Bambu
Na Semana Internacional do Meio
Ambiente muitas discussões são realizadas mundo afora para conscientizar e
sensibilizar as pessoas sobre a necessidade de conservação do meio ambiente bem
como sobre as alternativas para reverter a emissão de GEE e o aquecimento
global, cuja preocupação dos climatologistas é o limite de 1,5 a 2C° ou o
catastrófico nível de elevação de até 4C°. Esta preocupação é pertinente, pois
estimativas dão conta que já em 2024 seremos 8 bilhões de habitantes e que em
2048 atingiremos uma população de 9 bilhões de humanos a consumir combustíveis
fósseis, minerais e biomassas.
Desde recursos de bioengenharia
até geoengenharia que dependem de vultosos investimentos financeiros, são
propostos como alternativas de reversão destes indicadores negativos de mudança
do clima.
Mas as alternativas mais
pragmáticas são pequenas atitudes que devem a princípio ser compartilhadas com
o maior número de pessoas e que não dependem de muitos recursos – ao contrário
são poupadoras dos mesmos – como a coleta seletiva do lixo, deslocamento menor
em veículos movidos a combustíveis fósseis, uso de mais tecnologias limpas e
ter consciência e sensibilização para a preservação e manejo dos recursos para
as gerações futuras.
Uma das alternativas que deve
ser considerada promissora é o investimento coletivo no cultivo de espécies com
alta capacidade de captura de carbono, diversificada aplicação em produtos,
tecnologia de processamento e aproveitamento dominada, elevado retorno
econômico e grande apelo social.
É aqui que o bambu deve
ser levado a sério, mas infelizmente a maioria dos brasileiros só o conhece
como alimento dos ursos panda na China ou como vara de pescador. Para muitos do
campo é considerado como “praga” na propriedade pela alta capacidade de
proliferação de algumas espécies. O bambu é até discriminado no Brasil como
“madeira de pobre” e com raras exceções não é matéria de estudo nos cursos de
engenharia florestal.
Podemos conjecturar que o
bambu estava para os ancestrais orientais como as palmáceas estiveram para os
ancestrais sul-americanos. Por isso que o domínio tecnológico de aproveitamento
de bambu é de países asiáticos como China, Indonésia, Vietnam, mas, também com
aplicações na índia e alguns países africanos.
Investir no reflorestamento de
350 milhões de hectares de áreas degradadas com bambu até 2030 seria a
alternativa para salvar o mundo segundo uma proposta holandesa da Erasmus
University Roterdam e de outras organizações, pois segundo afirmam um
hectare de bambu fixa 1.000 toneladas de CO2 e produz economicamente
20 m³ de produto madeireiro de excelente qualidade.
O bambu se presta exatamente
para a recuperação de áreas degradadas e segundo pesquisadores cubanos armazena
por hectare 30.375 litros de água em seu sistema radicular e colmos, o
equivalente ao consumo de 150 pessoas que usam 200 l/dia. Essa água na estiagem
é liberada paulatinamente ao solo.
Para o controle de erosão o
bambu é imbatível. Pesquisas realizadas por Riquelme ett al, 2011 demonstram
que em parcelas com bambu a erosão foi de apenas 0,20 t/ha/ano de solo,
enquanto em parcelas com SAF e cultivo intercalar foi de 1,72 t/ha/ano e em
parcelas com monocultivo a erosão atingiu a explosiva marca de 23,39 t/ha/ano.
Como produtos econômicos o
bambu vem tendo aproveitamento dos mais diversificados com 1001 aplicações,
pelas suas propriedades de leveza, resistência e flexibilidade. Na China é
muito utilizado na construção civil no preparo de andaimes para acabamentos de
prédios moderníssimos. Na construção de residências luxuosas em Bali na
Indonésia. Em acabamentos no teto do aeroporto de Madri na Espanha. Em
escritórios luxuosos e ponte em Israel. Como biocompósito vem sendo utilizado na
fabricação de capacetes de motociclista, skates, instrumentos musicais e
escovas de dente. Com o carvão de bambu é feito até um dentifrício branqueador
dos dentes. Na sua forma natural é usado na movelaria, artesanato e na
agricultura como tutor de várias culturas comerciais e irrigação.
O Brasil é mesmo um país de
contrastes, pois se contrapondo ao desconhecimento do bambu, é nele que se
encontra a maior diversificação da espécie e um dos melhores climas para o seu
cultivo. Também tem a maior área de dispersão natural da espécie Guadua
angustifólia nos estados do Acre (180.00 km²) e Amazonas e o maior plantio
comercial de bambu na região nordeste, de 50.000 hectares pertencentes a uma
indústria de cimento que há mais de 30 anos, produz papel, polpa e sacos de
cimento, além de cavaco para biomassa na geração de energia, aquecimento de
caldeiras, fornos de siderúrgicas, cerâmicas e gessarias.
Para a Amazônia que com os seus
76 milhões de hectares desmatados, aproximadamente 10 milhões são áreas
degradas o grande potencial de exploração do bambu seria como sucedâneo da
madeira com o produto denominado de bambu laminado colado (BLC), tecnologia já
disponível na região semelhante ao processamento da madeira na forma de
compensado e conglomerado. Além da produção de brotos de bambu, com potencial
para exportação de milhões de dólares para o sudeste asiático, cujo consumo é
tradição, tecnologia também disponível na região, sendo a mesma da utilizada
para o processamento do palmito de açaí e pupunha.
A cultura do bambu se presta
tanto para a escala industrial como para os pequenos agricultores familiares.
Um grande potencial seria sua difusão nos assentamentos da reforma agrária como
componentes dos bem sucedidos sistemas agroflorestais (SAF).
Só acredito na preservação da
floresta Amazônia quando chegar ao mercado um produto concorrente da madeira e
este será o bambu laminado colado (BLC). Espero que nesta semana do meio
ambiente o bambu possa entrar na discussão das alternativas viáveis para
reverter o aquecimento global e se transformar em nosso país numa cultura de
retorno econômico, social e de alta relevância ambiental. (ecodebate)
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