanitário de caixa acoplada em comunicação com a
pia. Um sanitário novo custa R$150,00 e pode ter sua tubulação de PVC adaptada
sem precisar quebrar a parede. 60 a 70% do consumo de água em residências é
oriundo dos banheiros.
05.
Se estiver construindo a própria casa, aproveite os leilões de demolição de
casas antigas e compre todas as portas, janelas, sancas, rodameios e rodapés
nesses locais. Caso não vá precisar de algum item, mas se apaixonou por aquela
“porta antiga de fazenda”, leve a porta (janela) assim mesmo e a
transforme num encosto de cama, base para mesa de jantar, biombo separador de
ambiente, moldura para quadros-espelhos ou mesmo a pregue na parede
fazendo dela um quadro imenso e tridimensional. Nesses leilões ou mesmo galpões
de venda de demolição, você pode comprar vitrais, azulejos antigos, tudo em
madeira e até algumas peças em gesso.
06.
Já existem telhas e forros internos totalmente desenvolvidos em pet reciclado
para substituir até compensado naval, prometo buscar um fornecedor e trazer a
informação. Mas não
compre telhas de amianto, por favor.
07.
Se realmente estiver empolgado, tente fazer pelo menos 1 ecotinta caseira, caso
contrário, priorize as tintas comerciais produzidas em base aquosa. Na hora de
descartar, lembre que as
latas de tinta não reciclam, são lixo cinza,
e as transforme em vasos de planta. Um bom pretexto para começar outra boa
prática ambiental doméstica, uma horta caseira.
08. Garrafas de vidro, especialmente as de vinho
(azuis e verdes), viram lindos vitrais se encaixadas inteiras na alvenaria,
como um tijolo de vidro. Basta o executante fazer um desenho interessante. Veja
02 exemplos usando garrafas em construção e decoração nas postagens Se
essa rua fosse minha, Michael
Reynolds, Garbage Warrior: a bioarquitetura do Novo México, A
vila colombiana totalmente construída em adobe com pet e garrafas de vidro.
09.
Telhado verde, o Instituto IPEMA
e a Rede Permear dão cursos
muitas vezes gratuitos.
10.
Coletar água da chuva é mais fácil do que parece, toda laje é naturalmente inclinada
para facilitar o escoamento da chuva, basta instalar uma calha e na saída da
calha, uma cisterna.
11.
Retalhos, cortinas, toalhas de renda e afins. Você pode usar até lona de
caminhão higienizada para forrar uma cama box velha e existem centenas de cooperativas
reaproveitando retalhos, colchas parcialmente rasgadas, toalhas de renda
parcialmente manchadas vendidas em brechó e até sacos de café para fazer
cortinas, almofadas, forrar cadeiras e poltronas. Os tecidos são limpos,
tingidos e cortados, parecendo novos. Um dos grandes problemas de nosso tempo é
que tudo vem com muita embalagem e o artesanato local inclui socialmente a
população desempregada quando reaproveita essas embalagens. O melhor exemplo
brasileiro, na minha opinião, é a Tem quem queira,
cooperativa de presidiários que reaproveita outdoors para fazer bolsas
exclusivas, os detentos já saem da carceragem com outra expectativa
profissional. Você pode usar o exemplo deles e fazer do outdoor descartado um
papel de parede alternativo para uma única parede numa sala toda branca.
Lembro sempre também da mãe de uma amiga de
infância que, deprimida e cheia com os 2 filhos rapazes e adolescentes,
arrancou a rede da varanda (eles colocavam o pé sujo em cima) e a
transformou numa cortina longa que dispensava blackout.
12.
Tente enxergar tudo que encontrar com outros olhos. Para quem pensa
“verde” até caixote de feira, gaveta, lata de tinta usada e pote de geleia podem
ser reutilizados e virar móveis interessantes. Visitar uma Ecovila pode te
ajudar a exercitar esse olhar e ainda te colocar em contato com pessoas
incríveis. A cadeira de ecodesign assinada e feita em tiras de pneu
de bicicleta retorcidas que hoje é sonho de consumo, já foi apenas isso: alguém
que enxergou o lixo de forma diferente e deu um destino àquilo.
Para
encerrar, eu não tenho nada contra o badalado ecodesign, mas faço do mesmo uma
opção de luxo para ocasiões especiais, até porque acredito que a
sustentabilidade tem que ser para todos. Se você pode pagar o triplo do valor
do sofá das Casas Bahia num sofá em ecodesign assinado e peça única,
vá em frente, as peças são lindas e a vida é uma só (até que provem o
contrário). Mas sustentável mesmo é o sofá da casa da vovó depois de reformado,
lembre-se antes de passar o cartão na loja. (ecodebate)
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