“O principal impulso pelo qual
fui dirigido foi o esforço sincero para compreender os fenômenos dos objetos físicos em sua conexão geral e para representar a
natureza como um grande todo, movido e animado por forças internas” - Alexander von Humboldt (1769/1859).
O gelo do Ártico está
desaparecendo a uma velocidade estonteante. A extensão de gelo do polo Norte em
outubro de 2020 é a menor de todos os tempos.
No mês de setembro, um bloco de
gelo com cerca de duas vezes o tamanho de Manhattan se separou da maior
plataforma de gelo remanescente do Ártico, no nordeste da Groenlândia, após
temperaturas recordes no verão. Com o aquecimento do Ártico ocorrendo pelo
menos duas vezes mais rápido que o aquecimento global médio, a taxa de
derretimento da Groenlândia pelo menos triplicou nas últimas duas décadas. Se
este ritmo continuar, o derretimento poderá fazer, em futuro distante, com que
o nível do mar suba em até 7 metros, afogando as cidades costeiras.
Para agravar o problema, a aceleração do aquecimento do Ártico aumenta o risco de feedback auto reforçador de degelo do permafrost. Existem duas vezes mais carbono preso no permafrost do que o que já foi lançado na atmosfera. A erosão do permafrost pode ser completamente desastroso, já que o metano é várias vezes mais poluente do que o CO2. À medida que as temperaturas globais aumentam, também é possível que ainda mais metano possa ser emitido do fundo do mar raso da plataforma ártica da Sibéria Oriental.
Matéria do jornal The Guardian (27/10/2020) mostra que cientistas encontraram evidências de que depósitos de metano congelado no Oceano Ártico – conhecidos como os “gigantes adormecidos do ciclo do carbono” – começaram a ser liberados em uma grande área da encosta continental da costa leste da Sibéria. Altos níveis do potente gás de efeito estufa foram detectados a uma profundidade de 350 metros no Mar de Laptev, perto da Rússia, gerando preocupação entre os pesquisadores de que um novo ciclo de feedback climático pode ter sido acionado, o que poderia acelerar o ritmo do aquecimento global.
Este círculo vicioso que se
auto reforça, pode aquecer a temperatura em velocidade acelerada e tornar várias
partes da Terra inabitáveis, sendo que as ondas letais de calor e os eventos
climáticos extremos podem matar mais gente do que a atual pandemia da covid-19.
O aumento das rotas de navegação, da extração de petróleo e de outras
atividades econômicos no Ártico só agravam o quadro da perda de gelo.
Artigo de Maria-Vittoria Guarino et. al. publicado na Nature Climate Change (10/08/2020), utilizou a última geração de modelos climáticos para simular o gelo do mar Ártico durante o período quente de 120.000 anos antes da última era do gelo. As simulações mostraram que, durante essa era, o Ártico provavelmente nunca esteve sem gelo no verão. A equipe também fez simulações de modelos para o futuro e descobriu que o gelo marinho do Ártico provavelmente desaparecerá entre 2030 e 2050.
Gelo marítimo do Ártico tem menor nível já registrado.
Outro novo estudo, publicado na
revista “Nature Climate Change”, usou a última geração de modelos climáticos
para simular o gelo do mar Ártico durante o período quente de 120.000 anos
antes da última era do gelo. As simulações mostraram que, durante essa era, o
Ártico provavelmente estava sem gelo no verão. A equipe também fez simulações
de modelos para o futuro e descobriu que o gelo marinho do Ártico provavelmente
desaparecerá entre 2030 e 2050.
Uma ameaça adicional do degelo
vem da possibilidade do reaparecimento de vírus e bactérias retidos nas camadas
mais profundas do Polo Norte e que podem emergir à superfície, na medida em que
o gelo se transforma em água. Vírus liberados e maior circulação humana são
bombas- relógio para o surgimento de novas epidemias.
Como mostrou Dana Nuccitelli (28/10/2020) o Ártico vive um pacto suicida, com uma relação mutualmente destrutiva entre o degelo e o aquecimento global: “O clima mais quente e a perda de gelo do mar Ártico formam um verdadeiro pacto suicida. Há uma espiral da morte com o círculo vicioso de feedback entre derretimento-aquecimento, pois mais derretimento de neve e gelo geram ainda mais aquecimento, em um ciclo contínuo”.
Derretimento de gelo na Groenlândia já é irreversível, diz estudo.
Nevascas anuais já não são mais
suficientes para reabastecer blocos de gelo perdidos.
O que está acontecendo no Polo
Norte em outubro de 2020 deve servir de alerta para o mundo, pois a morte do
Ártico pode significar também a morte da civilização humana que não conseguiria
prosperar em um mundo em constante aquecimento e em uma Terra inabitável.
(ecodebate)
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