Os três países mais populosos possuem os três maiores
déficits ambientais.
“Precisamos
pegadas menores, mas também precisamos de menos pés”.
- (Enough is Enough, 2010)
Nos últimos
250 anos, o progresso humano tem ocorrido às custas do regresso ambiental e o
enriquecimento da humanidade tem ocorrido em função do empobrecimento da
biodiversidade. O impacto negativo sobre o meio ambiente é tanto maior quanto
cresce o tamanho da população e o volume de produção e consumo.
Não por
coincidência os três países que apresentam os maiores déficits ambientais são
também os três países mais populosos do mundo, como mostram os dados da Pegada
Ecológica e da Biocapacidade da Footprint Network.
A Pegada
Ecológica é uma metodologia que mede o impacto humano sobre as áreas terrestres
e aquáticas, consideradas biologicamente produtivas e necessárias à
disponibilização de recursos ecológicos e serviços, como alimentos, fibras,
madeira, terreno para construção e para a absorção do dióxido de carbono (CO2)
emitido pela combustão de combustíveis fósseis etc. A biocapacidade mede a
quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta
e pesca – disponível para responder às necessidades da humanidade.
O país mais
populoso do mundo em 2013 era a China com uma população de cerca de 1,4 bilhão
de habitantes. A Pegada Ecológica que estava abaixo da Biocapacidade até final
da década de 1960 subiu rapidamente e transformou a China no país com o maior
déficit ambiental do mundo. Em 2013, a Pegada Ecológica total chinesa era de 5
bilhões de hectares globais (gha) para uma Biocapacidade de 1,3 bilhão de gha.
Portanto, o déficit ambiental era de impressionantes 3,7 bilhões de gha, em
2013.
A Pegada
Ecológica per capita da China era de 3,6 gha em 2013, pouco acima da média
mundial, mas muito abaixo da média das economias avançadas. Portanto, o que
mais contribui para o enorme déficit ambiental da China é o grande volume da
população.
Os Estados
Unidos (EUA) apresentam o segundo maior déficit ambiental do mundo. A Pegada
Ecológica estadunidense tem estado acima da Biocapacidade desde a década de
1960. Em 2013, a Pegada Ecológica total dos EUA era de 2,7 bilhões de hectares
globais (gha) para uma Biocapacidade de 1,2 bilhão de gha. Portanto, o déficit
ambiental era de 1,5 bilhão de gha.
A Pegada
Ecológica per capita dos EUA era de 8,6 gha em 2013, bem acima da média
mundial. Com uma população pouco acima de 300 milhões, fica claro que o que
mais contribui para o elevado déficit ambiental dos EUA é, principalmente, o
volume do consumo.
A Índia é o
segundo país mais populoso do mundo com uma população de cerca de 1,35 bilhão
de habitantes em 2013. A Pegada Ecológica total indiana também tem estado acima
da Biocapacidade desde a década de 1960. Em 2013, a Pegada Ecológica total da
Índia era de 1,36 bilhão de hectares globais (gha) para uma Biocapacidade de
557 milhões de gha. Portanto, o déficit ambiental era de 703 milhões de gha.
A Pegada
Ecológica per capita da Índia de 1,1 gha, em 2013, estava bem abaixo da média
mundial. Mesmo com nível de consumo baixo, o déficit ambiental da Índia é
claramente devido ao tamanho da população.
Portanto, o
déficit ambiental ocorre pelo elevado volume populacional ou pelo elevado
volume do consumo. Para reduzir o déficit é preciso reduzir a pegada ecológica,
mas também o número de pés. É um equívoco achar que o déficit ambiental global
se deve, fundamentalmente, aos países ricos e de elevado consumo. Na realidade
a situação é mais grave.
A tabela
abaixo mostra que a população mundial era de 7,08 bilhões de habitantes em 2012
e tinha uma pegada ecológica per capita de 2,84 hectares globais (gha) e uma
biocapacidade de 1,7 gha. No total, a pegada ecológica mundial era de 20,1
bilhões de gha e a biocapacidade total era de 12,5 bilhões de gha. O déficit
ecológico era de 7,9 bilhões de gha em 2012.
A pegada
ecológica per capita dos países de alta renda (desenvolvidos) foi de 6,2 gha,
em 2012, para uma população de 1,1 bilhão de habitantes, o que representava uma
pegada total de 6,8 bilhões de gha. A biocapacidade per capita era de 3,2 gha e
um montante de 3,5 bilhões de gha. Portanto, os países de alta renda tinham um
déficit ecológico de 3,3 bilhões de gha. Os países ricos tinham cerca de 15% da
população mundial, mas eram responsáveis por aproximadamente 42% do déficit
ecológico total.
Sem dúvida,
o alto consumo dos países desenvolvidos pressiona a pegada ecológica do mundo.
Mas mesmo numa situação hipotética de eliminação destes países ricos da
contabilidade ambiental, o mundo continuaria numa situação de déficit, mesmo
que menor, de 3,9 bilhões de hectares globais (gha).
Portanto,
mesmo eliminando os países ricos do cálculo da Pegada Ecológica mundial as
atividades antrópicas do resto da população do globo continuam superiores à
capacidade de regeneração da biosfera. Os cálculos acima não tiram as
responsabilidades dos países desenvolvidos como os maiores poluidores do
Planeta. Apenas mostram a real dimensão dos problemas causados pelos tamanhos
do consumo e da população.
É
compreensível que as populações dos países pobres aspirem níveis mais elevados
de desenvolvimento e consumo. Mas reproduzir o modelo dos países ricos e
poluidores seria um desastre total. Também é compreensível que as camadas
populacionais excluídas do mundo lutem por melhores escolas, hospitais,
transporte público, lazer e outros direitos de cidadania. Mas não é aceitável e
nem viável se promover o desenvolvimento humano às custas do empobrecimento do
Planeta e da biodiversidade.
O fato é
que as populações dos países ricos consomem além de qualquer medida de
sustentabilidade e os países em desenvolvimento, mesmo com um nível de consumo
menor, possuem um tamanho de população que faz elevar o déficit ecológico. A
única forma de equacionar o dilema da insustentabilidade global é caminhar para
um mundo com menos gente, menos consumo, menor desigualdade social e maior
qualidade de vida humana e ambiental.
Por isto, o
livro Enough is Enough (2010), com prefácio de Herman Daly, diz: “We need
smaller footprints, but we also need fewer feet” (“Precisamos pegadas menores,
mas também precisamos de menor número de pés”, p. 12).
Só com o
decrescimento demoeconômico poderemos sair da situação da superpopulação e do
superconsumo, evitando a sobrecarga ambiental. A Terra não aquenta a overdose
de atividades antrópicas. Sem ECOlogia não há ECOnomia. (ecodebate)
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