Dicas Práticas
Ah, o turismo. Essa coisa
linda, que pode transformar a gente e os lugares pra melhor. Gera empregos, une
as pessoas, muda visões de mundo. Mas também pode, vejam só, destruir o meio
ambiente, prejudicar os habitantes do destino e fazer mal a animais. Já parou
pra pensar no impacto daquela sua viagem de férias? Analisou suas atitudes de
forma crítica e viu se fez algo errado? Sim, porque certamente você já teve
atitudes negativas quando estava passeando por aí, assim como eu e quase todos
os viajantes que conheço. Mas sempre é tempo de se informar e tentar adotar
práticas de turismo sustentável.
E quanto antes, melhor,
porque esse negócio de viajar tá crescendo muito. Muito mesmo! Desde 2009, a
quantidade de pessoas circulando entre países tem aumentado uns 4% ao ano, de
acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT). Enquanto em 2000 o número de
viajantes internacionais era “só” 674 milhões, a previsão é que chegue a 1,8
bilhão até 2030. E ainda segundo eles, o turismo é responsável por cerca
de 10% da atividade econômica mundial, representando 1 em cada 11 empregos no
mundo. Então esses números devem ser comemorados, né? Sim, mas apenas se esse
processo for, como disse ali em cima, sustentável.
Tá, mas o que seria isso? De acordo com o
Ministério do Turismo, “turismo sustentável é a atividade que satisfaz as
necessidades dos visitantes e as necessidades socioeconômicas das regiões
receptoras, enquanto os aspectos culturais, a integridade dos ambientes
naturais e a diversidade biológica são mantidas para o futuro”. Esse ano que tá
acabando foi declarado pela ONU como Ano Internacional do Turismo Sustentável
para o Desenvolvimento e o assunto tá cada vez mais em voga (ainda bem!), mas
ainda tem muito trabalho a ser feito.
E o trabalho cabe a todos os
envolvidos, né? Começando pelo governo, que precisa desenvolver políticas
públicas pensando no impacto do turismo a longo prazo. Em muitos lugares os
efeitos do turismo de massa já começam a ser sentidos e é preciso agir o quanto
antes.
Um exemplo é Dubrovnik, na
Croácia, que como mencionei neste post tem
recebido um número altíssimo de visitantes. Por isso, a Unesco solicitou que se
estipule um limite de pessoas circulando a cada dia dentro dos muros da cidade
histórica. Os moradores de Veneza, na Itália, também estão preocupados com
a preservação da estrutura física da cidade, que recebe cada vez mais navios de
cruzeiros. Sem falar no limite de visitantes por dia em Machu Picchu, outra
exigência da Unesco, que não tem sido respeitado.
Também é preciso exigir
responsabilidade das empresas do setor de turismo, que devem não só promover
suas atividades com o mínimo de impacto possível, mas também se esforçar pra
contribuir com o local onde estão inseridas. Não adianta, por exemplo, um hotel
se preocupar com o consumo de água (que também dói no bolso deles) e manter
práticas de mercado que representem um risco ao modo de vida da população.
E aí chego, por fim, no papel
que eu e você temos nessa história. É fundamental que cada turista aja de forma
mais consciente, fazendo escolhas sustentáveis nas suas viagens. Além das
pequenas ações somadas terem um impacto bem grande, transformar isso em tendência ajuda
a fazer com que hotéis, agências de viagem e todos os outros envolvidos na
cadeia do turismo incorporem mais práticas sustentáveis.
Quer algumas dicas pra
colocar esse tal de turismo sustentável em prática na sua
própria viagem? Olha só:
Pesquise,
pesquise, pesquise
Tem gente de má fé em todo
canto, mas acredito que a falta de informação é a maior razão pra que viajantes
perpetuem práticas prejudiciais e até criminosas nas suas viagens. Por isso,
pesquisar sobre os passeios que você pretende fazer e os lugares onde vai se
hospedar e que vai visitar é a melhor forma de evitar ter uma atitude nociva
sem querer – coisa que eu mesma já fiz várias vezes.
