Segundo a Bíblia, Deus disse: “Frutificai, disse
ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do
mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a
terra” (Genesis 1, 28–30). Isso é uma proposição tênue, considerando a
destruição ambiental de nossos tempos. A história nos mostra as idades negras
de nossa civilização e ainda os dois colapsos dentro dos últimos 5.000 anos na
Europa. A pergunta é: Qual a chance de um terceiro colapso?
A ocupação do planeta está ocorrendo de forma
marcadamente insustentável, especialmente desde a Revolução Industrial, que tem
exigido medidas drásticas que vão além das que são comumente propostas para se
alcançar a sustentabilidade, sendo que a posição da humanidade como espécie
dominante no planeta vem sendo atacada por ameaças severas, resultantes dos
próprios excessos, particularmente durante os últimos 200 anos. Em outras
palavras, o conceito de desenvolvimento sustentável, como aqui definido, logo
abaixo, pode ser uma quimera, por ser divorciado da realidade de nossa ocupação
do planeta.
Sustentabilidade pode significar muitas coisas.
Basicamente, significa a capacidade de alguma coisa ou alguma prática ser
sustentável ou ser continuada, indefinitivamente, no futuro, em sua forma
presente. O termo é frequentemente atrelado a outros termos, como no caso de
sustentabilidade social, agricultura sustentável e crescimento sustentável.
Contudo, o uso mais comum do termo tem sido em sustentabilidade ambiental e
desenvolvimento sustentável, termos diferentes, mas relacionados, que tentam
descrever a melhor forma de interagir com o meio-ambiente.
Sustentabilidade ambiental e desenvolvimento
sustentável são frequentemente usados de forma intercalada, mas esta prática é
enganosa, visto que eles têm significados separados. Problemas ambientais têm
sido o ímpeto central para o crescimento do conceito de sustentabilidade nas
questões mundiais atuais e a sustentabilidade ambiental é um movimento que
busca reduzir o impacto da prática humana nos sistemas ambientais e ecológicos
que nos apoiam.
O desenvolvimento sustentável utiliza as ideias da
sustentabilidade ambiental o desenvolvimento e crescimento econômico. O
desenvolvimento sustentável tem sido descrito como sendo similar ao tradicional
desenvolvimento e crescimento econômico, apenas com a adição dos recursos
naturais como uma forma de capital natural (ASEFA, 2005). O capital natural
proporciona mercadorias e serviços da mesma forma que o capital manufaturado, e
sua incorporação na equação econômica estabelece valores para os recursos
naturais que são, por sua vez, incluídos na análise econômica. O valor
monetário pode de fato ser atribuído aos recursos naturais, prática comum na
análise econômica sustentável, mas o debate continua sendo sobre como
determinar valores apropriados e se os sistemas naturais devem mesmo ser
apropriados para a agenda do crescimento econômico do capitalismo moderno.
A questão é se a promoção do crescimento econômico
contínuo é compatível com a prática sustentável. Portanto, quando usada
isoladamente, sustentabilidade usualmente se refere à sustentabilidade
ambiental ou ao desenvolvimento sustentável, sendo que a proliferação de uso do
termo nos últimos anos por uma variedade de entidades, com vários objetivos e
agendas, criou certa ambiguidade no seu significado.
Assim sendo, durante as últimas duas décadas, o
conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo usado e aceito amplamente
como sendo a forma de se viver em harmonia com o meio-ambiente. Numerosas
definições de sustentabilidade, citadas na literatura, oferecem numerosas
tentativas de abarcar o conceito em poucas palavras, notadamente a mencionada
pelo Relatório Brundtland (Our Common Future), do Conselho Mundial das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, publicado em 1987.
Portanto, um dos primeiros e mais influentes textos
destinado a promover o conceito de desenvolvimento sustentável foi o denominado
Relatório Brundtland, assim chamado por conta do nome do presidente da Comissão
Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (World Commissionon
Environmentand Sustainability – WCED, 1987). Este relatório trouxe a
necessidade do desenvolvimento sustentável para a atenção do mundo, convencendo
muitos governantes no mundo desenvolvido, pelo menos na retórica, a dar atenção
a esta ideia.
A definição de desenvolvimento sustentável no
Relatório Brundtland é dada nos seguintes termos: “o desenvolvimento que
satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de suprir suas próprias necessidades” (WCED, 1987). Um ponto chave
desta definição é que ela mostra a distinção entre sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável: desenvolvimento sustentável é a aplicação de
sustentabilidade ao modelo capitalista de crescimento econômico. Ao contrário
do chamado Limites ao Crescimento, do Clube de Roma, o Relatório Brundtland
abraça crescimento econômico, afirmando que não é o caso em que quanto menos o
crescimento econômico ou consumo, mais sustentável é o crescimento. É o
conteúdo do crescimento que é crítico (WCED, 1987).
Our Common Future põe muita fé na habilidade de
novas tecnologias para mudar o conteúdo do crescimento, para substituir velhas
tecnologias destrutivas por novas tecnologias “sustentáveis” dentro do
paradigma de crescimento econômico. A história de sustentabilidade é uma
história de ideias em competição, forças e agenda, sendo que estas duas visões
opostas de crescimento econômico representam uma competição que tem prevalecido
desde o início da ideia.
Our Common Future também inclui consideráveis
comentários sobre questões sociais; a definição de sustentabilidade é centrada
nas necessidades humanas do presente e do futuro. Especificamente, ela foca na
dicotomia entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, reconhecendo
amplamente as diferentes condições em diferentes localidades, oferecendo
diferentes recomendações para cada uma delas. Países desenvolvidos e em
desenvolvimento são frequentemente agrupados na literatura com os termos Norte
e Sul, o Norte se referindo principalmente aos países ricos do hemisfério Norte
e o Sul se referindo aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento do
hemisfério sul.
Embora o Relatório trate das questões de equidade em
profundidade, desde a sua publicação, o foco de sustentabilidade tem sido
principalmente em questões ambientais e em ajustar o modelo econômico
prevalente para considerar fatores do meio ambiente, amplamente ignorando as
questões sociais que permeiam o problema.
Muitos enfoques específicos relacionados com o
desenvolvimento sustentável surgiram, a exemplo de
ecoeficiência/ecoefetividade, produção limpa, ecologia industrial, avaliação do
ciclo de vida, o chamado Global Reporting Iniciative, responsabilidade social
corporativa e 26000. Contudo, vendo os resultados destas iniciativas é
questionável se alcançamos algum progresso real em direção a uma sociedade
sustentável.
Muitos problemas, tais como mudanças climáticas,
perda da biodiversidade, além do crescimento da pobreza e discriminação contra
as mulheres tornaram-se mais severos desde 1987, ano de publicação do Relatório
Bruntland (BAUMGARTNER, 2011). (ecodebate)
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