O nível do PIB per capita brasileiro de 2013 só deve ser
recuperado em 2023.
O Brasil
apresentou grande crescimento da renda per capita nos séculos XIX e XX e foi um
exemplo de sucesso econômico (embora com grande empobrecimento ambiental).
Entre 1822 e 1980, na média, o Brasil cresceu mais que o restante do mundo. Mas
esta realidade mudou a partir de 1981. As dificuldades foram se avolumando nas
últimas décadas e, atualmente, o povo brasileiro passa por um momento crítico.
Provavelmente, o Brasil vai chegar no aniversário dos 200 anos da Independência
com uma renda per capita inferior àquela de 2013.
A renda per
capita brasileira caiu com o início do declínio trimestral do Produto Interno
Bruto (PIB) ainda na primeira gestão de Dilma Rousseff. Entre 2014 e 2016 a
renda per capita diminuiu fortemente. Houve uma lenta recuperação em 2017, mas
a volta ao patamar de 2013 só deve ocorrer em 2023, conforme indicam os dados
do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgados ontem (17/04/2018). Assim,
tudo indica que o país passará um decênio com estagnação da renda per capita.
Desde o
início dos anos 1980, o Brasil passou por três grandes crises econômicas:
1981-83 (recessão Figueiredo-Delfim; 9 trimestres com queda acumulada de 8,5%);
1989-1992 (recessão Sarney-Collor; 11 trimestres, com queda de 7,7%) e 2014-16
(recessão Dilma-Temer; 11 trimestres e queda de 8,6%), segundo o relatório de
outubro de 2017 do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE). Mas por
conta de uma revisão dos cálculos do IBGE, devido a uma pequena margem, não se
pode falar, absolutamente, que a atual recessão foi a maior e mais profunda da
história da República.
Contudo, a
crise atual pode ser contabilizada como a de maior duração e a mais profunda,
se considerarmos não só o período de queda, mas também o tempo gasto para a
recuperação do padrão pré-crise (antes da recessão). Nota-se que após a
recessão Figueiredo-Delfim, o PIB cresceu 5,3% em 1984, 7,9% em 1985 e 7,5% em
1986; a expansão durou 17 trimestres, com uma média de crescimento de 6,4% por
trimestre. Após a recessão dos presidentes Sarney-Collor, o PIB cresceu 4,7% em
1993, 5,3% em 1994 e 4,4% em 1995; a expansão pós-recessão durou 12 trimestres,
com uma média de crescimento de 6% por trimestre.
No
pós-recessão Dilma-Temer, as projeções do FMI, atualizadas em 19 de abril de
2018, indicam um aumento do PIB de 1% em 2017, 2,3% em 2018, 2,5% em 2019 e
2,2% ao ano entre 2020 e 2023. Ou seja, enquanto a recuperação das duas outras
grandes recessões foi no ritmo de 6% aa, a recuperação atual está acontecendo
com uma média em torno de 2% ao ano.
Tecnicamente,
a recessão atual pode ter terminado no final de 2016, mas os dados indicam que
2017 foi o ano de pior recuperação de todas as grandes recessões anteriores da
economia brasileira. O gráfico acima mostra que o ponto de queda mais profundo
ocorreu em 2016, tanto para o PIB, quanto para a renda per capita. A partir de
2017, teve início o processo de lenta recuperação. Porém, no atual passo de
tartaruga, somente em 2020 o PIB brasileiro será maior do que o PIB de 2013 e
somente em 2023 a renda per capita será maior do que aquela de 2013.
O
Brasil vive a sua segunda década perdida. O gráfico abaixo mostra que a nação
brasileira – pela primeira vez na história – deve ficar, pelo menos 13 anos
(trecênio) crescendo abaixo do ritmo médio da economia mundial. Isto nunca tinha
acontecido antes e pode estar se tornando a nova norma. Significa também que o
povo brasileiro está ficando mais pobre em relação ao cidadão médio global.
