O Brasil e o mundo dependem da Amazônia: ela não
merece ser destruída pela ilegalidade.
A
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura chama a atenção, mais uma vez,
para o grave cenário de desmatamentos e focos de incêndios ilegais na Amazônia,
que têm representado sério risco à biodiversidade, ao clima e à segurança
hídrica e têm sido avassalador para as populações tradicionais e para a
reputação do país frente a mercados, investidores e à sociedade em geral.
Por Fernanda
Macedo
Segundo
o MapBiomas, 99% de todo o desmatamento do Brasil em 2019 têm fortes indícios
de ilegalidade, ou seja, ocorreu em áreas protegidas com restrição à supressão
da vegetação ou sem autorização. Cerca de 75% das ocorrências de desmatamento
em 2019 cruzam com áreas que possuem Cadastro Ambiental Rural (CAR). Com isso,
é possível associar um CPF ou CNPJ à área desmatada.
As
taxas recentes indicam que o desmatamento baterá novo recorde da década em
2020. Os dados do sistema DETER do INPE registraram 5.666 km2
desmatados na Amazônia brasileira entre agosto de 2019 e abril de 2020, o
equivalente a 95% de aumento em relação ao período de agosto de 2018 até abril
de 2019. Em abril, segundo dados do Imazon, o Brasil perdeu o equivalente à
cidade de Porto Alegre (RS) de floresta amazônica. Foram 529 km2
destruídos, um aumento de 171% em comparação com abril do ano passado.
Estudos
do IPAM indicam que a temporada de fogo de 2019 na Amazônia teve relação clara
com o aumento do desmatamento, e não com um clima típico da estação seca na
região. Ações de combate às chamas evitaram que o cenário de fogo em 2019 se
tornasse ainda pior. No entanto, não foram capazes de conter o aumento do
desmatamento.
O
Conselho da Amazônia precisa estabelecer uma ação coordenada e contínua, com
todos os órgãos de fiscalização ambiental na região amazônica. O Brasil tem
excelentes leis que, se implementadas, trarão as respostas para o combate à
ilegalidade.
Um
dos pilares centrais para que seja mantida a integridade da Amazônia e seus
benefícios para o país é o correto tratamento às áreas públicas no bioma, as
quais se encontram sob alta vulnerabilidade. O desmatamento em Unidades de
Conservação, Terras Indígenas, áreas sem informação e áreas não destinadas,
entre janeiro e março de 2020, acumularam uma alta de 50% em relação ao mesmo
período do ano passado. É nessas áreas que ocorrem a grilagem de terras e o
roubo de recursos naturais, crimes contra o patrimônio público que exigem ação
enérgica e imediata do Estado. Além do dano ao patrimônio, a grilagem ainda
traz o efeito indireto de associar a bem-sucedida e respeitada agricultura
brasileira ao roubo de terras, tornando ainda mais urgente esse enfrentamento.
É
preciso agir agora para evitar que uma nova temporada de desmatamentos e fogo
ainda mais intensa se concretize neste ano, dado o aumento do desmatamento em
2020, somado à vegetação derrubada em 2019 que ainda não foi queimada. É
fundamental que se decrete, desde já, a moratória do fogo até, pelo menos, o
fim do período seco.
Agravando
esse cenário preocupante, nos meses de abril e maio/2020, o Poder Executivo
tomou medidas que comprometem gravemente a fiscalização e a conservação das
nossas florestas. As exonerações no setor de fiscalização do IBAMA e a
instrução normativa da FUNAI para regularização de fazendas em terras indígenas
em processo de homologação vão na contramão do combate ao crime ambiental.
Essas medidas deveriam ser revistas pelo Conselho da Amazônia, para evitar o
enfraquecimento das instituições e políticas ambientais.
A
imagem do país e sua posição comercial nunca estiveram tão comprometidas. O
trabalho coletivo que levou décadas para construir uma boa reputação tem sido
desfeito de forma rápida.
Este
cenário vai além de uma urgência ambiental. O PIB e o crescimento futuro do
Brasil estão intrinsecamente ligados à proteção da Amazônia. Os negócios,
especialmente o setor agrícola, dependem da manutenção dos serviços
ecossistêmicos, a exemplo da chuva. Nossas florestas atuam como “regador” da
agricultura brasileira. Além da água, há inúmeros outros serviços
ecossistêmicos, como a polinização dos cultivos, que beneficiam diretamente a
produção de alimentos.
Além
disso, a Amazônia hoje é também o epicentro da crise da pandemia do covid-19. O
que demonstra a interdependência do sistema e a necessidade de integrar a
dimensão social com a ambiental.
Não
existe Brasil sem uma Amazônia econômica e socialmente próspera, inclusiva e
ambientalmente íntegra e preservada. A imagem da floresta e de suas populações
preservadas é a imagem do país. Por isso, combater a ilegalidade na Amazônia,
com base em ações permanentes, contínuas e coordenadas, e na ampla participação
e apoio da sociedade, é o único caminho possível para um Brasil que deseja ser
compreendido pelo mundo como uma nação séria, vigilante de suas leis e em busca
de trajetórias sustentáveis de desenvolvimento.
O
Brasil já demonstrou que é capaz de agir desta forma e tem a experiência
bem-sucedida da redução drástica do desmatamento no período em que implementou
o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia. A retomada urgente
dessa iniciativa é a solução apoiada pelos setores que integram a Coalizão
Brasil, formada por mais de 200 representantes do agronegócio, da sociedade
civil organizada, setor financeiro e da academia. (ecodebate)
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