Emissões
de CO2, por área territorial, nos 3 países mais poluidores do mundo.
“A
estabilidade e a resiliência do nosso planeta estão em perigo” - Timothy Lenton
(27/11/2019).
O mundo vive uma emergência
planetária em decorrência do caos climático e das mudanças ambientais
descontroladas. A temperatura da Terra já subiu mais de 1º C desde o início da
Revolução Industrial e o ritmo do aquecimento global tem se acelerado,
prenunciando um grande desastre ecossocial nas próximas décadas.
O que provoca o aumento do
aquecimento global é a elevação da concentração de gases de efeito estufa. A
concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou de
aproximadamente 277 partes por milhão (ppm) em 1750, no início da era
industrial, para cerca de 410 ppm em 2019. As emissões globais de CO2
estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas
em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 36 bilhões
de toneladas em 2017.
Os 3 países que mais emitem dióxido
de carbono são também os 3 países mais populosos do mundo: China, Índia e
Estados Unidos da América (EUA). Historicamente, os EUA lideram a lista dos
países que mais poluíram ao longo do tempo, a China assumiu a ponta das
emissões anuais totais a partir de 2006 e a Índia passou a ter as maiores taxas
de crescimento das emissões na atual década.
Durante todo o século XX, os EUA emitiam mais CO2
em quantidade total, em termos per capita e em termos de área. Porém, o quadro
mudou no século XXI. Em 2017, a China emitiu 9,7 bilhões de toneladas de CO2,
os EUA emitiram 5,3 bilhões e a Índia 2,4 bilhões de toneladas. Em termos per
capita, em 2017, os EUA emitiam cerca de 16 toneladas por habitante, a China 7
toneladas e a Índia 2 toneladas por habitante. Em termos de emissões por área,
a China emitiu 1.011 toneladas de CO2 por km2, a Índia
723 toneladas por km2 e os EUA emitiram 567 toneladas de CO2
por km2, conforme mostra o gráfico abaixo. Ou seja, a Índia
ultrapassou os EUA nas emissões de CO2 por unidade territorial.
Segundo relatório da BP
Statistical Review of World Energy (2019), China, EUA e Índia são os três
maiores produtores de carvão mineral, com produção, em 2018, respectivamente de
1829, 365 e 308 milhões de toneladas. Em termos de produção de carvão por área,
a China (área de 9,6 milhões de km2) produz 191 toneladas por km2, a
Índia (área de 3,3 milhões de km2) produz 94 toneladas por km2
e os EUA (área de 9,4 milhões de km2) produzem 39 toneladas por km2.
Matéria da BBC (4/11/2019)
mostra que a qualidade do ar em Nova Delhi é tão ruim que inviabiliza várias
atividades. Além das doenças respiratórias, diversos voos são desviados nos
momentos mais críticos, as escolas cancelam as aulas, os moradores são
aconselhados a evitar atividades físicas ao ar livre, os habitantes são
incentivados a usar máscaras, etc. Os níveis de poluição da Índia – que possui
grandes megacidades com alta densidade demográfica – são altamente prejudiciais
à saúde.
Portanto, a Índia – que deve
ultrapassar a China como o país mais populoso do mundo na próxima década – está
se tornando uma grande fonte de poluição nacional e global. A Índia sempre teve
uma emissão de CO2 per capita muito baixa, mas na medida em que a
economia e a população crescem o nível total de poluição fica volumoso e
altamente danoso, agravando sobremaneira o quadro geral das mudanças
climáticas.
O fato é que a estabilidade e
a resiliência do nosso planeta estão em perigo como mostra artigo publicado na
revista Nature (Lenton et. al. 27/11/2019). Os autores consideram que os seres
humanos estão ignorando o risco crescente de pontos de inflexão que, se
ultrapassados, poderiam levar o sistema climático a um novo estado,
potencialmente tornando a Terra tão quente que seria progressivamente
inabitável. Há um risco maior de que as “mudanças bruscas e irreversíveis” no
sistema climático possam ser desencadeadas com aumentos de temperatura global
menores do que se pensava há alguns anos. O estudo considera que não se trata
apenas de um pouco mais de calor, mas sim um processo em cascata que já está,
ou pode ficar, fora de controle.
Pouco antes da realização da
25ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima (COP25), um novo relatório do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA) afirmou que as emissões globais de gases de efeito
estufa avançaram em média 1,5% por ano na atual década e precisam cair 7,6% ao
ano entre 2020 e 2030, ou o mundo perderá a oportunidade de entrar na
trajetória rumo à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura
em até 1,5°C.
Uma notícia auspiciosa,
anunciada durante a COP25, é que a União Europeia (UE) pretende realizar uma
ampla iniciativa ambiental voltada para a criação do primeiro continente do
mundo neutro em carbono até 2050. O plano aborda tudo que vai de regras de
ajuda estatal, política industrial ecológica e um imposto de carbono para
importações. Mas a COP25 foi um fracasso e procrastinou as soluções para a
COP26 que acontecerá em Glasgow, em 2020.
O mundo precisa ter emissões
líquidas zero e, principalmente, os 3 maiores poluidores (China, EUA e Índia)
precisam fazer um esforço especial. Todos os países precisam reduzir as suas
emissões, assim como todas as nações precisam contribuir com o esforço de
mitigação do aquecimento global.
Atualmente, são os países pobres
(como a Índia) ou países de renda média (como a China) que possuem as maiores
taxas de emissão de CO2, pois precisam crescer para reduzir a
pobreza.
Contudo, não dá para manter o ritmo
insustentável do atual modelo de produção e consumo do mundo e nem ficar
sufocado pelo crescimento desregrado. Para reduzir a pobreza é preciso focar
mais na desigualdade e em meios de produção mais amigáveis com a natureza. O
decrescimento demoeconômico global é fundamental para reduzir as emissões de CO2
e para reduzir a pegada ecológica mundial.
Os 3 países mais populosos e
mais poluidores precisam fazer sua parte e dar exemplo para o resto do mundo.
Infelizmente, eles fizeram pouco para que a COP25 tomasse medidas concretas
para reduzir as emissões globais. Todavia, garantir a resiliência do Planeta é
uma questão de vida ou morte! (ecodebate)
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