ILPF: Sistema Agroflorestal para gerar alimentos, energia e
renda no Nordeste.
Integração
Lavoura-Pecuária-Florestas (ILPF) também pode atender o
mercado de agroenergia, conferindo ainda mais sustentabilidade ao setor e
gerando renda para a agricultura familiar. No Nordeste brasileiro, a Embrapa e
o World Agroforestry Centre (Icraf), estão utilizando a macaúba em consórcio
com culturas alimentares visando agregar maior sustentabilidade à produção de
matéria-prima para biocombustíveis.
Os
experimentos estão em dois locais: em Parnaíba, no Piauí, região litorânea; e
em Barbalha, no Ceará, bem no interior do Nordeste. A macaúba é o componente
desse sistema agroflorestal com potencial para integrar a cadeia produtiva de
biocombustíveis. A palmeira, nativa do Brasil, gera frutos com volume de óleo
comparável ao do dendê, que é campeão em produtividade. O óleo que a macaúba
produz pode atender à produção de dois combustíveis de origem renovável: o
biodiesel, já presente no Brasil, e o bioquerosene de aviação, um produto ainda
em consolidação, com grande potencial de mercado.
Além disso,
o óleo pode vir a atende também a indústria de alimentos e cosméticos.
Os cultivos
começaram há dois anos e, enquanto esperam a macaúba dar os primeiros frutos,
os pesquisadores já avaliam a produção de feijão-caupi e milho, plantados em
conjunto com a palmeira. “Com duas safras colhidas, já se observou que não há
efeitos negativos de uma cultura sobre a outra”, diz a pesquisadora da Embrapa
Agroenergia, Simone Fávaro. Quando a macaúba já estiver com porte alto, também
poderá ser testada na área a criação de animais. Para o pesquisador da Embrapa
Agroenergia Alexandre Cardoso, líder do projeto, estabelecer esse sistema de
produção agroflorestal teria como pontos favoráveis a diversificação e
regionalização da produção de biomassa para biocombustíveis e óleoquímica,
contando com uma espécie nativa, com ampla adaptabilidade em diferentes
regiões.
Ao mesmo
tempo em que se trabalha com os cultivos organizados da macaúba nos ensaios
experimentais, o projeto atua junto a pequenos agricultores da região de
Barbalha que tem no extrativismo da macaúba parte da sua renda. Estas
comunidades coletam os frutos da macaúba e o revendem como fruto fresco ou
extraem, por métodos tradicionais o óleo da amêndoa. Este trabalho é bastante
penoso e de baixo rendimento. Com apoio do projeto a comunidade recebeu
orientação e equipamentos para melhorar o processamento.
O quebrador
de coco macaúba e a prensa em pequena escala facilitaram o trabalho e produzem
óleo de melhor qualidade. Com recursos do projeto, um equipamento de uma dessas
comunidades foi adaptado para extração do óleo por prensagem.
“Com a
chegada da prensa o óleo é extraído a frio. Esse processo facilita a
mão-de-obra do coletor de macaúba para transformar a semente em óleo. Como é
extraído a frio não precisa aquecer nem torrar as amêndoas”, conta José
Raimundo da Silva, o Nilton, como é conhecido na comunidade. Ele destaca que “o
valor do óleo cozido é R$ 25,00 e a frio R$ 30,00. A gente tá pensando do na
possibilidade de plantar, inclusive já plantamos algumas mudas para fazer o
teste”. A agricultora Tarciana Batista da Silva também reforça: “melhorou
porque diminuiu o trabalho. O tempo que era para cozer e dar o ponto de ficar
para uso, a gente já tira pronto para ser usado. Na renda melhorou porque o
tempo que a gente gastava com o cozimento e tudo, a gente vai diretamente para
prensa e já tira o óleo pronto para entrega. Assim o retorno financeiro bem
mais fácil”.
Toda ação é
realizada na Comunidade Boa Esperança, com 93 associados, a maioria mulheres. O
novo recurso permite obter óleo com melhor qualidade, por um método menos
trabalhoso.
Em 2017,
também foi realizada pela Embrapa Agroenergia, capacitação de agentes multiplicadores
e pequenos agricultores para o uso alimentar dos produtos e coprodutos da
macaúba, disse Fávaro.
O
projeto desenvolvido no Nordeste brasileiro está inserido em um programa
internacional para desenvolvimento de cultivos alternativos para produção de
biocombustíveis, com ações também na África e na Ásia. A iniciativa é liderada
pelo ICRAF, com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento
Agrícola (IFAD). Além da Embrapa Agroenergia, estão atuando fortemente no
projeto a Embrapa Meio-Norte e a Embrapa Algodão, em cujos campos experimentais
estão instalados os experimentos.
(ecodebate)
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