sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Ártico está morrendo e tem o menor nível de gelo em outubro/20

“O principal impulso pelo qual fui dirigido foi o esforço sincero para compreender os fenômenos dos objetos físicos em sua conexão geral e para representar a natureza como um grande todo, movido e animado por forças internas” - Alexander von Humboldt (1769/1859).

O gelo do Ártico está desaparecendo a uma velocidade estonteante. A extensão de gelo do polo Norte em outubro de 2020 é a menor de todos os tempos.

As figuras abaixo mostram que a extensão de gelo no Polo Norte era de 9,3 milhões de km2 em 1992, caiu para 7,5 milhões de km2 em 2013 e 5,3 milhões de km2 em 2020. A média do período 1981-2010 foi de 8,3 milhões de km2, portanto, em outubro de 2020 houve uma redução de 4 milhões de km2 em relação à 1992 e de 2 milhões de km2 em relação à média de 1981-2010.
O gráfico abaixo mostra que a perda de gelo nos meses de outubro tem ocorrido ao ritmo de -10,1% por década e que o maior degelo ocorreu em 2020. Nesta marcha, poderia ocorrer a perda total de gelo antes do fim do atual século.
Existe um círculo vicioso preocupante. O aquecimento global tem levado ao degelo do Ártico e quando o gelo ou a neve desaparecem, dão lugar ao oceano mais escuro ou a uma vegetação que refletem menos os raios solares e absorvem em maior proporção o calor. O fenômeno eleva as temperaturas da água e do ar, piorando, assim, o problema. Já é possível navegar tranquilamente nos meses de setembro do polo norte e agora a navegação já pode ser feita em outubro, o que é bom para os interesses econômicos do comércio, mas é péssimo para o meio ambiente (Alves, 14/10/2020).

No mês de setembro, um bloco de gelo com cerca de duas vezes o tamanho de Manhattan se separou da maior plataforma de gelo remanescente do Ártico, no nordeste da Groenlândia, após temperaturas recordes no verão. Com o aquecimento do Ártico ocorrendo pelo menos duas vezes mais rápido que o aquecimento global médio, a taxa de derretimento da Groenlândia pelo menos triplicou nas últimas duas décadas. Se este ritmo continuar, o derretimento poderá fazer, em futuro distante, com que o nível do mar suba em até 7 metros, afogando as cidades costeiras.

Para agravar o problema, a aceleração do aquecimento do Ártico aumenta o risco de feedback auto reforçador de degelo do permafrost. Existem duas vezes mais carbono preso no permafrost do que o que já foi lançado na atmosfera. A erosão do permafrost pode ser completamente desastroso, já que o metano é várias vezes mais poluente do que o CO2. À medida que as temperaturas globais aumentam, também é possível que ainda mais metano possa ser emitido do fundo do mar raso da plataforma ártica da Sibéria Oriental.

Matéria do jornal The Guardian (27/10/2020) mostra que cientistas encontraram evidências de que depósitos de metano congelado no Oceano Ártico – conhecidos como os “gigantes adormecidos do ciclo do carbono” – começaram a ser liberados em uma grande área da encosta continental da costa leste da Sibéria. Altos níveis do potente gás de efeito estufa foram detectados a uma profundidade de 350 metros no Mar de Laptev, perto da Rússia, gerando preocupação entre os pesquisadores de que um novo ciclo de feedback climático pode ter sido acionado, o que poderia acelerar o ritmo do aquecimento global.

Este círculo vicioso que se auto reforça, pode aquecer a temperatura em velocidade acelerada e tornar várias partes da Terra inabitáveis, sendo que as ondas letais de calor e os eventos climáticos extremos podem matar mais gente do que a atual pandemia da covid-19. O aumento das rotas de navegação, da extração de petróleo e de outras atividades econômicos no Ártico só agravam o quadro da perda de gelo.

Artigo de Maria-Vittoria Guarino et. al. publicado na Nature Climate Change (10/08/2020), utilizou a última geração de modelos climáticos para simular o gelo do mar Ártico durante o período quente de 120.000 anos antes da última era do gelo. As simulações mostraram que, durante essa era, o Ártico provavelmente nunca esteve sem gelo no verão. A equipe também fez simulações de modelos para o futuro e descobriu que o gelo marinho do Ártico provavelmente desaparecerá entre 2030 e 2050.

Gelo marítimo do Ártico tem menor nível já registrado.

Outro novo estudo, publicado na revista “Nature Climate Change”, usou a última geração de modelos climáticos para simular o gelo do mar Ártico durante o período quente de 120.000 anos antes da última era do gelo. As simulações mostraram que, durante essa era, o Ártico provavelmente estava sem gelo no verão. A equipe também fez simulações de modelos para o futuro e descobriu que o gelo marinho do Ártico provavelmente desaparecerá entre 2030 e 2050.

Uma ameaça adicional do degelo vem da possibilidade do reaparecimento de vírus e bactérias retidos nas camadas mais profundas do Polo Norte e que podem emergir à superfície, na medida em que o gelo se transforma em água. Vírus liberados e maior circulação humana são bombas- relógio para o surgimento de novas epidemias.

Como mostrou Dana Nuccitelli (28/10/2020) o Ártico vive um pacto suicida, com uma relação mutualmente destrutiva entre o degelo e o aquecimento global: “O clima mais quente e a perda de gelo do mar Ártico formam um verdadeiro pacto suicida. Há uma espiral da morte com o círculo vicioso de feedback entre derretimento-aquecimento, pois mais derretimento de neve e gelo geram ainda mais aquecimento, em um ciclo contínuo”.

Derretimento de gelo na Groenlândia já é irreversível, diz estudo.

Nevascas anuais já não são mais suficientes para reabastecer blocos de gelo perdidos.

O que está acontecendo no Polo Norte em outubro de 2020 deve servir de alerta para o mundo, pois a morte do Ártico pode significar também a morte da civilização humana que não conseguiria prosperar em um mundo em constante aquecimento e em uma Terra inabitável. (ecodebate)

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