domingo, 31 de janeiro de 2021

Frear desmatamento para reduzir surgimento de doenças como a COVID-19

WWF: é preciso frear desmatamento para reduzir surgimento de doenças como a COVID-19.
Além das mudanças climáticas e da redução da biodiversidade, o desmatamento tem como consequência para a humanidade o surgimento de novas zoonoses. A reconstrução pós-COVID-19 e o medo de outra pandemia podem inspirar um novo paradigma ambiental, segundo defendem cientistas.

O WWF-Internacional divulgou um relatório no qual o Brasil aparece como um dos campeões de desmatamento e de fragmentação de florestas e outros ecossistemas entre 2000 e 2018. Além da perda de biodiversidade e das implicações climáticas, o fato de o país ter duas frentes simultâneas de destruição, a Amazônia e o Cerrado, chama a atenção também para as possibilidades de sermos local de origem de novas zoonoses. É o que aponta o relatório "Frentes de desmatamento: vetores e respostas em um mundo em evolução", fruto de uma extensa pesquisa realizada em 29 países, divulgado em 13/01/2021.

Segundo a organização, o desmatamento e a degradação florestal estão entre os principais fatores para o surgimento de doenças como HIV/AIDS, Ebola, SARS, Febre do Vale Rift e, mais recentemente, a COVID-19. Mudanças no uso da terra contribuíram para quase metade das doenças zoonóticas que afetaram humanos entre 1940 e 2005. E o surgimento de novas zoonoses é elevado em regiões tropicais, biodiversas e historicamente cobertas por florestas e savanas que estão passando por grandes mudanças provocadas pelo homem, como vem acontecendo no Brasil.

"As mudanças no uso da terra, como o desmatamento, são os principais vetores de zoonoses emergentes porque, com a mudança no uso da terra, você tem o aumento do contato entre as pessoas e a vida selvagem e os seus patógenos, como vírus e bactérias", explica, em entrevista à Sputnik Brasil, Mariana Napolitano, gerente de Ciências e Conservação do WWF-Brasil.

Dados oficiais mostram que março/2020 teve 30% de aumento no desmatamento em relação ao mesmo mês em 2019, período de seca ainda não havia começado na região.

De acordo com a especialista, esse problema está relacionado a mais de 30% das novas doenças humanas notificadas desde 1960. E essas mudanças causam também um desequilíbrio na composição das espécies animais, aumentando também o número de vetores e hospedeiros que são capazes de se adaptar a ambientes alterados, como roedores e morcegos.

"Além disso, o desmatamento aumenta a fragmentação e o efeito de borda, aumentando não só a presença das pessoas, mas também de animais domésticos em ambientes naturais que já estão desequilibrados, o que vai aumentar, então, o risco de um patógeno — um vírus, por exemplo — de um animal selvagem pular para o ser humano ou para os animais domésticos".

Apesar das crescentes evidências dos impactos negativos da degradação ambiental para a humanidade, em algumas partes do planeta, como no Brasil, o desmatamento segue em alta, com números cada vez mais alarmantes.

Em parte, isso pode ser atribuído, segundo Napolitano, à persistência do falso paradigma de que o desenvolvimento econômico e social e a conservação do meio ambiente são mutuamente excludentes. Ou pode estar relacionado também a governos com visões econômicas de curtíssimo prazo, para os quais compensaria, financeiramente, todo o prejuízo causado pelo desmatamento.

Os dados mostram que tanto essa crença como essa escolha imediatista têm conseguido atrair apoiadores mesmo com a proliferação de estudos apontando para a necessidade de se buscar outros caminhos. Até agora.

Para o WWF, os problemas desencadeados pelo novo coronavírus e o processo de recuperação da pandemia podem proporcionar uma oportunidade significativa para que essa mudança de paradigmas, tão defendida pelos cientistas ao longo das últimas décadas, consiga finalmente prevalecer.

A preservação do Meio Ambiente poderá evitar o surgimento de outras doenças como a Covid-19.

"Nós vamos voltar para o mesmo ponto em que nós estávamos ou nós vamos fazer uma reconstrução que nos coloque em um lugar melhor? Como demonstra aí o relatório, nós precisamos de ações coletivas para implementar soluções personalizadas e integradas que vão beneficiar tanto a natureza mas também as populações humanas", afirma Mariana Napolitano. "E a gente está vendo que, cada vez mais, a gente não vai fazer isso pela biodiversidade. A gente vai fazer isso pela nossa saúde, pela nossa economia e pelo nosso bem-estar". (sputniknews)

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