Escolha
empresas com práticas sustentáveis
Além de descobrir que aquele
passeio que parecia inofensivo faz algum mal ao meio ambiente ou à comunidade,
a pesquisa pode te fazer achar empresas com práticas de responsabilidade social
ou eficiência ecológica. Uma referência é o Mapa de Turismo
Sustentável no Brasil, que mostra iniciativas vencedoras e finalistas do
Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, promovido pela Associação Brasileira de
Operadoras de Turismo e chancelado pela OMT.
Tem também o Guia Garupa do Brasil Autêntico, elaborado por uma
plataforma de crowdfunding focada em turismo sustentável. E agências que
trabalham com base no turismo comunitário, como a Turismo Consciente,
recomendada nesse
post do blog Chicken or Pasta sobre uma experiência linda na Ilha de
Marajó.
Sem falar nas muitas
informações que estão espalhadas por aí, podendo ser encontradas através de
outros viajantes e moradores dos destinos que você quer visitar. Um exemplo é
esse relato de experiência com turismo
de base comunitária no Jalapão e os comentários do post, em que uma
leitora menciona organizações como a Rede
Tucum, do Ceará.
Também vale a pena ficar de
olho em rankings e certificados, que têm sido desenvolvidos por governos, ONGs
e entidades privadas pra atestar o compromisso ambiental ou social dos
estabelecimentos. Alguns exemplos são a Certificación para la
Sostenibilidad Turística (CST), da Costa Rica, a Ecolabel, da Comissão
Europeia, e o Global Sustainable
Tourism Council.
Priorize
voos diretos
Esse item nem sempre é
possível por questões práticas e financeiras, mas vale ter em mente: ao priorizar
um voo direto, além de economizar tempo e evitar cansaço você reduz as emissões
de carbono.
Evite
usar carros quando possível
Em algumas viagens só o carro
resolve mesmo, mas sempre que possível aproveite pra caminhar, andar de
bicicleta ou usar o transporte público. Se tiver que ir motorizado, escolha o
modelo mais econômico e planeje bem a rota pra reduzir o consumo de
combustível. Também pode ser interessante dar carona pra outros viajantes, como
mencionei nesse post sobre turismo
colaborativo.
Consuma
produtos locais
Desde a hospedagem aos souvenires, tente dar
preferência àqueles cujo lucro vai pra os moradores locais. Isso envolve
escolher hotéis, pousadas ou albergues que não façam parte de grandes redes de
hotelaria, comer num restaurante local em vez de ir naquela grande cadeia
internacional e valorizar o artesanato produzido no destino. Além de ajudar a
comunidade, os produtos e
serviços locais carregam muito da cultura e podem oferecer experiências mais
ricas.
Informe-se sobre a origem
dos produtos
Mas tem um detalhe: isso não quer dizer comprar
qualquer tipo de lembrancinha que seja oferecida porque é “típica” do local. Percebeu
que o souvenir foi feito usando artefatos históricos ou causando danos à
natureza, tipo aquele colar lindo de estrela do mar ou itens feitos a partir de
presas de animais? Passe longe.
Prefira alimentos
regionais
Além de ser uma delícia conhecer um lugar novo pelo
estômago, ao comer alimentos produzidos na região visitada o seu consumo tem
menos impacto. É que assim os itens provavelmente levam menos produtos químicos
e são transportados por distâncias mais curtas – além de levar dinheiro pra o
bolso do produtor local.
Leve garrafa d’água e
sacola reutilizáveis
Essas são duas manias minhas mesmo na minha cidade,
mas viajando acho essencial por questões de praticidade e economia, além da
consciência ambiental. Tenha sempre na bolsa uma garrafa d’água reutilizável e
uma ecobag daquelas que ficam pequenininhas. Assim, você evita a geração de
resíduos plásticos, que são péssimos pra o meio ambiente.
Fique atento aos resíduos
Falando em resíduos, vale a regra básica da educação
(que muita gente insiste em ignorar): mantenha os lugares sempre limpos. Quando
for fazer uma trilha ou visitar uma praia, não se esqueça de levar um saquinho
pra guardar o lixo, e se possível recolha também os resíduos que eventualmente
encontrar no caminho. Além disso, procure saber se é feita coleta seletiva no
lugar visitado. Se for o caso, separe o lixo do jeito certo.