O gráfico abaixo mostra que a renda per capita brasileira ultrapassou a
renda per capita mundial na década de 1970 e atingiu o valor máximo (quase 20%
maior) em 1980. Com a recessão ocorrida no último governo da ditadura militar,
a renda per capita voltou a ficar igual a renda mundial em 1983, recuperou um
pouco entre 1984 e 1986 e depois iniciou um processo de queda que, com pequenas
flutuações, continua num mergulho interminável e deve chegar em 2022 (nos
duzentos anos da Independência) com uma relação igual àquela do final da década
de 1950. Isto é, o brasileiro médio ganhará cerca de 80% da renda per capita
mundial. O Brasil foi uma economia emergente entre 1950 e 1980 e passou a ser
uma economia submergente a partir do ano de 1981. O povo brasileiro estava
enriquecendo em termos absoluto e relativo e agora está empobrecendo em termos
relativos.
O
empobrecimento geral do país tem impacto imediato na parcela inferior da
pirâmide de renda da população. O gráfico abaixo, apresentado em artigo de
Bruno Villa Bôas, no jornal Valor (12/04/2018), com base em levantamento da LCA
Consultores dos dados da PNAD Contínua do IBGE, mostra que o número de pessoas
vivendo em situação de extrema pobreza (menos de US$ 1,9 ao dia, equivalente a
R$ 133,72 em 2016 e R$ 136 em 2017) aumentou de 13,34 milhões em 2016 para
14,83 milhões em 2017. Mesmo com os recursos aplicados no Programa Bolsa
Família, o percentual de pessoas na extrema pobreza representava 6,5% em 2016 e
passou para 7,2% em 2017.
O aumento
da extrema pobreza tem a ver com a piora das condições do mercado de trabalho,
a diminuição do emprego formal e o crescimento da informalidade e dos empregos
precários. Entre o final de 2014 e o final de 2016 o Brasil perdeu mais de 3
milhões de empregos formais segundo dados do CAGED, do Ministério do Trabalho.
Em 2017, ano de “recuperação” do crescimento do PIB, de forma inédita, o
emprego formal diminuiu.
O
Brasil tem andado na contramão da história não só em relação ao emprego formal,
pois mantém fora do círculo de riqueza e bem-estar 26,4 milhões de pessoas, que
estavam desempregadas ou subutilizadas no 4º trimestre de 2017, segundo dados
da PNAD contínua do IBGE. A taxa composta de subutilização da força de trabalho
(medida mais ampla do desperdício do potencial produtivo do país) era de 20,9%
no primeiro trimestre de 2012, caiu para o nível mais baixo de 14,8%, no 3º
trimestre de 2014 e subiu durante a recessão econômica, atingindo 22,2% no 4º
trimestre de 2016. O pico ocorreu no 4º trimestre de 2017, com uma taxa de
23,6%.
O
desperdício do potencial produtivo da força de trabalho brasileira representa a
perda de uma oportunidade histórica, pois o Brasil vive o auge do bônus
demográfico, ou seja, o momento em que a razão de dependência demográfica está
em seu nível mais baixo e a proporção de trabalhadores em idade produtiva é a mais
alta de todos os tempos.
O processo
profundo de desindustrialização precoce e a opção pela “especialização
regressiva” (alta dependência das commodities e dos bens primários) tem
retirado competividade da economia brasileira. A retomada de 2017 foi baixíssima
e o crescimento de 2018 não deve ser nada muito diferente. O Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou um crescimento de
somente 0,09% em fevereiro, na comparação com o mês anterior. O Brasil vive um
período de esclerose e baixo crescimento antes mesmo de ter uma estrutura
etária envelhecida. O país vai ficando para trás, enquanto o mundo desenvolvido
avança na Quarta Revolução Industrial, Científica e Tecnológica.
Estes
13 anos (trecênio 2011-2023) em que o Brasil cresce menos que a média mundial
vieram no pior momento possível, pois representa o fim do sonho da construção
de um país próspero, de renda per capita alta e de alto Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). O drama brasileiro é que o bônus demográfico só
acontece uma vez na história de cada país e não aproveitá-lo pode significar a
condenação à condição de país eternamente acorrentado ao subdesenvolvimento.
(ecodebate)
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