Formatos
estranhos e aromas desconhecidos contribuem para a ação constatação da
existência de uma variedade enorme de verduras, frutas e legumes.
Mas, por
mais variadas que possam parecer estas espécies, estes produtos representam
apenas uma fração mínima das espécies que se pode ingerir.
Não é uma
falha dos supermercados e feiras. O fato é que das 400 mil espécies de plantas
que existem no mundo, cerca de 300 mil são comestíveis. E destas 300 mil, se
consome apenas cerca de 200.
A maioria
das proteínas que se consome na alimentação que têm origem nas plantas vem de
três cultivos, o milho, o arroz e o trigo. Se as opções são tantas, por que a
humanidade se alimenta de apenas 0,06% das plantas comestíveis?
“Até agora,
a explicação sugeria que fazemos isto para evitar o consumo de plantas
tóxicas”, disse à BBC Mundo John Warrer, professor de botânica na Universidade
de Aberystwyth, na Grã-Bretanha, e autor do livro A Natureza dos Cultivos.
Para
Warren, o argumento não tem fundamento. “Muitas das plantas que comemos são
originalmente tóxicas, mas, com o passar do tempo, nós e outros animais
encontramos formas de lidar com estes componentes tóxicos” assevera ele.
O botânico
se refere aos processos de domesticação que foram eliminando as substâncias
venenosas nas plantas e também aos procedimentos como cozimento, que tornam uma
planta digerível.
“Na
verdade, se faz isto, pois se escolhe deliberadamente ingerir plantas que têm
uma vida sexual muito tediosa”, afirmou. A vida sexual previsível, segundo
Warren, é o que garante o sucesso de uma planta como cultivo em larga escala.
E
previsível, neste caso, significa uma planta que se reproduz por um mecanismo
de polinização muito generalizado, que pode ser o vento ou os serviços de
insetos como as abelhas.
As orquídeas são exemplos mais óbvios na hora de explicar a razão de uma planta com vida sexual complexa não ser boa para ser domesticada.
As orquídeas são exemplos mais óbvios na hora de explicar a razão de uma planta com vida sexual complexa não ser boa para ser domesticada.
“Elas são
as pervertidas do mundo das plantas. Têm flores e hábitos sexuais estranhos”,
diz Warren.
Existem
cerca de 20 mil espécies de orquídeas, e muitas poderiam ser boas como
alimentos. Mas, se cultiva apenas uma para o consumo, a chamada orquídea da
baunilha, cuja polinização feita manualmente, é viável somente devido ao seu
alto valor de mercado.
A razão
pela qual não cultivamos mais orquídeas, segundo o professor, é “que elas têm
uma vida sexual esquisita”.
Para se
reproduzir, estas orquídeas devem ser polinizadas por uma espécie específica de
inseto e, tanto estes, quanto a orquídea, dependem do outro para sobreviver.
Se as
orquídeas forem cultivadas longe do habitat deste inseto, não produzirão
sementes e fracassarão como cultivo.
Por isso,
segundo Warren, acabamos com apenas “dez cultivos mais importantes do planeta,
a saber milho, trigo, arroz, batatas, mandioca, soja, batata-doce, sorgo,
inhame e banana, que se polinizam com a ajuda do vento, sem necessidade de
insetos”.
Se as
plantas mais importantes para nossa dieta não dependem de insetos, outra
pergunta que surge é qual a razão de tanta preocupação com a queda global nas
populações de abelhas, um dos principais agentes polinizadores?
Na opinião
de Warren, “o problema é exagerado”.
“É
importante, mas as abelhas não participam dos cultivos que nos dão calorias.
Nenhum dos dez cultivos já mencionados será afetado pela morte das abelhas.”
Esta frieza
da declaração sobre as abelhas causa estranheza. Pode até ser verdadeira e
constatada, mas os serviços ecossistêmicos são muito maiores e relevantes. Como
se comprova a seguir.
“Mas, se as
abelhas morrem, as frutas como as maçãs, peras e morangos, serão afetados. E
isto prejudicará a ingestão de vitaminas, a qualidade de vida e piorará a
saúde. Mas, não se vai morrer de fome”, acrescentou Warren.
O botânico
acredita que é importante aumentar o número de espécies que se cultiva, e dar
mais ênfase para os tipos que exigem menos recursos.
“A
tendência é domesticar plantas muito nutritivas, mas que necessitam de muitos
fertilizantes. Deveríamos cultivar novas plantas com sistemas nutritivos
inferiores, porém mais sustentáveis no futuro”, afirmou.
E, ainda de
acordo com Warren, diferentemente de nossos ancestrais, entendemos as
dificuldades de cultivar plantas de vida sexual complexa e podemos superar
estes obstáculos. Curioso, interessante e lógico, embora um pouco frio e
insensato. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário