Aquecimento global e aumento do calor extremo no hemisfério
Norte
A
maior parte dos incêndios florestais dos EUA acontecem na metade ocidental do
país porque os solos e a vegetação são geralmente mais secos. À medida que as
temperaturas aumentam a partir do aumento dos gases de efeito estufa, as taxas
de evaporação do solo aumentam, o que pode piorar a seca e desidratar a
vegetação, criando combustível suficiente para queimadas. Condições climáticas
mais quentes e mais secas também possibilitam que os incêndios florestais se espalhem
por grandes áreas. Os incêndios florestais são muito caros e tem dobrado de
preço, aumentando o orçamento do Serviço Florestal dos EUA.
O
aquecimento global é uma realidade inquestionável. Artigo do jornalista David
Wallace-Wells, denominado “A Terra inabitável” (09/07/2017), publicado na
revista New York Magazine (NYMag), apresentou uma visão catastrófica do efeito
do crescimento das atividades antrópicas sobre os ecossistemas e as mudanças
climáticas. O subtítulo diz do que se trata: “Fome, colapso econômico e um sol
que nos cozinha: o que as mudanças climáticas podem causar – mais cedo do que
você pensa”. Evidentemente, o autor está tratando de um cenário extremo e de
baixa probabilidade, mas que pode ocorrer se nada for feito para mudar os rumos
da insustentabilidade do crescimento econômico e suas externalidades
ambientais.
Os dados
são inequívocos ao mostrar o aumento do aquecimento da temperatura global. O
tempo mais quente é propício aos eventos climáticos extremos, como os furacões
que atingiram o Texas e a Flórida, nos Estados Unidos. Em artigo anterior
analisamos os efeitos do furacão Harvey (Alves, 04/09/2017). Em um próximo
artigo vamos analisar os efeitos do furacão Irma.
No momento
abordaremos os efeitos do calor extremo no hemisfério Norte. Verões
extraordinariamente quente eram praticamente inéditos na década de 1950 no
hemisfério Norte e tornaram-se comuns. Os eventos extremos do verão deste ano
de 2017, como as ondas de calor que circulam pelo sul da Europa e as
temperaturas próximas a 130°F no Paquistão, fazem parte desta nova tendência
mais ampla.
Matéria do
jornal New York Times, mostra o gráfico acima, baseado em dados de James
Hansen, cientista de clima da NASA aposentado e professor na Universidade de
Columbia, indica como as temperaturas do verão mudaram para o calor mais
extremo nas últimas décadas.
Para criar
as curvas normais, Dr. Hansen e dois colegas compararam as temperaturas reais
do verão para cada década desde a década de 1980 até uma média de linha de base
fixa. Durante o período de base, 1951 a 1980, cerca de um terço dos verões em
todo o Hemisfério Norte estavam no que chamavam de “média próxima” ou faixa
normal. Um terço foi considerado frio e um terço estava quente.
Desde
então, as temperaturas do verão mudaram drasticamente. Entre 2005 e 2015, dois
terços dos verões estavam na categoria quente, enquanto quase 15% estavam em
uma nova categoria: extremamente quente. Praticamente, isso significa que a
maioria dos verões hoje são quentes ou extremamente quentes em relação ao meio
do século passado.
Os sete
primeiros meses de 2017 constituem o segundo período mais quente da série
1880-2017. Talvez o mês de agosto de 2017 seja o mais quente já registrado. O
aquecimento global já está afetando as atuais gerações e causando muitos
prejuízos. Enquanto o Brasil e partes do hemisfério Sul apresentam temperaturas
mais amenas no inverno, as ondas mortais de calor afetaram bastante o
hemisfério Norte.
Um dos
efeitos mais imediatos do aumento da temperatura no hemisfério Norte foi o
aumento dos incêndios florestais. Nos primeiros sete meses de 2017, as
queimadas já destruíram mais de 2,5 milhões de hectares nos EUA, representando
38% mais do que a superfície média queimada na última década, conforme mostra o
site Climate Central.
Na Europa,
onda de calor, denominada Lúcifer, “assa” as pessoas e incêndios devastam a
Espanha. Dez países do sul e da Europa Central declararam alerta vermelho após
a onda de calor ‘Lucifer’ atingir temperaturas a cima de 40ºC, em várias
cidades, com os cientistas avisando que o calor extremo poderia matar 152 mil
pessoas por ano até 2100.
No extremo leste
do Irã, as temperaturas atingiram um pico de 52,8°C (127°F) na base militar de
Konarak e 52,6°C (126,7°F) na aldeia de Renk, superando o registro da maior
temperatura já registrada em maio No Irã (50,5°C em Bostan em maio de 1999) e
aproximando-se da maior temperatura confiável já registrada no Irã, a 53°C. Em
Omã, onde os registros foram de 50,8°C (123,4°F).
O calor
extremo ameaça transformar o sul da Ásia, onde vive um quinto da humanidade, em
um lugar inabitável até 2100 se não forem tomadas medidas para reduzir os gases
de efeito estufa. O aumento das temperaturas e da umidade no verão poderia
alcançar níveis que superam a capacidade humana de sobreviver sem proteção.
Estas ondas de calor mortal serão muito fortes na Índia, Paquistão e Bangladesh,
incluindo as bacias férteis dos rios Indo e Ganges.
Para evitar
o pior cenário, todas as pessoas e todos os países precisam mudar completamente
o estilo de vida e o mundo precisa caminhar rumo ao decrescimento
demoeconômico, para evitar a hipertermia do Planeta. As dimensões dos furacões
Harvey e Irma foram potencializadas pelo aquecimento global e as ondas de calor
do hemisfério norte. Em um próximo artigo vamos analisar as consequências do
furacão que atingiu o Caribe e a Flórida. (ecodebate)
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