“Todos
os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos
gente e mais difíceis e, em última
instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas” - David
Attenborough.
Está cada vez mais difícil
produzir alimentos de forma sustentável. O relatório “Climate Change and Land”,
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU
(08/08/2019) – que trata da conexão entre o uso da terra e seus efeitos sobre a
mudança climática – mostra que existe um efeito perverso de retroalimentação
entre as duas coisas, pois a produção de alimentos aumenta o aquecimento
global, enquanto as mudanças climáticas decorrentes ameaçam a produção de
alimentos.
O relatório do IPCC mostra,
de forma inquestionável, que o crescimento da população mundial e o
aumento do consumo per capita de alimentos (ração, fibra, madeira e energia)
têm causado taxas sem precedentes de uso de terra e água doce, com a
agricultura atualmente respondendo por cerca de 70% do uso global de água doce.
Adicionalmente, o aumento da produção e consumo de alimentos contribuíram para
o aumento das emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE), perda de
ecossistemas naturais e diminuição da biodiversidade. O sistema alimentar
responde por cerca de 30% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE)
e 80% do desmatamento global.
Trabalho acadêmico publicado
na prestigiosa revista Nature Sustainability (Gerten et. al, 2020) mostra que o
sistema alimentar mundial atual pode alimentar apenas 3,4 bilhões de pessoas
sem transgredir os principais limites planetários, de acordo com uma análise do
sistema agrícola global. Todavia, a reorganização da produção de alimentos –
alterando a forma de cultivar e modificando a dieta cotidiana predominante –
possibilitaria alimentar até 10 bilhões de pessoas de forma sustentável.
Os autores dizem
categoricamente que “Não devemos continuar na direção de produzir mais
alimentos às custas do meio ambiente”. Utilizando o arcabouço teórico das
Fronteiras Planetárias, a equipe de Gerten analisou os quatro limites que são
relevantes para a agricultura: não usar muito nitrogênio, o que causa zonas
mortas em lagos e oceanos; não tirar muita água doce dos rios; não derrubar
muita floresta; e manutenção da biodiversidade.
A conclusão da equipe é que
metade da produção de alimentos hoje viola esses limites. No entanto, essa
análise também é a primeira a fornecer informações sobre onde, geograficamente,
esses limites estão sendo transgredidos. Ao mudar o que é cultivado, a equipe
diz que seria possível alimentar 10 bilhões de pessoas dentro dos quatro
limites.
Isso envolveria a criação de
espaços anecúmenos para a reselvagerização de áreas onde mais de 5% das
espécies estejam ameaçadas; reflorestar terras agrícolas onde mais de 85% da
floresta tropical foi derrubada; reduzir a captação de água para irrigação e
outras finalidades; e diminuição da fertilização nitrogenada, onde os níveis na
água superficial são muito altos. As fazendas podem ser expandidas em áreas
onde esses limites não estejam sendo excedidos. Poderia, por exemplo, restringir
o uso de fertilizantes em partes do leste da China e da Europa central e
expandi-lo em partes da África Subsaariana e do oeste dos EUA.
Segundo o estudo, tais
mudanças permitiriam a produção sustentável de alimentos suficientes para matar
a fome de 7,8 bilhões de pessoas, aproximadamente a atual população mundial.
Reduções no desperdício de alimentos e uma mudança no consumo de carne podem
aumentar este limite para 10,2 bilhões de habitantes – um pouco mais do que a
população mundial projetada para 2050. Uma grande ressalva é que se pressupôs
que o planeta não vai aquecer mais de 1,5°C. Um aquecimento global
descontrolado poderá degradar completamente a produção de comida e gerar uma
insegurança alimentar sem precedentes.
Em síntese, o mundo conseguiu
reduzir de forma significativa a fome no mundo a partir do uso dos combustíveis
fósseis e da destruição de muitos ecossistemas. A continuidade deste caminho
pode levar a humanidade para o precipício, pois a biocapacidade da terra está
diminuindo e os meios naturais para o sustento da humanidade estão definhando.
O crescimento desregrado da população e da
economia exerce uma pressão insustentável sobre o meio ambiente. O mundo
precisa mudar o regime do crescimento contínuo para o regime de decrescimento
até se chegar no Estado Estacionário. E a redução do volume populacional é uma
necessidade cada vez mais premente.
O mundo precisa de mais
árvores e menos gente (Alves, 02/10/2019). Como disse o grande naturalista
David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis
de resolver com menos gente e mais difíceis e, em última instância, impossíveis
de resolver com cada vez mais pessoas”. (ecodebate)
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