E se a Terra parasse de
girar? O que aconteceria?
A cada 24 horas (ou melhor,
23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos), a Terra completa um ciclo de rotação,
girando em torno de si mesma a quase 1,7 mil quilômetros por hora. Entretanto,
nosso planeta vem girando mais devagar — algo revelado em um estudo científico
publicado em 2016 no The Royal Society. Nos últimos 28 séculos, essa velocidade
teria diminuído 1,8 milissegundo por século, segundo o estudo, fazendo com que
os dias ficassem 1,8 milissegundos mais longos a cada 100 anos. Não parece
muita coisa, mas, ao longo de tanto tempo, isso implica em alterações
significativas. E daí fica a pergunta: e se um dia a Terra parasse de girar por
completo? O que aconteceria?
Só para ter uma ideia de como
essa desaceleração já afetou a Terra, há 250 milhões de anos, cada rotação
completa tinha aproximadamente 23 horas. Após a extinção dos dinossauros, há 63
milhões de anos, um dia inteiro passou a ter cerca 23 horas e 30 minutos — até
chegarmos às atuais quase 24 horas. Embora o “freio” não seja constante, a
rotação segue um pouco mais devagar, devido a algumas razões.
A força gravitacional da Lua,
que, aos poucos fica mais distante de nosso planeta, é o principal dos motivos.
E isso causa desastres naturais, como terremotos e tsunamis, o que, por sua
vez, também diminuem a velocidade da Terra. O próprio formato do planeta (que
não é literalmente redondo, estando mais para um geoide com polos levemente
achatados) está na lista de causas da desaceleração. Uma pesquisa da revista
Science prevê que, em 2100, o ano terá 5 milissegundos a mais do que
atualmente.
Ainda assim, o planeta não
vai chegar ao ponto de parar de girar por completo. De acordo com o Dr. Sten
Odenwald, cientista-educador da NASA, a probabilidade de a Terra parar de girar
é “praticamente zero nos próximos bilhões de anos”. Mas o que aconteceria se
algum evento inimaginável e poderoso o suficiente pudesse paralisar a rotação
de nosso planeta? Eis algumas hipóteses do que poderia acontecer.
Seis meses de luz, seis meses
de escuridão
De acordo com Odenwald, segundo as leis atuais
da física, a Terra nunca pararia “por completo” nesse progresso natural da
redução de sua velocidade de rotação. Mas, caso isso acontecesse de repente, a
atmosfera continuaria em movimento na linha do equador, na mesma velocidade
atual de quase 1,7 mil quilômetros por hora. Assim, carros, pedras, árvores,
edifícios, eu, você e tudo que não estivessem presos às camadas rochosas seriam
sugado pela atmosfera.
Tudo que não estivesse preso
às camadas rochosas da Terra seria sugado pela atmosfera.
Agora, se o congelamento da
rotação acontecesse de forma natural, nós teríamos seis meses de luz e outros
seis de escuridão, porque o Sol só nasceria e se poria uma vez por ano. Ou
seja: o dia planetário teria duração de 365 dias normais. É que a Terra
manteria sua relação com o Sol em uma órbita heliossíncrona — uma parte do
planeta seria banhada pelos raios solares durante o dia, enquanto a outra
ficaria completamente gelada nesse longo período noturno. E, claro, todos os
eventos climáticos seriam afetados, assim como a visualização dos astros no
céu.
A temperatura dependeria da
sua latitude e afetaria o padrão de circulação dos ventos atmosféricos, que
iriam transitar pelos polos, em vez do equador, como acontece atualmente. À
medida que você se movesse ao longo de linhas constantes da latitude da Terra,
você veria a elevação do Sol aumentar ou diminuir no céu conforme a sua
movimentação — e não de acordo com a rotação do planeta, como acontece hoje.
Polos magnéticos que oscilam
ao longo do ano, não teriam o equilíbrio atual, e a intensidade do campo magnético
decairia para um valor residual baixo. Não haveria mais auroras boreais e
austrais, e o Cinturão de Van Allen provavelmente desapareceria, assim como
nossa proteção contra raios cósmicos e outras partículas de alta energia,
podendo significar graves consequências para todos os seres vivos.
Água nos polos e seca no
equador
Em uma análise da ESRI,
empresa estadunidense especializada em informações geográficas, se a Terra
parasse de girar por completo, a força centrípeta que tornou o centro do
planeta mais “gordinho” (e elevou as águas em cerca de oito quilômetros ao
longo de bilhões de anos) não estaria mais em ação. Assim, a linha do equador
seria formada por terras secas, e os oceanos migrariam para os polos.
Teríamos, então, apenas dois
oceanos polares totalmente desconectados. No norte, o Canadá seria totalmente
subaquático, assim como todos os outros países da linha imaginária com a
fronteira dos Estados Unidos ao longo do globo. Groenlândia, bem como as
planícies do norte da Sibéria, Ásia e Europa também ficariam debaixo da água.
Na parte debaixo, o novo
oceano do sul começaria aproximadamente em uma linha que atualmente atravessa
Camberra, na Austrália. A Argentina, por exemplo, ficaria completamente
submersa. Como a bacia subaquática ao redor do Polo Sul é muito maior do que a
bacia ao redor do Polo Norte, o “Oceano Sul” teria um nível do mar cerca de 1,4
quilômetros abaixo do “Oceano Norte”.
Simulação mostra faixa de
terra que apareceria na linha do equador e os polos sob a água.
A faixa central do planeta
poderia se tornar, então, um “megacontinente”, unindo a América do Sul, África,
Europa e Ásia em um só bloco de Terra conectado. A gravidade, como dito na
outra hipótese acima, seria também afetada, pois os polos, que são aproximadamente
10 quilômetros mais próximos do centro da Terra do que no equador, teriam um
poder de atração ainda mais forte.
Nada a se preocupar (por
bilhões de anos)
Assim como vemos no filme O
Dia em que a Terra Parou — que, na verdade, tem a ver com uma invasão
alienígena —, o mundo ficaria em choque com algo do tipo. O pânico e todas as
consequências econômicas e sociais, aliados aos desastres naturais (e a coisas
como objetos e pessoas sendo levadas para a atmosfera) iriam praticamente
destruir tudo o que conhecemos atualmente no planeta.
A própria possibilidade de
vida em si seria afetada, especialmente por conta da intensa radiação solar,
sem nosso “escudo” protetor criado pelo campo magnético. Ou seja: seria um
completo desastre para todos os seres vivos.
Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=qr_aEHXfC70&feature=emb_logo
A boa notícia, como dito
acima, é que não há condições, de acordo com as leis da física, para a Terra
parar “por completo”. E, mesmo se ela chegasse a um estado natural próximo a
isso, esse processo levaria bilhões e bilhões de anos para acontecer.
Provavelmente nosso planeta já teria sido destruído antes disso, quando o Sol
estiver "morrendo". Nossa estrela chegará ao fim de sua vida daqui a
mais ou menos 10 bilhões de anos, mas, em 5 bilhões de anos, ela se tornará uma
gigante vermelha, com suas camadas externas se expandindo até a órbita de Marte
— ou seja, "engolindo" a Terra. (canaltech)
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