Diminuir número de veículos é o melhor caminho para reduzir
a poluição do ar em grandes metrópoles.
A poluição
do ar é um problema clássico em grandes metrópoles. Uma pesquisa do Programa de
Geografia Física da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
da USP mostrou que aumentar áreas verdes pode ajudar, mas que uma melhoria da
qualidade do ar passa principalmente por diminuir a emissão de poluentes, com
menos veículos nas ruas.
O estudo
avaliou como diferentes superfícies (urbanas ou vegetais) e a quantidade de
veículos nas ruas interferem na poluição do ar. O autor, o geógrafo Julio
Barboza Chiquetto, analisou as concentrações de ozônio e outros poluentes em
diversos pontos da Região Metropolitana de São Paulo.
Chiquetto
explica que na estratosfera (30 km de altitude) o ozônio tem papel benéfico,
bloqueando raios ultravioleta do Sol, mas que se torna tóxico na superfície. “A
exposição ao ozônio pode provocar uma série de problemas à saúde, incluindo
envelhecimento precoce da pele, irritação das vias respiratórias e agravamento
de doenças como asma e bronquite.”
O pesquisador utilizou um
software que simula o comportamento da atmosfera.
De acordo
com o pesquisador, a qualidade do ar pode ser melhorada com menos carros nas
ruas. “Uma melhoria significativa da rede do transporte público e foco em
transportes não motorizados ou que não emitem poluentes, como a ciclovia e o
metrô.”
A pesquisa
foi desenvolvida em duas etapas: na primeira, Chiquetto avaliou dados de
qualidade do ar de estações de monitoramento da Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (CETESB) e os comparou com o solo dos entornos.
“Classificamos as estações em quatro grupos, de acordo com os perfis de emissão
de poluentes e exposição à poluição representada por cada estação.”
Na segunda
etapa, com ajuda da Seção Técnica de Informática da FFLCH, o pesquisador
utilizou um software que simula o comportamento da atmosfera. “Concebemos
diversos cenários de alteração na emissão de poluentes e na cobertura da
superfície como, por exemplo, a retirada de 80% das emissões veiculares na área
urbana total da Região Metropolitana de São Paulo”, ilustra.
“Disponibilizamos
a ferramenta para uso por professores, futuros alunos e pesquisadores. E assim
trouxemos uma contribuição permanente para o departamento”, ressalta.
Resultados
Os
resultados mostraram que as estações com mais atividade urbana apresentam mais
poluentes primários e menos concentrações de ozônio. Tal configuração se
inverte em regiões residenciais e afastadas dos centros, onde há mais áreas
verdes: menos poluentes primários e mais ozônio.
Então,
Chiquetto confirmou sua hipótese: “A construção de um parque urbano tem
potencial de reduzir as concentrações de poluentes primários e melhoria nas
condições ambientais com maior umidade no ar, mas potencialmente pode acarretar
em aumento local das concentrações de ozônio”, diz.
Um cenário
com pedágio urbano, como existe em algumas grandes metrópoles, também foi
simulado no software. Com a redução das emissões veiculares e do número de
veículos, esse cenário apresentou o maior potencial de diminuição de ozônio da
pesquisa.
“Estudos
da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostram que só o fato de morar em
São Paulo é o equivalente a fumar dois cigarros por dia”, alerta o geógrafo.
Só o fato de morar em São Paulo
é o equivalente a fumar dois cigarros por dia, alerta Júlio Chiquetto, autor da
pesquisa.
Menos veículos, mais áreas verdes
Segundo
Chiquetto, os resultados apontaram que não basta simplesmente plantar árvores.
“Parques são ótimas inciativas para melhoria ambiental. Mas para a qualidade do
ar, há que se diminuir a quantidade de carros nas ruas. Isso só pode ser
conseguido com uma melhoria significativa da rede do transporte público e foco
em transportes que não emitem poluentes, como a ciclovia e o metrô”, diz.
Nesse
contexto, o pesquisador acredita que um melhor planejamento urbano pode
contribuir para diminuir os veículos nas ruas. “Uma descentralização das
atividades econômicas, saindo dos tradicionais centros empresariais em direção
aos bairros mais populosos, tem potencial de diminuir a necessidade de
deslocamento e o número de veículos”, analisa.
De acordo
com estudo, são necessários uma melhoria significativa da rede do transporte
público e foco em transportes não motorizados ou que não emitem poluentes, como
a ciclovia e o metrô.
Chiquetto
aponta que o estudo pode contribuir na formulação de políticas públicas
ambientais e de saúde. “Com os nossos resultados, planejadores urbanos e
autoridades podem saber o que esperar em termos de qualidade do ar por meio de
determinada intervenção que afete o uso do solo e a circulação de veículos em
grandes centros urbanos, e quais impactos à saúde podem estar associados a
essas alterações.” (ecodebate)
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