A
redução da fome no mundo e o futuro de insegurança alimentar.
“De pé ó vítimas da fome; De pé famélicos
da terra” - Hino da Internacional Socialista.
A letra do hino “A
Internacional” foi composta em 1871, por Eugène Pottier (1816-1887), que havia
sido um dos membros da Comuna de Paris. Os primeiros versos do hino dizem: “De
pé ó vítimas da fome; De pé famélicos da terra”.
Estes versos refletiam a
situação daquele momento. A carência de alimentos era uma realidade que ceifava
milhões de vítimas. O maior número absoluto de óbitos provocados pela fome
aconteceu exatamente na década de 1870, quando 20,4 milhões de pessoas morreram
por inanição no mundo, conforme pode ser visto no gráfico abaixo do portal “Our
Word in Data”.
Na década de 1880 o número de
vítimas caiu para menos de 3 milhões, mas voltou a subir para quase 10 milhões
na década de 1890. Surpreendentemente, o número de óbitos por fome diminuiu na
década de 1910 – quando houve a Primeira Guerra Mundial – mesmo que o número de
2,6 milhões tenha sido ainda muito elevado.
Na década de 1920 a fome
cresceu muito novamente, atingindo 16 milhões de vítimas fatais devido,
principalmente, à situação da União Soviética e da China. Na década de 1940 –
quando aconteceu a Segunda Guerra Mundial – a fome bateu todos os recordes do
século XX, com 18,6 milhões de vítimas. Na década de 1960 a fome voltou a assustar,
mas principalmente pela grande crise provocada pelos equívocos da política de
“Um grande salto para frente” da China.
Passado a grande tragédia da
fome na China na década de 1960, o número de vítimas da insegurança alimentar
diminuiu muito no mundo nas décadas seguintes, sendo que o número de mortes
atingiu o menor nível na atual década (2010-16).
O gráfico abaixo permite uma
visão mais clara sobre o efeito da fome, considerando o total populacional. A
taxa de mortes por conta da fome teve o seu maior valor na década de 1870,
quando atingiu 1.426 mortes para cada 100 mil habitantes no mundo. A taxa caiu
nas décadas seguintes, embora tivesse picos de cerca de 800 por 100 mil nas
décadas de 1920 e 1940.
A partir da década de 1970 as
taxas caíram significativamente, ficando em 88 por 100 mil habitantes em 1970,
43 por 100 mil na primeira década do século XXI e em apenas 3 por 100 mil
habitantes entre 2010-16. Ou seja, houve uma grande redução dos “famélicos da
Terra”.
Os cornucopianos do mundo
comemoram. Mas este quadro positivo de redução da fome está ameaçado. Artigo de
George Monbiot “Mass starvation is humanity’s fate if we keep flogging the land
to death”, publicado no The Guardian (11/12/2017) alerta para a volta do
flagelo da fome se a humanidade continuar degradando os solos, as fontes de
água, a estabilidade do clima e evitando as dietas vegetarianas e veganas. A
redução das populações de insetos – especialmente da abelha – pode gerar uma
grande crise alimentar, pois não há produção agrícola em massa sem os
polinizadores.
Monbiot chama a atenção para
a necessidade de recuperação dos solos, o cuidado com a água potável e as
formas de adaptação ao aquecimento global para viabilizar a alimentação dos
próximos 4 bilhões de novos habitantes do Planeta até 2100. Mas uma mudança
crucial é a mudança da dieta cárnea para uma dieta vegetal com base na
agricultura orgânica.
O Brasil acompanhou a
tendência global e diminuiu a percentagem de pessoas passando fome no país.
Contudo, a edição de março da revista Radis, da Fiocruz, destacou risco de o
Brasil voltar ao Mapa da Fome. A insegura alimentar está muito associada à
pobreza extrema e à degradação ambiental e a recessão de 2014-2016, assim como
a lenta recuperação do emprego e do poder de compra da população mais pobre
pode agravar o quadro de subnutrição, como acontece de maneira terrível na
Venezuela.
O certo é que será impossível
continuar reduzindo o número de pessoas que morrem de desnutrição e fome se,
num mundo cada vez mais desigual, a produção de alimentos é feita às custas da
saúde do meio ambiente e da extinção em massa das espécies que compartilham a
mesma Casa Comum. (ecodebate)
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