A Groenlândia está em
processo acelerado de degelo devido
ao aquecimento global, provocado pelo crescimento da emissão de gases de efeito
estufa, gerado pelo aumento exponencial das atividades antrópicas, incentivado
pela concentração de capital e riqueza.
Uma ilha continental,
tranquila, despovoada e gelada, localizada no Atlântico Norte, próxima ao
Ártico, é a principal vítima dos efeitos perversos do crescimento incessante da
produção de bens e serviços para satisfazer o bem-estar do ser humano, que é a
espécie predadora responsável pelo surgimento do Antropoceno, época que deve
ficar marcada na história geológica pela 6ª extinção em massa da biodiversidade
da Terra.
Reportagem do site da CNN
mostra (com imagens incríveis) que a perda de gelo da Groenlândia aumentou
dramaticamente nas últimas décadas. Entre 1992 e 2001 o degelo foi de 34
gigatons em média (34 bilhões de toneladas métricas) e passou para uma média
anual de 280 gigatons (280 bilhões de toneladas métricas).
Se todo o gelo da Groenlândia
derreter pode elevar o nível dos oceanos em até 7 metros. Mas um degelo de
somente 30% já seria suficiente para fazer os mares subirem 2,1 metros.
Estimativas do IPCC e da NASA indicam que o nível das águas marinhas pode subir
mais de 2 metros até 2100, no cenário mais dramático. Isto seria suficiente
para inundar áreas urbanas onde vivem bilhões de pessoas, além de inundar o
delta dos principais rios do mundo e inúmeras áreas agrícolas.
Os pesquisadores da
Universidade Oceânica da China, liderados por Xianyao Chen, fizeram reanálise
estatística dos principais fatores que contribuem para a subida global do nível
dos mares e concluíram que o derretimento de gelo sobre os continentes, que em 1993
respondia por cerca de 40% da variação no nível do mar, passou a ser o fator
dominante de mudança, com 60% da contribuição em 2014.
Uma grande parte dessa fatia,
de cerca de 25%, vem da perda de glaciares de montanhas. Mas tem crescido a
contribuição das grandes massas de gelo da Terra, como a Groenlândia, que
passou de 5% a 25% do total de água em excesso derramada nos oceanos nesse
período.
É difícil projetar os
impactos específicos da elevação do nível dos mares em todos os lugares, pois o
aumento não é homogêneo e nem linear. Alguns lugares serão mais afetados do que
outros. Mas uma coisa é certa: todos os países litorâneos perderão, uns mais do
que outros, mas ninguém ficará a salvo do avanço das águas salgadas.
Por exemplo, no segundo semestre de 2017 diversas praias do Rio de Janeiro foram atingidas pelas ressacas e pelo avanço do mar. As praias do Flamengo, de Ipanema e do Recreio dos Bandeirantes. A erosão causou estragos do Leme ao Pontal. A Praia da Macumba, na Zona Oeste do Rio, perdeu parte do muro de contenção colocado pela prefeitura e grandes trechos da calçada desabaram com a força das ondas.
Por exemplo, no segundo semestre de 2017 diversas praias do Rio de Janeiro foram atingidas pelas ressacas e pelo avanço do mar. As praias do Flamengo, de Ipanema e do Recreio dos Bandeirantes. A erosão causou estragos do Leme ao Pontal. A Praia da Macumba, na Zona Oeste do Rio, perdeu parte do muro de contenção colocado pela prefeitura e grandes trechos da calçada desabaram com a força das ondas.
Como já escrevi anteriormente
(Alves, 05/10/2016), as praias da maioria das cidades do planeta correm o risco
de serem “varridas do mapa”. Este processo pode ser socialmente grave na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, que é a maior e mais complexa aglomeração
urbana da zona costeira brasileira, com mais de 12 milhões de habitantes. De
todas as zonas ameaçadas, a Barra da Tijuca e arredores é, entre os grandes
bairros da Cidade Maravilhosa, a área mais vulnerável ao avanço do nível do mar
e às inundações provocadas por ressacas, chuvas e tempestades.