Não interfira na natureza
Ao fazer trilhas, permaneça sempre nos caminhos
já demarcados, evitando assim a erosão de outras partes. E lembre-se sempre
daquela frase escrita em plaquinhas em várias praias por aí: “tire apenas fotos,
deixe apenas suas pegadas, leve apenas suas lembranças”. Não leve plantas,
conchas e pedrinhas pra casa: parece um ato inocente, mas se todo mundo fizer
isso, pode causar um impacto ambiental.
Respeite
as regras
Siga também as outras regras
estabelecidas nos passeios ou atrações que visitar. Se não puder tirar fotos
com flash, tocar nos objetos ou paredes ou entrar no ambiente usando shorts ou
com ombros à mostra, por exemplo, respeite as normas do local.
Vivencie
a cultura local
Conhecer as pessoas que moram
num destino torna qualquer viagem muito mais rica. Procure entender as festas
religiosas e eventos, ouvir histórias tradicionais, vivenciar o dia a dia da
população. Se possível, procure um guia local.
Projetos de turismo de base comunitária
são ótimos pra esse tipo de imersão: desenvolvidos levando em consideração as
necessidades da população, muitas vezes eles são administrados pelas próprias
comunidades, que têm no turismo uma fonte de renda complementar, sem abrir mão
de suas atividades originais.
Respeite
os moradores
Mas essa interação toda
também não pode ser feita de qualquer jeito. Se esforce pra respeitar os
moradores e não seja invasivo. Peça permissão pra tirar fotos das pessoas, por
exemplo. Pesquise sobre costumes e tradições locais, pra entender melhor a
comunidade e saber se existe algum comportamento seu que poderia ser ofensivo.
Muitas manifestações
culturais tradicionais acabam sendo alteradas pela presença de turistas, como
mostra esse relato
do blog Viaggiando sobre a Ronda das Almas em Luang Prabang, no Laos.
Também acontece de uma comunidade se descaracterizar pra atender aos
visitantes, criando uma espécie de “encenação” que pouco tem a ver com sua
cultura original. Às vezes é difícil entender onde fica a “linha” que separa a
valorização da intromissão ou exploração, mas acredito que precisamos tentar.
Evite
o desperdício de água
Além das medidas que já
devemos tomar no dia a dia, como tomar banhos curtos e fechar bem torneiras e
chuveiros, outras atitudes podem ajudar a evitar o desperdício de água em
viagens. Avise ao staff da hospedagem caso verifique um vazamento e só peça pra
ter toalhas e lençóis trocados se for realmente necessário.
Evite
o desperdício de energia
É uma delícia chegar cansado
no quarto de hotel depois de um dia andando no calor e encontrar o ar
condicionado geladinho, né? Mas também é um baita desperdício de energia. Ao
sair pela manhã, desligue o ar, a TV e as luzes.
Tente
viajar leve
Sabia que além de mais
prático e confortável, viajar leve é mais ambientalmente amigável? Com menos
bagagem fica mais fácil pegar transporte público em vez de táxi, e malas mais
leves gastam até menos combustível dos aviões.
Respeite
os animais
Visitar atrações que fazem
mal a animais está entre os pecados mais comuns dos
viajantes. Muitas vezes não sabemos em que condições os bichinhos vivem, mas é
importante procurar saber antes de financiar ou estimular uma atividade
potencialmente nociva.
Por exemplo, eu já andei de
elefante, vi show de baleias no Sea World e fui naquele zoológico horrível
perto de Buenos Aires em que você pode tocar em leões. Tudo isso antes de ter
consciência de que em todos os casos os animais tão sofrendo pra fazer os
turistas se divertirem. Me arrependo muito, mas o importante é tentar não
repetir os erros, né?
Não que qualquer atração com animais seja do
mal: existem espaços dedicados à conservação de espécies, ou que cuidam de
animais resgatados do tráfico, por exemplo. Um exemplo é o tratamento dado a
elefantes na Ásia: os passeios em que você fica sentado em cima dos bichos só é
possível porque eles são submetidos a torturas desde bebês, como
conta o pessoal do 360 Meridianos. Mas existem outros locais onde esses
animais são cuidados e princípios éticos são respeitados. Aí volto pra o ponto
inicial desse post: se jogue na pesquisa!
E você, também já teve
atitudes nada sustentáveis ao viajar? Tem outros hábitos de turismo sustentável
pra compartilhar? (janelasabertas)
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