Desde o início do ano, um senso de urgência ganhou
pauta em uma série de notícias e artigos que tenho acompanhado. A chamada
Década da Ação, foi clamada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma
forma de acelerar o progresso global rumo ao desenvolvimento sustentável até
2030. Nesse contexto, entendo que é possível vislumbrar quatro principais
desafios – oportunidades nessa jornada para os próximos 10 anos. São eles:
Mudanças Climáticas e o
impacto nos mercados
Mudanças climáticas em nível global são uma das
grandes barreiras para o atendimento da Agenda dos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável. Segundo o relatório “The Heat is On”, de 2019, cada país enfrenta
problemas diversos relacionados a mudança do clima, com impacto direto em suas
economias, e o efeito cascata causada por isso acaba afetando a vida de milhões
de pessoas. Os desastres ambientais como furacões, derretimento de geleiras, e
como vimos recentemente, queimadas e alto índice de chuvas, causam grandes
destruições que impactam diretamente os indivíduos, aumentando a situação de
vulnerabilidade em muitas famílias. Países pouco resilientes são os que mais
sofrem com essas mudanças, e consequentemente os que mais demoram para se recuperar.
Por outro lado, países como o Brasil têm um grande impacto na produção
agrícola que claramente tem relação direta com o clima. O pesquisador Marshal
Burke, do Earth System Science da Universidade de Stanford, realizou um estudo
que traz insights interessantes na relação das mudanças climáticas com a
economia. Após estudar por cerca de 50 anos o impacto do aquecimento global no
PIB, foi evidenciado que nos anos com climas mais quentes que a média, o
crescimento econômico aumentou nos países mais frios e reduziu nos países mais
quentes. Isso significa que, analisando a agricultura, por exemplo, os países
mais frios têm períodos reduzidos de geminação devido aos invernos rigorosos,
ao mesmo tempo em que nas temperaturas elevadas a produção diminui de maneira
acentuada. Logo, estes que são grandes importadores de alimentos passam a ter
condições de produzir em seu próprio território, ao invés de comprar de países
de matriz agrícola, como por exemplo, o Brasil, que segundo o estudo teria tido
um crescimento 20% maior se não fosse o aquecimento global.
Transição do mercado de
investimentos para a sustentabilidade
O risco climático é um dos grandes fatores
responsáveis pela transição do mercado financeiro. Recentemente, o presidente
da BlackRock – maior gestora de ativos do mundo – em sua carta aos clientes,
anunciou uma mudança estratégica de investimentos, para posicionar a
sustentabilidade no cerne no negócio. Responsável pela administração de mais de
USD 7 trilhões, Larry Fink, discutiu alguns dados do Painel Intergovernamental
sobre Alterações Climáticas da ONU e estudos da McKinsey, sobre as
consequências socioeconômicas do risco climático físico e como impacta o
sistema global que financia o crescimento econômico. Ele questionou, por exemplo,
se as cidades serão capazes de suprir as necessidades de infraestrutura à
medida que o risco climático muda o mercado de títulos municipais; qual será o
impacto na inflação, e por sua vez às taxas de juros, se o valor dos alimentos
aumenta devido à seca ou às inundações; e como será possível modelar o
crescimento econômico se os mercados emergentes veem sua produtividade cair
como resultado das temperaturas extremamente altas e outros impactos
climáticos.
Esses questionamentos são importantes na medida em
que os investidores estão cada vez mais cientes que risco climático é um risco
de investimento. Empresas com estratégias sustentáveis, são consideradas de
menor risco devido a diminuição das externalidades negativas, o cuidado com a
sociedade, e a visão perene e de futuro. Organizações que “remam contra a
maré”, estão fadadas a encontrar certo ceticismo por parte dos mercados, o que
consequentemente amplia o seu custo de capital.
Geração de valor para as
partes interessadas
Sabemos que o modelo empresarial que tivemos até
mais recentemente é inevitavelmente visto como grande responsável pelos
problemas sociais, ambientais e econômicos, pois nesse mindset a prosperidade
empresarial era construída à custa da sociedade e das comunidades que estão em
seu entorno. Nesse modelo, enraizado desde a revolução industrial, o sucesso de
uma organização sempre esteve relacionado a geração de mais dinheiro ou lucro,
a curto prazo. Porém, essa chave virou. Nas últimas semanas no Forum Econômico
Mundial em Davos, se discutiu muito a importância das empresas servirem aos
seus stakeholders, ou seja, basearem a sua estratégia no desenvolvimento das
partes interessadas e não apenas dos seus acionistas. É imperativo que as
organizações entendam que o bem estar dos seus colaboradores, a satisfação dos
clientes e da comunidade do entorno, o respeito ao meio ambiente e aos seus
fornecedores, a transparência e a ética são essenciais para uma visão de
prosperidade organizacional e visão em longo prazo.
Nova geração, novo
mindset
Por fim, aliados a todas essas transformações,
temos a voz das novas gerações. Segundo pesquisa feita pela Anistia
Internacional com a Geração Z (18-25 anos), a mudança climática foi a questão
mais importante enfrentada pelo planeta, citada por 41% dos jovens. No Brasil,
a corrupção foi a mais citada, seguida pela instabilidade econômica, poluição e
desigualdade de renda. Estamos em um momento de transição geracional, com a
ascensão dos chamados Millenials dentro do ambiente corporativo e na tomada de
decisão, bem como a chegada da Geração Z no mercado de trabalho. São
estudantes, empreendedores, consumidores e investidores que tem uma nova forma
de enxergar o mundo e se relacionam de maneira diferente com as empresas que
consomem ou trabalham.
É importante estar atento a esse novo mindset de
uma geração com poder de compra de mais de U$ 3,5 trilhões de dólares e que
segundo análise da Bloomberg, ainda esse ano ultrapassa os Millenials compondo
32% da população mundial. Assim como os Millenials, a Geração Z é bastante
conectada ao propósito das empresas e valorizam a autenticidade, transparência
e sustentabilidade.
Entender o panorama atual que o planeta está e para
onde estamos indo é o primeiro passo para que as organizações possam prosperar
nesse futuro quase incerto. É necessário estar atento às transformações e
oportunidades para responder de maneira ágil a esses desafios. Um bom roadmap é
olhar para a os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e construir
estratégias que estejam alinhadas a essas metas. Que tal ser parte da mudança?
(ecodebate)
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