Análise
de políticas climáticas mundiais mostra que países estão muito aquém das metas
para frear aquecimento global.
No
cenário climático global, que demanda uma mudança urgente de paradigma, uma
avaliação “mediana” não pode ser considerada positiva. Ainda mais quando essa
análise não leva em conta o efeito destrutivo de políticas atualmente em curso
ou “em vias de”, num futuro bem próximo. No Brasil, o governo manteve a
priorização aos combustíveis fósseis na matriz energética, com 70% dos recursos
da próxima década destinados a carvão, petróleo e gás. Além disso, o presidente
Michel Temer quer aprovar uma Medida Provisória que dará incentivos fiscais trilionários às
empresas petrolíferas.
Representante de uma pequena ilha do Pacífico severamente ameaçada
pelo aumento do nível do mar, o Primeiro Ministro da República de Fiji e
Presidente da COP 23, Frank Bainimarama, afirmou na abertura da conferência que
“todos estamos na mesma canoa.” Sua mensagem traz a ideia de que o problema do
aquecimento global afeta democraticamente a todos e, portanto, também deve ser
resolvido de forma global, com ações conjuntas e compromissos de todas as
partes. No entanto, o Índice de Desempenho Climático 2018, apresentado dia 15/11/17 em
Bonn, na Alemanha, dá mostras de que isso, na prática, não está ocorrendo.
Elaborado pelas organizações Germanwatch, New Climate Institute e
Climate Action Network (CAN), o relatório analisou a performance das políticas
climáticas da União Europeia e mais 56 países, que juntos respondem por mais de
90% das emissões mundiais de gases do efeito estufa. O resultado aponta que
“nenhum país está fazendo o suficiente para prevenir as perigosas alterações no
clima.” Por esse motivo, ninguém ocupou as posições um a três no ranking.
Dentre os países latinos, apenas Brasil, México e Argentina foram
analisados. Estes ficaram, respectivamente, na 19ª, 27ª e 46ª colocações.
Brasil e México foram avaliados como medianos e Argentina como “muito abaixo”
das metas. Suécia, Marrocos, Lituânia, Noruega e Reino Unido lideram a lista;
Estados Unidos se encontra em queda livre, ocupando a 56a posição, somente
acima de Austrália, Coreia do Sul, Irã e Arábia Saudita.
“Dois anos depois de concordar em limitar o aquecimento global
abaixo de 2°C, com esforços para chegar a 1,5°C, ainda vemos uma enorme lacuna
entre a ambição das metas de redução dos gases de efeito estufa dos países e
seu progresso em relação a uma real implementação do Acordo de Paris nas
legislações nacionais”, atesta o relatório.
Mas nem só de negatividade se faz o documento. Segundo a análise,
“existem sinais encorajadores de que uma transição energética global está em
andamento.” Os números mostram que os investimentos em energias renováveis
continuam a dominar os novos investimentos no sistema energético em todo o
mundo. Além disso, em 2014, 2015 e 2016 as emissões globais de carbono no setor
de energia não cresceram, o que não acontecia desde a revolução industrial, em
anos sem uma grande crise econômica.
América Latina de mal
a pior
Análise de políticas climáticas mundiais mostra que
países estão muito aquém das metas para frear o aquecimento global.
“Os incentivos do governo brasileiro à indústria fóssil revelam uma
postura totalmente favorável às energias sujas e ao retrocesso. Para cumprir
com as metas de combate ao aquecimento global, o Brasil precisa deixar todas as
reservas de petróleo e gás no chão e redirecionar os recursos públicos e
privados para iniciativas de energias renováveis, justas e livres”, defendeu
Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora de 350.org Brasil e América Latina.
Seguindo no mesmo sentido, o governo de Maurício Macri, na
Argentina, pretende aprofundar o modelo de energia baseado em fontes sujas,
principalmente hidrocarbonetos não convencionais, como o gás de xisto, que
trazem um alto custo ambiental e social. “A Argentina tem avanços positivos com
relação às energias renováveis, como a Lei de Regime Nacional de Geração
Distribuída de Energias Renováveis, que está em tramitação no Senado. Mas ao
mesmo tempo pretende aprofundar o modelo de extração de hidrocarbonetos através
da técnica poluente do fracking, como é o
caso da região de Vaca Muerta”, afirmou Juan Pablo Olsson, coordenador de
campanhas climáticas da 350.org Argentina e colaborador do relatório.
No
México, o governo de Enrique Peña Nieto também avança com o aprofundamento do
modelo extrativista, promovendo a mega mineração e a extração de
hidrocarbonetos não convencionais. De acordo com informações atualizadas, 3.780 poços já foram
perfurados através do método do fracking,
enquanto ativistas, pesquisadores e organizações ambientais alertam sobre os
danos ambientais e sociais desse tipo de exploração. (ecodebate)
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