quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Disponibilidade Hídrica e Áreas de Conservação

Disto todo mundo já sabe, ou então infere facilmente. Site do portal Brasil assevera que criar e manter unidades de conservação (UCs) da natureza nas áreas urbanas pode ser uma resposta para a falta de água. A escassez está associada a fatores como a carência de planejamento dos assentamentos urbanos, os equívocos no manejo do uso da água, a utilização de equipamentos urbanos de distribuição ineficientes e responsáveis por enormes desperdícios, e a pouca consciência do brasileiro em relação à escassez deste recurso.
A avaliação foi feita pelo biólogo e ex-diretor do Departamento de Áreas Protegidas (DAP) do Ministério do Meio Ambiente, Sérgio Henrique Collaço de Carvalho ao portal Brasil.
A existência de unidades de conservação dentro das cidades e no entorno das aglomerações urbanas, ajudaria na estabilização dos ciclos hidrológicos e regimes de precipitação de chuvas e reteria água no subsolo e lençóis freáticos. O desmatamento e a impermeabilização do solo fazem com que a água da chuva chegue mais rápido aos cursos d’água e ao mar, além de modificar o regime de precipitação.
Resgatar áreas de conservação no perímetro urbanizado de cidades e aglomerações, de certa forma patrocina a reequilíbrio dos ecossistemas locais, auxiliando na recomposição dos ciclos hidrológico e pluviométrico, ao menos em escala local.
”Esses fatores influenciam no clima, provocando períodos de estiagem, com escassez de água e crise de abastecimento, sendo que, imediatamente depois, vem o período de chuvas, acarretando alagamentos e a ideia de abundância do recurso”, explica Collaço.
Quem vive no Nordeste tem uma percepção mais realista sobre a necessidade de se poupar o recurso, lembra Collaço: “Só o nordestino tem essa percepção e está acostumado com a escassez de água.”

À exceção do Nordeste, as demais regiões não têm essa consciência, avalia o diretor do DAP/MMA. Segundo ele, no País, boa parte das cidades não reservou espaços para UCs, que ajudam na reserva e provimento de água, como ocorre em cidades planejadas como Brasília.
As UCs favorecem a recarga de água nos reservatórios. “Em áreas desflorestadas e asfaltadas, a água que cai no chão impermeabilizado, sem vegetação nativa ou com pasto, corre muito rápido para dentro dos corpos hídricos, escorre e vai embora, em direção a alguma bacia hidrográfica e segue para o mar, ou pode cair num reservatório, que tem superfície muito grande e onde muita água se perde por evapotranspiração”, acrescenta.

No fundo é uma reconstituição ecossistêmica muito localizada. Mas que apresenta resultados positivos e satisfatórios.
Num ambiente natural, diz ele, o quadro é outro. ”A água cai nas folhas, há a colaboração do sombreamento, criando um ambiente no qual a água penetra muito mais lentamente no solo e no corpo hídrico, infiltrando mais e fazendo a recarga de mananciais e do sistema superficial, o que garante sua provisão ao longo do tempo”, salienta. E assevera, “Nessa situação, mais favorável, quando acaba o período de chuva ainda existe água no subsolo, vertendo nas nascentes e chegando aos cursos d’água.”
Sérgio Collaço insiste: as UCs são espaços especialmente protegidos e a principal estratégia de conservação da biodiversidade. “Quando delimitada, é usada como fonte e reserva de recurso natural, além de preservar a paisagem. ”É assim em todo o mundo”, exemplifica.
“De forma planejada, uma UC garante a conservação da biodiversidade, estoca recurso natural para se fazer manejo sustentável de longo prazo, sob vários graus de restrições do acesso aos recursos naturais ali existentes”, afirma o biólogo.
O conceito de Unidade de Conservação surgiu no Brasil ainda na década de 1930, ganhando força no final dos anos 1970 e novamente nos anos 1990 e 2000.
“A questão é que a maior parte das áreas de conservação da biodiversidade está fora das áreas urbanas e distantes da população, em ambientes rurais remotos, como na própria Amazônia, nos rincões do Jalapão, ou em outros lugares”, lamenta Collaço.
Isto não resolve os problemas das populações urbanas, hoje amplamente hegemônicas no país. No caso de São Paulo, por exemplo, já se cansou de ouvir dos responsáveis que ao menos nas áreas de reservatórios e de coleta de água, se providenciaria reflorestamento e reconstituição ecossistêmica imediata.
No caso da crise hídrica, o fim da resiliência, que é a capacidade de se adaptar ou evoluir positivamente na adversidade, está associado ao fim das áreas naturais e a alteração drástica do ambiente que poderia armazenar água da chuva.
Exemplo da influência das unidades de conservação no abastecimento público é a capital do país, que possui amplos espaços de preservação que garantem a qualidade do abastecimento, quase todo proveniente de UCs.
São exemplos o sistema Santa Maria-Torto, que fica localizado no Parque Nacional de Brasília e abastece a parte norte da cidade e o sistema de Sobradinho que fica na reserva biológica da Contagem. São sistemas que há anos, possuem tanto qualidade quanto volume de água. Collaço garante que “São sistemas bem estáveis e que flutuam muito menos em função do regime de chuvas do que os sistemas localizados fora de UCs”.
Além destes, o sistema do Descoberto foi protegido pela gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) de mesmo nome, hoje sob gestão do Instituto Chico Mentes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sendo que esta APA garantiu a boa gestão do uso do solo desde sua criação na década de 1980.
Se deseja que o exemplo de Brasília, que na verdade não foi tão planejado assim, mas enfim, que se torne paradigma a ser seguido pelas grandes aglomerações urbanas do país. (ecodebate)

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