O WWF-Internacional divulgou
um relatório no qual o Brasil aparece como um dos campeões de desmatamento e de
fragmentação de florestas e outros ecossistemas entre 2000 e 2018. Além da
perda de biodiversidade e das implicações climáticas, o fato de o país ter duas
frentes simultâneas de destruição, a Amazônia e o Cerrado, chama a atenção
também para as possibilidades de sermos local de origem de novas zoonoses. É o
que aponta o relatório "Frentes de desmatamento: vetores e respostas em um
mundo em evolução", fruto de uma extensa pesquisa realizada em 29 países,
divulgado em 13/01/2021.
Segundo a organização, o
desmatamento e a degradação florestal estão entre os principais fatores para o
surgimento de doenças como HIV/AIDS, Ebola, SARS, Febre do Vale Rift e, mais
recentemente, a COVID-19. Mudanças no uso da terra contribuíram para quase
metade das doenças zoonóticas que afetaram humanos entre 1940 e 2005. E o
surgimento de novas zoonoses é elevado em regiões tropicais, biodiversas e
historicamente cobertas por florestas e savanas que estão passando por grandes
mudanças provocadas pelo homem, como vem acontecendo no Brasil.
"As mudanças no uso da terra, como o desmatamento, são os principais vetores de zoonoses emergentes porque, com a mudança no uso da terra, você tem o aumento do contato entre as pessoas e a vida selvagem e os seus patógenos, como vírus e bactérias", explica, em entrevista à Sputnik Brasil, Mariana Napolitano, gerente de Ciências e Conservação do WWF-Brasil.
Dados oficiais mostram que março/2020 teve 30% de aumento no desmatamento em relação ao mesmo mês em 2019, período de seca ainda não havia começado na região.
De acordo com a especialista,
esse problema está relacionado a mais de 30% das novas doenças humanas
notificadas desde 1960. E essas mudanças causam também um desequilíbrio na
composição das espécies animais, aumentando também o número de vetores e
hospedeiros que são capazes de se adaptar a ambientes alterados, como roedores
e morcegos.
"Além disso, o
desmatamento aumenta a fragmentação e o efeito de borda, aumentando não só a
presença das pessoas, mas também de animais domésticos em ambientes naturais
que já estão desequilibrados, o que vai aumentar, então, o risco de um patógeno
— um vírus, por exemplo — de um animal selvagem pular para o ser humano ou para
os animais domésticos".
Apesar das crescentes
evidências dos impactos negativos da degradação ambiental para a humanidade, em
algumas partes do planeta, como no Brasil, o desmatamento segue em alta, com números
cada vez mais alarmantes.
Em parte, isso pode ser
atribuído, segundo Napolitano, à persistência do falso paradigma de que o
desenvolvimento econômico e social e a conservação do meio ambiente são
mutuamente excludentes. Ou pode estar relacionado também a governos com visões
econômicas de curtíssimo prazo, para os quais compensaria, financeiramente,
todo o prejuízo causado pelo desmatamento.
Os dados mostram que tanto
essa crença como essa escolha imediatista têm conseguido atrair apoiadores
mesmo com a proliferação de estudos apontando para a necessidade de se buscar
outros caminhos. Até agora.
Para o WWF, os problemas desencadeados pelo novo coronavírus e o processo de recuperação da pandemia podem proporcionar uma oportunidade significativa para que essa mudança de paradigmas, tão defendida pelos cientistas ao longo das últimas décadas, consiga finalmente prevalecer.
A preservação do Meio Ambiente poderá evitar o surgimento de outras doenças como a Covid-19.
"Nós vamos voltar para o mesmo ponto em que nós estávamos ou nós vamos fazer uma reconstrução que nos coloque em um lugar melhor? Como demonstra aí o relatório, nós precisamos de ações coletivas para implementar soluções personalizadas e integradas que vão beneficiar tanto a natureza mas também as populações humanas", afirma Mariana Napolitano. "E a gente está vendo que, cada vez mais, a gente não vai fazer isso pela biodiversidade. A gente vai fazer isso pela nossa saúde, pela nossa economia e pelo nosso bem-estar". (sputniknews)
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