Desde o início de outubro, o
Oceano Pacífico Tropical vive condições de La Niña, ou seja, um resfriamento
das águas superficiais e um enfraquecimento dos ventos alísios (constantes e
úmidos), o que desfavorece a precipitação de chuvas no Sul, Centro-Oeste e
parte do Norte do Brasil. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e
Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), as chances deste padrão perdurar até o
final do primeiro semestre de 2021 são de 70%.
Em um contexto como este, a
falta de água acaba sendo inevitável, afetando não somente a população, mas, em
menor ou maior grau, todos os outros setores da economia. No Paraná,
levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) aponta que até o início
de outubro apenas 8% da safra de soja havia sido plantada, contra média
aproximada de 22% dos anos anteriores. Em São Paulo, a falta de chuva prejudica
o cultivo de café e, em Santa Catarina, a safra de milho, ficando apenas em
alguns exemplos.
Além dos efeitos das mudanças
climáticas, crises hídricas são igualmente potencializadas pelo desmatamento.
Levantamentos do INPE indicam que os “rios voadores”, correntes de ar e água
que levam umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do
país, têm perdido força diante da devastação florestal na Amazônia. Efeito
direto deste fenômeno é a redução de chuvas na região do Pantanal e o
consequente agravamento das queimadas, que ainda ardem na região.
A
manutenção da vegetação natural nas margens dos rios e nascentes de uma bacia
hidrográfica é essencial para manter a água armazenada por mais tempo em seu
interior.
Este último ponto ficou
evidente na crise hídrica enfrentada atualmente pela Região Metropolitana de
Curitiba. Os reservatórios de Piraquara I e II permaneceram com um volume
satisfatório de água por um período muito maior em função da expressiva
extensão de floresta nativa em seu redor. Além de manter o solo muito mais
úmido, essas áreas também contribuem para a melhoria da qualidade hídrica, por
atuarem como uma espécie de esponja, retendo possíveis partículas de solo que
poderiam ser levadas aos rios durante fortes chuvas.
Em uma abordagem em que a
própria natureza pode amenizar crises hídricas futuras, foi criado o movimento
Viva Água. Este atua na Bacia do Rio Miringuava – manancial localizado em São
José dos Pinhais (PR), que abastece 230.000 pessoas e várias empresas da Grande
Curitiba.
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O movimento é um exemplo de como a articulação da sociedade tem papel relevante na solução de crises hídricas. Juntos, organizações, produtores rurais, comunidade, poder público, iniciativa privada e universidades, agem para transformar a realidade socioeconômica e ambiental e contribuir para sua adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. (ecodebate)
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