O menor crescimento
populacional nos EUA é uma boa notícia para o meio ambiente.
“A
população mundial precisa ser estabilizada e, idealmente, reduzida
gradualmente”.
Alerta
dos cientistas mundiais sobre a emergência climática (05/11/2019)
A taxa de crescimento
populacional nos Estados Unidos, em 2018, foi a mais baixa em um século devido
ao declínio do número de nascimentos, aumento de mortes e desaceleração da
migração internacional, segundo dados divulgados no final de 2019 pelo US Census
Bureau.
Os EUA cresceram cerca de
meio por cento, ou quase 1,5 milhão de pessoas, com a população total atingindo
328 milhões, segundo as estimativas da população. Essa é a taxa de crescimento
mais lenta nos EUA desde 1917 a 1918, quando o país esteve envolvido na
primeira guerra mundial.
Pela primeira vez em décadas,
o aumento natural – o número de nascimentos menos o número de mortes – foi
inferior a 1 milhão de indivíduos, devido ao envelhecimento da população de
Baby Boomers, cujos membros mais antigos entraram na casa dos 70 anos nos
últimos anos. À medida que a grande população Boomer continua a envelhecer e
ultrapassar o período reprodutivo, essa tendência de queda no número de
nascimentos vai continuar, pois haverá um número maior de mortes no alto da
pirâmide.
A migração internacional para
os EUA que estava acima de 1 milhão de imigrantes por ano antes de 2017,
diminuiu para 595 mil pessoas. As restrições de imigração do governo Trump
combinadas com a percepção de que os EUA têm menos oportunidades econômicas do
que antes da recessão de uma década atrás, contribuíram para o declínio.
A pirâmide populacional para
2020, da Divisão de População da ONU, mostra como as variações nas taxas de
fecundidade e natalidade alteraram a distribuição de sexo e idade dos EUA nos
últimos 100 anos. A taxa de fecundidade total (TFT) ficou estável em torno de 2
filhos por mulher entre 1990 e 2010 e caiu para algo em torno de 1,8 filhos por
mulher na atual década, o que contribuiu para a redução da base da pirâmide.
Para o final do século XXI, a
Divisão de População da ONU, faz 3 estimativas, conforme pode ser visto na
pirâmide abaixo. Na projeção média estima-se uma população de 434 milhões de
habitantes em 2100 (com TFT ficando estável ao redor de 1,8 filhos por mulher e
a imigração em torno de 1 milhão de pessoas ao ano). Na projeção alta,
estima-se uma população de 600 milhões em 2100 (com TFT ao redor de 2,3 filhos
por mulher). Nas projeção baixa, estima-se uma população de 307 milhões de
habitantes em 2100 (com TFT ao redor de 1,3 filhos por mulher).
Segundo o CDC (Center for
Disease Control and Prevention), as taxas específicas de fecundidade (TEF)
caíram para praticamente todas as idades entre o primeiro quadrimestre de 2017
e o segundo quadrimestre de 2018, com declínio consistente da gravidez na
adolescência.
A TEF do grupo etário 15-19
anos caiu de 19,9 filhos (em cada 1 mil adolescentes) para 17,2. Na realidade a
taxa de fecundidade entre os adolescentes nos EUA vem caindo consistentemente
nos anos 2000 e a política de “abstinência sexual” implementada,
principalmente, durante o governo George W. Bush se mostrou muito pouco efetiva
(a ministra Damares Alves deveria fazer uma avaliação de todo o processo de
redução da gravidez indesejada nos EUA e não somente copiar uma parte do que
aconteceu por lá e que não foi a melhor parte).
No grupo 20-24 a queda foi de
73,1 para 67,9. No grupo 25-29 foi de 100,9 para 95,3. No grupo 30-34 de 101,9
para 99,9. No grupo 35-39 houve ligeira alta de 52,4 para 53,2, assim como no
grupo 40-44 que passou de 11,4 para 12,0. No grupo 45 anos e mais a TEF ficou
estável, mas em um nível muito baixo de apenas 0,9 filhos para cada mil
mulheres.
O fato é que as taxas de
fecundidade estão caindo nos EUA e o ritmo de crescimento populacional está
desacelerando. Esta é uma boa notícia para o meio ambiente. Os EUA emitiram 5,4
bilhões de toneladas de CO2, em 2018. Em termos per capita, os EUA
emitiram cerca de 16 toneladas por habitante. Supondo a permanência da mesma
taxa de emissão per capita, as emissões totais de CO2 nos EUA, em
2100, seriam de 9,6 bilhões de toneladas na hipótese de 600 milhões de
habitantes no final do século, de 6,9 milhões de toneladas na hipótese de 434
milhões de habitantes e de 4,9 milhões de toneladas na hipótese de 307 milhões
de habitantes.
Ou seja, a diferença entre a
projeção populacional alta e baixa (tudo o mais constante) pode significar uma
redução anual de até 4,7 bilhões de toneladas de C02. Uma população
menor significaria uma pegada ecológica total menor e um alívio da sobrecarga
ambiental. O meio ambiente ficaria ainda mais agradecido se, paralelamente ao
decrescimento populacional, houvesse também um decrescimento do padrão de
consumo.
A China que é o maior emissor
de CO2 do século XXI já apresentou uma grande queda da fecundidade e
vai ter um grande decrescimento populacional até 2100. No quinquênio 1965-70
nasciam mais de 30 milhões de crianças por ano e esta quantidade foi caindo até
ficar em torno de 16 milhões por volta de 2015. Com o fim da política de filho
único, nasceram 17,2 milhões de bebês em 2017, mas este número caiu para 15,2
milhões em 2018 e 14,7 milhões em 2019, o menor nível desde a época da Segunda
Guerra.
Se os EUA, que são o segundo
maior emissor, também reduzir o volume de população, não só o país, mas todo o
Planeta, sairia ganhando. Evidentemente, todo este debate repercutiu na mídia.
O jornal Washington Post, de cunho liberal, fez um editorial (04/01/2020)
repetindo a velha cantilena de que a queda da fecundidade e a redução do
crescimento populacional prejudica a grandeza do país: “essas tendências podem
significar menos crescimento econômico e uma base de suporte reduzida para uma
grande coorte aposentada”.
Em contraponto, um leitor
escreveu: “Uma
população em declínio naturalmente daria aos Estados Unidos mais tempo para
usar a quantidade limitada de recursos que temos, para encontrar um plano
bipartidário de ataque contra as mudanças climáticas e criar legislação para
proteger o meio ambiente. O futuro deste planeta está em perigo. Uma diminuição
da população em um dos países mais influentes seria construtiva”.
Ou seja, o fundamentalismo
religioso, o conservadorismo moral, os desenvolvimentistas dogmáticos e o
tecnófilos cornucopianos continuam defendendo um pronatalismo disfarçado,
antropocêntrico e ecocida, além de demonizar o decrescimento demoeconômico.
Contudo, o mundo não suporta mais gente e mais consumo num cenário de menos
vida selvagem e menos natureza.
Como mostrou o relatório do Fórum Econômico
Mundial, de janeiro de 2020, a crise climática é o maior risco global da
atualidade, pois se nos anos anteriores os problemas econômicos eram
considerados as maiores ameaças, agora os temores de colapso climático ficaram
no centro do palco, especialmente as condições climáticas extremas, os
desastres ambientais, a perda de biodiversidade, as catástrofes naturais e a
falha na mitigação das mudanças do clima.
Como disse o grande
naturalista David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de
resolver com menos pessoas e mais difíceis e, em última instância, impossíveis
de resolver com cada vez mais pessoas”.
(ecodebate)
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