Attenborough: a humanidade é uma praga que está destruindo
o Planeta
Considerando aqui o cenário de expectativa de vida de 90 anos (Eo = 90), a população mundial em 2300, dependendo da Taxa de Fecundidade Total (TFT), pode variar de praticamente zero a 71 bilhões de pessoas, como mostra o gráfico abaixo:
Considerando aqui o cenário de expectativa de vida de 90 anos (Eo = 90), a população mundial em 2300, dependendo da Taxa de Fecundidade Total (TFT), pode variar de praticamente zero a 71 bilhões de pessoas, como mostra o gráfico abaixo:
As
preocupações de David Attenborough são pertinentes, pois o crescimento da
presença humana na Terra é insustentável, conforme atestam as últimas notícias.
Um terço do solo do Planeta está severamente degradado e o solo fértil está
sendo perdido a uma taxa de 24 bilhões de toneladas por ano, de acordo com o
estudo “Perspectiva Global de la Tierra (GLO)” da ONU. A insegurança alimentar
que vinha se reduzindo no mundo na última década, voltou a crescer e afetou 815
milhões de pessoas em 2016, o que representa 11% da população mundial.
Múltiplas formas de má nutrição ameaçam a saúde de milhões de pessoas. O
aumento foi de mais 38 milhões de pessoas em relação ao ano anterior, em grande
parte, devido à proliferação de conflitos de guerra e mudanças climáticas,
segundo o relatório da FAO: “Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no
Mundo 2017”.
“O crescimento exponencial
infinito das atividades econômicas é
um suicídio para a humanidade” - David Suzuki.
David
Attenborough, renomado naturalista britânico e apresentador de TV que inovou na
defesa do ambientalismo, lançou um alerta pessimista sobre a influência
predadora dos seres humanos na redução da biodiversidade da Terra e na
destruição dos ecossistemas: “Somos uma praga na Terra” (“We are a plague on
Earth”).
Attenborough
acredita que o crescimento da população humana, somado ao crescimento da
produção e do consumo e do aumento da poluição e dos resíduos sólidos, reduzirá
a disponibilidade de solo e água para a produção de alimentos e deve acirrar a
disputa por espaço com as demais espécies vivas da Terra.
A
humanidade (com seu estilo de vida e a incessante acumulação de capital e
riqueza) se tornou uma força implacável de destruição que não respeita o
compartilhamento do mundo com outras criaturas. Attenborough diz: “Ou limitamos
nosso crescimento populacional ou o mundo natural vai fazer isso por nós, e, de
certa forma, a natureza já está fazendo isso para nós agora”.
O rápido
crescimento da economia e da população está tornando muito difícil para o mundo
conciliar as demandas humanas com os desafios ambientais. Infelizmente, não
existe uma discussão real sobre a realidade da superpopulação. Ele diz: “Nós
não podemos continuar sustentando altas taxas de crescimento demográfico,
porque a Terra é finita e não se pode colocar o infinito em algo que é finito”.
Attenborough
também adverte que simplesmente reconhecer os problemas não é suficiente, pois
é necessário ação. Ele considera que é preciso universalizar os serviços de
saúde reprodutiva e investir na educação sexual em todo o mundo, garantindo às
mulheres mais controle político sobre seus corpos e acesso aos meios
voluntários de regulação da fecundidade, especialmente nos países onde são
altas as taxas de gravidez indesejada.
De fato, o
futuro da população mundial está em aberto e pode haver um decrescimento
demográfico no mundo se houver uma queda relativamente pequena nas taxas de
fecundidade. Uma pequena redução do número médio de filhos por mulher pode
representar uma diferença de bilhões de pessoas no longo prazo.
