“Acreditar
que o crescimento econômico exponencial pode continuar infinitamente
num mundo finito é coisa de
louco ou de economista” - Kenneth Boulding (1910-1993)
O
desenvolvimento econômico chegou a uma encruzilhada e a ideia de um
desenvolvimento sustentável virou um oximoro. Desde que a humanidade
ultrapassou a capacidade de carga do Planeta o crescimento da produção de bens
e serviços, quando contabilizado as agressões ao meio ambiente, virou um
“crescimento deseconômico”, como mostrou Herman Daly. Nenhuma indústria seria
lucrativa se tivesse de pagar pelo capital natural.
O progresso
humano ocorreu de forma lenta na maior parte da história, mas adquiriu uma dimensão
exponencial nas últimas sete décadas, com a aceleração das atividades
antrópicas do pós-guerra. Incentivada pela busca frenética do lucro na economia
capitalista, pelo petróleo barato e pelo desenvolvimento tecnológico, a
expansão da produção de bens e serviços contribuiu para uma melhoria
significativa na qualidade de vida de bilhões de pessoas. Houve redução da
miséria e dos níveis de pobreza, assim como a melhoria dos indicadores de
saúde, de educação e de bem-estar.
Porém, o
crescimento econômico ocorreu com base no uso insustentável de recursos
não-renováveis, na redução da biodiversidade, na concentração de dióxido de
carbono na atmosfera e na acidificação dos oceanos, além de ter gerado fossos
cada vez maiores entre ricos e pobres. Com o aprofundamento do processo de
globalização, avistam-se graves crises ambientais e sociais, enquanto a
trajetória da própria economia também apresenta sinais de exaustão do modelo
hegemônico.
A ciência
já determinou de forma incontestável que várias fronteiras ecológicas globais
estão sendo ultrapassadas, abrindo a probabilidade de transformações bruscas e
incontroláveis na esfera planetária se não houver mudanças significativas e
urgentes na trajetória da nossa civilização. O atual momento histórico, marcado
por profundas crises ecológicas, econômicas e sociais, exige repensar essa
situação à luz dos limites sendo impostos pela própria natureza.
Celso
Furtado, no livro, “O mito do desenvolvimento econômico”, de 1974, pergunta o
que acontecerá se o desenvolvimento econômico se universalizar e responde de
forma clara: “se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos não renováveis e
a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou alternativamente, o custo
do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico mundial
entraria necessariamente em colapso” (Furtado,1974, p. 19).
Furtado
tinha razão, pois nos últimos 50 anos a Pegada Ecológica ultrapassou a
Biocapacidade do Planeta e a humanidade já utiliza cerca de 1,7 planeta para
manter o seu padrão de vida. O progresso humano ocorre às custas do regresso
ambiental. Mas sem ECOlogia não há ECOnomia.
Portanto, o
mundo precisa diminuir as atividades antrópicas para caber dentro da capacidade
de carga do Planeta. Ou dito de outra forma: precisa reduzir a pegada ecológica
para caber na biocapacidade do Planeta. Ou ainda: precisa reduzir as atividades
demoeconômicas para não ultrapassar as fronteiras planetárias.
Decrescimento
não é sinônimo de “crescimento negativo” ou “recessão”. Por exemplo, quando se
troca as lâmpadas incandescentes por lâmpadas de LED, há uma diminuição do
gasto de energia, sem perda de acesso de qualidade à energia elétrica. O
decrescimento é compatível com qualquer tipo de organização social que se
propõe a reduzir a ENTROPIA.
É possível
haver decrescimento das atividades mais poluidores e degradadoras do meio
ambiente, gerando emprego e renda e sem travar o desenvolvimento tecnológico,
caso se altere o padrão de produção e consumo, conforme mostram os exemplos
abaixo:
1) Dieta
Vegetariana: a mudança de uma dieta cárnea para uma dieta vegetariana (ou
vegana) pode reduzir a pegada ecológica, pois a pecuária é uma atividade muito
poluidora, que provoca desmatamento e emite grande quantidade de gás metano;
2) Mudança
da matriz energética: o fim do uso dos combustíveis fósseis (grandes emissores
de CO2) e o uso de 100% de energias renováveis pode gerar empregos e
renda ao mesmo tempo que se reduz a pegada energética;
3)
Transição da indústria automobilística do motor a combustão para o motor
elétrico e o surgimento do carro autônomo e compartilhado. A produção de
automóveis particulares pode cair, reduzindo os engarrafamentos e aumentando a
satisfação dos consumidores.
O
sistema de produção e consumo hegemônico (capitalista ou socialista) não
consegue ser, ao mesmo tempo, economicamente inclusivo, socialmente justo e
ambientalmente sustentável. Por isto é pouco provável que a continuidade do
crescimento das atividades antrópicas mantenha de pé as três bases do tripé da
sustentabilidade, que na verdade se transformou em um trilema. De fato, só o
decrescimento demoeconômico poderá garantir o equilíbrio homeostático da
economia e do ambiente. (ecodebate)
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