Fórum Alternativo Mundial da
Água debaterá a água como um bem natural, que não pode ser mercantilizada.
De 19 a 22 de março, ocorrerá
em Brasília, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, o Fórum Alternativo
Mundial da Água (FAMA). O evento vai debater temas como o controle social das
fontes de água, o acesso democrático à água, a luta contra as privatizações dos
mananciais e barragens, a defesa dos povos atingidos, os serviços públicos de
água e saneamento e as políticas públicas necessárias para o controle social do
uso da água e preservação ambiental. O FAMA será realizado no mesmo período do
8º Fórum Mundial da Água.
É a primeira vez que o Fórum
Alternativo Mundial da Água é realizado no Brasil, assim como o Fórum Mundial
da Água. A estimativa é de que 6 mil a 7 mil pessoas participem dos cinco dias
do FAMA, que reunirá cerca de 4 mil dos inscritos em um acampamento no Pavilhão
do Parque da Cidade.
A principal bandeira do Fórum
Alternativo é mostrar que a água é um bem natural e está a serviço da
humanidade, não podendo ser mercantilizada. Além disso, servir aos povos, a
produção de alimentos, ao acesso das pessoas e não servir a interesses
financeiros. O ato termina no dia 22, com uma marcha em defesa da água para
alertar, em especial a população de Brasília, do problema da crise hídrica.
Brasília – Nível de água da
Barragem do Descoberto está abaixo da média histórica, com ameaça de
desabastecimento em parte das cidades satélites.
Para o representante do
Movimento dos Pequenos Agricultores, Bruno Pilon, que também é um dos
coordenadores do FAMA, a maior preocupação é com o grande número de
privatizações dos sistemas públicos de distribuição de água e energia. “Por que
fazer o Fórum Mundial aqui no Brasil, neste momento em que está aumentando
tanto a questão das privatizações no nosso país?, questiona. Para Pilon, a água
é um bem público e ela não deve ser mercantilizada. “A gente sabe que esse
processo aumenta os custos para os consumidores, além de você colocar diversas
barreiras ao acesso”, alerta.
Bruno Pilon lembra que o que
se tem verificado é que as punições aplicadas às multinacionais por conta dos
desastres ambientais não têm sido rigorosas. E cita como exemplos a tragédia do
município de Mariana, em Minas Gerais, onde o Rio Doce não foi até agora
recuperado, e o caso de Barcarena, no nordeste do Pará, em que a mineradora
Hydro se nega a assumir responsabilidade pelas contaminações.
O representante do Movimento
dos Pequenos Agricultores destaca que a organização não participará do Fórum
Mundial por entender que “não estão representadas as vontades e as necessidades
do povo, existindo ali uma batalha de ideias e por estar a serviço das grandes
corporações e dos grandes impérios”.
Já o representante da Frente Povo Sem Medo,
Thiago Dávila, declarou que a ideia é fazer do Fórum Alternativo Mundial da
Água um evento dos povos. Por isso, não considera nada razoável o cidadão ter
que pagar para participar do Fórum Mundial da Água, o que o impede de ser mais
participativo. “O Brasil é o país que tem a maior reserva de água doce no
mundo. Antes nos vangloriávamos de ter o maior aquífero do mundo, o aquífero
Guarani, e logo depois descobrimos que o Aquífero Alter do Chão é quatro vezes
maior. O Brasil assume um papel estratégico nesse processo. E nós precisamos
organizar uma resistência mundial, defendendo a necessidade de ser feito um
processo participativo, politizado, democrático”, cobra Dávila.
Segundo o MAB (Movimento de
Atingidos por Barragens), com a crise, o capitalismo tenta criar um grande
mercado da água mundial.
O representante da Frente
Povo Sem Medo também questiona o financiamento para a realização do Fórum
Mundial. “A gente sabe que é o governo estadual, municipal, federal, quem paga
e financia o Fórum das Corporações e nós não temos acesso a isso. Nós
acreditamos que a falta de transparência, priorização e a perspectiva,
inclusive de utilizar a força física, a força bélica para impedir o debate
democrático do Fórum Alternativo é muito grave”, lamenta Thiago Dávila.
Ele explica que a coordenação
nacional do FAMA é composta por diversos movimentos, onde os projetos devem ser
pautados pelos interesses do povo. Cita como exemplo a questão da transposição
do Rio São Francisco. “O processo de escassez de água sempre atinge a população
mais pobre. O desastre ambiental planetário, o aquecimento global sempre atinge
a população mais pobre. E essa é a nossa preocupação principal”, argumentou o
representante da Frente.
Sobre o agronegócio, Thiago Dávila revelou
apreensão, pois segundo ele os governos não levam em conta que cerca de 70% da
água distribuída no país vai para o setor e o governo culpa a sociedade das
grandes cidades pela escassez de água. (ecodebate)
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