Pesquisadores
do International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA), na Áustria,
realizaram projeções de longo prazo (2000 a 2300) da população mundial para os
cenários do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). As projeções por
idade e sexo levaram em consideração um amplo conjunto de hipóteses de
fecundidade e três cenários de mortalidade com base em expectativa de vida
máxima de 90, 100 e 110 anos. Em artigo publicado na Demographic Research, em
30 de maio de 2013, os demógrafos Stuart Basten, Wolfgang Lutz e Sergei
Scherbov apresentam uma síntese do relatório.
A população
mundial em 2000 era de 6,05 bilhões de habitantes. Se a TFT permanecer no nível
de 2,5 filhos por mulher, o número de habitantes globais chegaria a 71 bilhões
de pessoas em 2300.
Se a TFT
global cair para 2 filhos por mulher (aproximadamente a taxa de reposição), a
população mundial chegaria a 9,0 bilhões de habitantes em 2300. Uma queda da
taxa de fecundidade para 1,75 filhos por mulher faria a população mundial
chegar a 2,74 bilhões de habitantes em 2300. Uma TFT de 1,5 filhos por mulher
resultaria em uma população mundial de 720 milhões de habitantes em 2300. Uma
TFT abaixo de 1 filho por mulher levaria a uma população inferior a 30 milhões
de habitantes.
Como
exemplo, o Brasil tem atualmente uma TFT próxima de 1,75 filhos por mulher.
Diversos países (inclusive a China) possuem taxas de fecundidade ainda menores.
Caso a fecundidade média do mundo fique no mesmo nível da TFT atual do Brasil,
haveria um decrescimento da população mundial para menos da metade dos 7,5
bilhões de habitantes atuais. Portanto, o ambientalista David Attenborough, tem
razão em dar ênfase à discussão do planejamento reprodutivo para reduzir o
número de pessoas e a pegada ecológica da humanidade.
Em parte, a
fecundidade mundial só não cai mais rápido devido ao alto percentual de
gravidez indesejada. O Guttmacher Institute publicou, em junho de 2017, um novo
estudo apontando para o não atendimento da demanda por métodos contraceptivos
nas regiões em desenvolvimento. O estudo mostra que, nos países em
desenvolvimento, 214 milhões de mulheres querem evitar a gravidez, mas, por
diversas razões, não tem acesso aos métodos modernos de contracepção. Além
disso, dezenas de milhões de mulheres não têm acesso a cuidados básicos durante
a gravidez e o parto, necessários para protegerem sua saúde e a saúde dos
recém-nascidos. O atendimento aos direitos reprodutivos pode contribuir para
desacelerar o incremento demográfico (Darroch, 2017).
No dia
13/11/2017, foi publicada uma carta na revista BioScience, assinada por 15.372
cientistas de 184 países, com o título: “Advertência dos Cientistas à
Humanidade: Segundo Aviso”. Trata-se de um verdadeiro alerta para a humanidade
que segue um rumo de desenvolvimento insustentável. Em relação ao crescimento
populacional a carta diz o seguinte:
– reduzir
ainda mais as taxas de fecundidade, garantindo que as mulheres e os homens
tenham acesso à educação e a serviços de planejamento familiar voluntário,
especialmente onde tais serviços ainda não estão disponíveis.
– estimar
um tamanho de população humana cientificamente defensável e sustentável em
longo prazo, reunindo nações e líderes para apoiar esse objetivo vital, para
evitar miséria generalizada e a perda catastrófica de biodiversidade.
Portanto,
os alertas estão dados. Aumentar a escala antropogênica é irracional e
arriscado. Para evitar um desastre social, demográfico e ambiental é preciso
evitar que cada vez mais pessoas caem no vício do consumismo e caminhar rumo ao
decrescimento demoeconômico. A solução passa por uma mudança de paradigma do
modelo econômico e pela redução da sobrecarga do Planeta. E como bem mostra o
livro “Enough is Enough” (2010), não basta reduzir a pegada ecológica per
capita, também é preciso reduzir o número de pés, diminuindo a presença ecúmena
e aumentando as áreas anecúmenas. (ecodebate)
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