Material particulado lançado ao ar é um poluente
crítico e imperceptível ao olho nu
O
isolamento social para controlar o avanço do novo coronavírus vem ajudando a
reduzir a emissão de poluentes como CO e NOx nas grandes cidades, segundo dados
da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A mudança na rotina dos
paulistas reduziu a quantidade de veículos circulando na cidade e,
consequentemente, a diminuição do monóxido de carbono, indicador da emissão de
poluentes em grandes centros urbanos. Estudo da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (FAPESP), aponta queda no número de veículos nas ruas
como maior responsável pela redução de poluentes durante o período de
quarentena.
Na
opinião do doutor em Geociências e professor no Mestrado em Análise
Geoambiental da Universidade UNG, Fabrício Bau Dalmas, esta hipótese é muito
plausível tanto pelos dados coletados durante este período de quarentena quanto
por estudos anteriores, relacionados à influência dos veículos automotores na
poluição do ar de grandes cidades. “Utilizando-se de números do atual período
de quarenta na cidade de São Paulo, verifica-se que, na média, a taxa de
isolamento social dos munícipes está em 50%. Logo, para quem mora na cidade, é
bastante visível que esse isolamento influenciou no menor trânsito de veículos
e essa diminuição da frota transitando pela cidade ocasionou uma melhoria na
qualidade do ar”, explica.
Teatro
Municipal de São Paulo.
Já
o estudo elaborado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) “Inventário
de emissões atmosféricas do transporte rodoviário de passageiros no município
de São Paulo”, revela que os automóveis são responsáveis por 72,6% das emissões
de gases, tais como CO, CO2, SO2 e O3. Outro
dado interessante apontado por este estudo é de que os automóveis (transporte
individual) poluem muito mais que os ônibus, um transporte coletivo. Os
automóveis são responsáveis por 71% das emissões do poluente na cidade, contra
25% dos ônibus e 4% das motocicletas, levando-se em conta o material
particulado lançado por pessoa transportada.
“O
material particulado lançado ao ar em virtude da queima de combustível dos
veículos automotores é um poluente crítico e imperceptível ao olho nu. Este
poluente afeta o pulmão e pode causar asmas, bronquite, alergias, além de
outras graves doenças cardiorrespiratórias, podendo ocasionar óbitos”, destaca
o professor.
Outra
pesquisa publicada pela Revista Brasileira de Epidemiologia, de título
“Poluição veicular e saúde da população: uma revisão sobre o município de São
Paulo”, apresentou um aumento de 3% a 4% da taxa de mortalidade diária por
doenças cardiovasculares, associadas ao aumento de material particulado no ar,
principalmente de SO2. Para doenças respiratórias, o aumento na
mortalidade diária foi de 6%. Em relação aos grupos vulneráveis, foi constatado
que pode chegar a um aumento 14,2% na chance de morte de idosos por problemas
respiratórios, associados ao aumento de material particulado no ar. As famílias
mais afetadas possuem piores condições socioeconômicas.
No
caso de crianças, a pesquisa relatou uma associação entre a mortalidade das
crianças menores de 5 anos e os poluentes CO e SO2, com a proporção
de mortes atribuídas a estes poluentes de 15% e 13%, respectivamente.
“Tratando-se
de saúde pública, uma redução na concentração de poluentes atmosféricos estaria
diretamente ligada a um menor número de pessoas com doenças respiratórias, o
que desencadearia em um menor número de pessoas em postos de saúde e hospitais
e, até um menor número de óbitos relacionados a estas doenças. A redução na
concentração destes poluentes poderia ser iniciada com uma drástica alteração
no modal de transporte das grandes cidades, onde deveria focar mais em
transportes coletivos e elétricos”, sugere Fabrício.
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