“Nossa casa ainda está
pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!” - Greta Thunberg
A concentração de CO2
na atmosfera ficou abaixo de 280 partes por milhão (ppm) durante todo o
Holoceno (últimos 12 mil anos). Mas após a grande arrancada do crescimento
demoeconômico global propiciado pela Revolução Industrial e Energética – que
iniciou a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento das florestas em
larga escala – a concentração de CO2 chegou a 300 ppm em 1920,
atingiu 317 ppm em março de 1960 e pulou para 417 ppm em maio de 2020, conforme
mostra a curva de Keeling do gráfico abaixo.
As emissões globais de CO2
estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas
em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões
de toneladas em 2019. Em consequência do efeito estufa, as temperaturas do
Planeta estão subindo e acelerando as mudanças climáticas e seus efeitos
danosos sobre a vida na Terra.
A desaceleração industrial e a recessão mundial do primeiro semestre de 2020, devido à pandemia COVID-19, não reduziu significativamente os níveis recordes de gases de Efeito Estufa durante o ano de 2020, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Em coletiva de imprensa realizada, os meteorologistas explicaram que houve um surto de crescimento de emissões de dióxido de carbono/CO2 em 2019 e que a concentração continuou aumentando em 2020. Segundo a OMM, as quarentenas impostas pelos governos para frear a transmissão do SARS-CoV-2 ajudaram a reduzir as emissões de muitos poluentes e gases de Efeito Estufa, como o dióxido de carbono. Todavia, o impacto nas concentrações de CO2 na atmosfera (que é o acúmulo das emissões passadas e atuais) não foi significativamente percebido – na verdade houve um aumento dentro das flutuações normais do ciclo de carbono.
Normalmente, a concentração de CO2 aumenta de setembro a maio e tem uma queda entre maio e setembro de cada ano, como mostra o gráfico abaixo da NOAA. Entre outubro/2019 e outubro/2020 o aumento da concentração foi de 2,76 ppm, mesmo com as quarentenas e a redução das atividades econômicas globais.
Desafio da contemporalidade é reduzir as emissões de GEE o mais rápido possível, a concentração de CO2 na atmosfera de 417 ppm em maio de 2020 para menos de 350 ppm, o que é o nível minimamente seguro para evitar o descontrole do aquecimento global.
Não existem mais dúvidas que o aquecimento global é provocado pela emissão de gases de efeito estufa decorrentes das atividades antrópicas.
Os últimos 7 anos (2014/20) foram os mais quentes já registrados e a década 2011/20 é a mais quente desde 1880. A atmosfera do Planeta está ficando mais quente e isto tem um impacto devastador em diversos aspectos, pois vai deixar amplas áreas da Terra inapropriadas para a vida humana e não humana. Ainda não temos os dados definitivos de 2020, mas o ano passado de igualar a temperatura de 2016, sendo que novembro de 2020 bateu todos os recordes da série, conforme mostra o gráfico abaixo.
Sob o Acordo de Paris adotado em 2015, praticamente todas as nações do mundo se comprometeram a limitar o aquecimento global a um patamar “bem abaixo” de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e também, se possível, “buscar” esforços para limitar o aquecimento a 1,5°C. Contudo, no momento, o mundo não está nem perto do caminho certo para atingir essas metas.
Segundo análise do Carbon Brief, baseado na última
geração de modelos climáticos – conhecidos como “CMIP6” (consulte o explicador
do Carbon Brief), que estão sendo executados na preparação para o 6º relatório
de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
previsto para 2021-22, os cenários são os seguintes:
O mundo provavelmente excederá 1,5ºC entre 2026 e
2042 em cenários onde as emissões não são reduzidas rapidamente, com uma
estimativa central em 2031;
O limite 2ºC provavelmente será excedido entre 2034
e 2052 no cenário de emissões mais altas, com um ano mediano de 2043;
Em um cenário de mitigação modesta – onde as emissões permanecem próximas aos níveis atuais – o limite 2ºC seria excedido entre 2038 e 2072, com uma mediana em 2052.
Mesmo com novos lockdowns, concentração de gases na atmosfera bate novos recordes.
A crise climática significa clima instável e com
variações extremas. Mais furacões, mais secas, mais inundações, mais incêndios
e queimadas, mais mortes relacionadas ao calor, etc. Desta forma, haverá mais
doenças infecciosas à medida que os insetos se deslocarem para o norte. O
Ártico poderá ficar sem gelo no verão e a passagem do Norte poderá ficar aberta
a maior parte do ano, agravando a situação do ecossistema. O nível do mar
aumentará alguns metros à medida que as prateleiras de gelo dos polos derretem,
produzindo maiores tempestades e inundações mais intensas em áreas baixas ao
redor do mundo. Milhões de pessoas serão forçadas a mudar de área ou país. A
agricultura terá perda de produtividade e a insegurança alimentar deve
aumentar.
Como disse Greta Thunberg, mais um ano se passou e
nada de significativo foi feito para deter a emergência climática. A governança
global não tem apresentado soluções efetivas e a inação só sinaliza para um
futuro mais quente e uma Terra cada vez mais inóspita e inabitável. (ecodebate)
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