Esta
semana começa a Copa do Mundo de Futebol na Rússia, que é o maior país do
mundo, em termos de extensão territorial, com 17,1 milhões de km2 e tem um
território duas vezes maior do que o do Brasil. Também possui uma das menores
densidades demográficas do mundo, apenas 8 habitantes por km2.
A
Rússia foi o país que sofreu as maiores perdas humanas durante a Primeira
Guerra Mundial, que terminou em 11/11/1918 e vai completar 100 anos em 2018.
Houve também uma grande mortalidade por conta da Guerra Civil e da fome na
década de 1920. Em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista invadiu a União
Soviética e jogou o país na Segunda Guerra Mundial, provocando a morte de
outros milhões de russos e soviéticos. Com o fim da URSS, em dezembro de 1991,
o país entrou novamente em crise e houve grande queda da esperança de vida. A
Rússia do século XX foi marcada por grandes tragédias e por uma alta
mortalidade.
Mas
o que vai marcar a dinâmica demográfica da Rússia no século XXI é a redução das
taxas de fecundidade e o decrescimento demográfico, que já vem ocorrendo desde
a década de 1990. A Rússia atual é um país que já apresenta um dos maiores
declínios populacionais do mundo.
Em
1950, a população da Rússia era de 102,7 milhões de habitantes (quase o dobro
dos 52 milhões de brasileiros na mesma data), chegou ao pico de 148,9 milhões
de habitantes em 1993, sendo 69,7 milhões de homens e 79,2 milhões de mulheres
e depois caiu para 143,9 milhões em 2017. Segundo a projeção média da Divisão
de População da ONU (revisão 2017), a população da Rússia deve cair para 132,7
milhões até 2050 e 124 milhões em 2100. As diversas projeções para o restante
do século XXI estão apresentadas no gráfico acima.
A
taxa de fecundidade total (TFT) da Rússia já era baixa em 1950, sendo de 2,85
filhos por mulher (no Brasil era mais de 6 filhos nesta época) caiu para o
nível de reposição (em torno de 2,1 filhos) entre 1965 e 1990, mas despencou
depois do fim da União Soviética e a desorganização do país, chegando a recorde
de baixa de 1,25 filhos por mulher no quinquênio 1995-00. Depois aumentou um
pouco, mas ainda se encontra em níveis baixos, estando em 1,75 filhos por
mulher em 2015-20. O número médio de nascimentos anuais de crianças foi de 2,8
milhões em 1950-55, caiu ligeiramente para 2,4 milhões em 1985-90 e despencou
para apenas 1,3 milhão de nascimentos em 1995-00. No quinquênio 2015-20 houve
uma pequena recuperação para 1,8 milhão de nascimentos anuais (O Brasil neste
período tinha cerca de 3 milhões de nascimentos anuais e o Paquistão 4,7
milhões anuais).
As
diversas crises de mortalidade e da natalidade fizeram a estrutura da pirâmide
populacional sofrerem enormes descontinuidades, como pode ser visto no gráfico
acima. Entre 1950 e 2050 as pirâmides apresentam diversos “dentes”, que devem
desaparecer somente em 2100 quando a pirâmide deve apresentar um formato mais
retangular e com uma estrutura etária bastante envelhecida e com menores
diferenciais de gênero.
Além
da baixa fecundidade a Rússia sofre com a redução da esperança de vida. A
esperança de vida média de homens e mulheres era de 64,5 anos no quinquênio
1950-55 e subiu para 69,1 anos em 1985-90. Mas depois da crise econômica e
social decorrente do fim da União Soviética, a esperança de vida caiu e chegou
a 64,9 anos no quinquênio 2000-05. Em 2015-20 houve uma ligeira recuperação,
para 71,2 anos, acima do nível de 20 anos atrás. A esperança de vida das
mulheres estava em 76,8 anos, mas a esperança de vida dos homens estava em meros
65,6 anos.
Ou
seja, a diferença na expectativa de vida entre os sexos era de mais de 11 anos,
a maior diferença do mundo. Os altos níveis de alcoolismo dos homens explicam
em grande parte estas diferenças. Nota-se que a Rússia tem um grande superávit de
mulheres em relação aos homens, ao contrário, por exemplo, da China e da Índia
que possuem uma razão de sexo com superioridade masculina. A sobre mortalidade
masculina é bastante alta.
Para
enfrentar a “crise demográfica”, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs
incentivos à natalidade para evitar que o país veja sua população diminuir
ainda mais, uma proposta com viés eleitoral anunciada antes das novas eleições
para o Kremlin. Segundo Putin: “A situação demográfica na Rússia volta a ser
preocupante, em primeiro lugar por razões objetivas. Devemos relançar nossas
políticas para promover a natalidade e reduzir a mortalidade”. A medida mais
ambiciosa das propostas do presidente russo prevê subsidiar parte dos juros das
hipotecas para que as famílias tenham um segundo ou um terceiro filho a partir
de janeiro de 2018.
Em
termos ambientais, a Rússia tem superávit, pois a biocapacidade está acima da
pegada ecológica. Mas o degelo da Sibéria pode liberar grandes quantidades de
metano do permafrost, agravando o aquecimento global e a acidificação dos solos
e dos oceanos.
A
Rússia faz parte do grupo dos BRICS e entre os 5 países é o que possuí o maior
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Mas as pretensões de hegemonia na
antiga área da URSS faz a Rússia investir muito em gastos militares e em
medidas autoritárias contra os setores da oposição. O apoio ao regime de Bashar
Hafez al-Assad, na Síria, tem acirrado o conflito com os EUA, o Reino Unido e a
França.
Por
outro lado, uma aliança estratégica com a China e a Índia pode criar uma força
nova na Eurásia que desloque o centro dinâmico do mundo para a Ásia. Este
triângulo estratégico pode enfraquecer a hegemonia Ocidental e acelerar o
processo de Orientalização do mundo. A Rússia veria o seu prestígio aumentado.
A
Copa do Mundo de Futebol, de 2018, vai colocar a Rússia em destaque nos
noticiários do mundo. Vale a pena conhecer mais a realidade econômica, social e
ambiental deste que é o maior país do mundo em extensão territorial e uma das
civilizações mais influentes do globo. (ecodebate)
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