Artigo de Dieter Muehe e
Paulo Rosman (2011) mostra que a orla do Rio de Janeiro exposta e voltada para
o oceano aberto se apresenta extremamente vulnerável considerando sua
orientação diretamente voltada para a incidência de ondas de tempestade e seu
déficit potencial de sedimentos. Eles dizem: “Em suma, para os diversos
cenários de elevação do nível do mar as praias oceânicas urbanas, devido à sua
‘fixação’ com muros, ficam impedidas de se ajustar por meio de retrogradação e
tenderão a perder areia, efeito acelerado pelo refluxo das ondas nos obstáculos
impermeáveis representados pelos mesmos muros” (p.78). Eles ainda mostram
(p.81) que as principais consequências da elevação do nível do mar são:
1) Tendência de translação
das praias e cordões de dunas em direção a terra.
2) Onde houver ruas e
avenidas na reta da praia haverá diminuição das faixas de areia e potencial
risco de ataque de ondas diretamente nas benfeitorias públicas.
3) Recuo das linhas de orla
em regiões de baixadas de lagoas costeiras e baías, em função da subida do
nível médio relativo da água. Nestes locais, é provável que a taxa de elevação
do nível médio do mar seja superior à média, visto que se trata de regiões
sedimentares geologicamente recentes, cujos terrenos tendem a sofrer
subsidências. Portanto, potencialmente o problema é mais grave.
4) Problemas de macrodrenagem
em águas interiores, especialmente em zonas urbanas situadas em baixadas de
baías e lagoas costeiras aumentando a tendência de alagamentos. As águas fluem
de cotas mais altas para cotas mais baixas e a velocidade do escoamento depende
do desnível. Com a subida do nível médio relativo diminuem os desníveis,
diminuindo a declividade relativa e consequentemente a velocidade dos
escoamentos.
5) Aumento da profundidade
média de lagoas costeiras e baías.
6) Aumento da intrusão salina
em zonas estuarinas levando a causar aumento ou diminuição de manguezais, em
função da disponibilidade de áreas de expansão, e, mais para montante,
potencial problema de captação de água salobra em locais que hoje captam água
doce.
Ou seja, a avenida Lúcio
Costa funciona como uma barreira artificial que contém o avanço das ondas e das
marés na Barra da Tijuca. Mas esta barreira vai ficar cada vez mais frágil na
medida em que o nível do mar sobe. Com as tempestades mais intensas na terra e
no mar, as ondas ficam mais altas e as marés meteorológicas mais elevadas.
Assim, a praia da Barra da Tijuca terá diminuição das faixas de areia e a
Avenida Lúcio Costa deverá sofrer sérios problemas de erosão e possível
destruição de áreas mais vulneráveis. Os sistemas de saneamento e água vão ser
afetados e diversos equipamentos públicos (hospitais, escolas, etc.) devem ser
danificados.
Portanto, os cariocas
deveriam prestar atenção ao que acontece na Groenlândia, no Ártico, na
Antártida e nos glaciares, pois o futuro do Rio de Janeiro depende do ritmo do
degelo no mundo. Também a maioria dos brasileiros – que vivem em áreas
litorâneas –deveriam ficar preocupados com o que acontece na Groenlândia.
Mas, além do Rio de Janeiro,
outras cidades do mundo vão sofrer com a elevação do nível do mar e as
enchentes. A cidade de Paris, neste mês de janeiro de 2018, enfrenta grandes
enchentes devido à elevação do rio Sena. A “cidade luz” vive uma das maiores
enchentes da sua história, repetindo o que ocorreu em 2016, e corre o risco de
passar por um prejuízo sem precedentes. O museu do Louvre pode estar com os
dias contados. As futuras enchentes tendem a ser mais destrutivas, pois a
elevação das águas do Sena tende a se agravar com o aumento do nível do mar,
que diminui a velocidade de vasão do rio.
O degelo é apenas uma
consequência do aquecimento global, que por sua vez, é consequência da emissão
de gases de efeito estufa, que também é consequência do crescimento
demoeconômico exponencial dos últimos 200 anos. Enfim, grande parte do avanço
do bem-estar humano gerado pelo aumento da produção e do consumo pode acabar
debaixo d’água.
A humanidade deveria reavaliar o mito do crescimento econômico exponencial, pois o sonho de riqueza e domínio humano sobre a natureza pode acabar no fundo do oceano como se as áreas urbanas costeiras do mundo fossem uma grande Atlântida pós-moderna. (ecodebate)
A humanidade deveria reavaliar o mito do crescimento econômico exponencial, pois o sonho de riqueza e domínio humano sobre a natureza pode acabar no fundo do oceano como se as áreas urbanas costeiras do mundo fossem uma grande Atlântida pós-moderna. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário