• Quase três quartos das nações têm algum plano de adaptação em
vigor, mas o financiamento e a implementação ficam muito aquém do necessário.
• Os custos anuais da adaptação somente nos países em
desenvolvimento são estimados atualmente em US$ 70 bilhões. Espera-se que este
valor chegue a US$ 140-300 bilhões em 2030 e US$ 280-500 bilhões em 2050.
• Soluções baseadas na natureza, essenciais para a adaptação,
precisam receber mais atenção.
Conforme as temperaturas
aumentam e os impactos da mudança climática se intensificam, as nações devem
aumentar urgentemente as ações para se adaptarem à nova realidade climática ou
enfrentar sérios custos, danos e perdas, conclui um novo relatório do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A adaptação é um pilar
fundamental do Acordo de Paris e implica na redução da vulnerabilidade dos
países e comunidades às mudanças climáticas, aumentando suas capacidades de
absorverem impactos e permanecerem resilientes. O Acordo de Paris exige que
todos os seus signatários planejem e implementem medidas de adaptação por meio
de planos nacionais de adaptação, estudos, monitoramento dos efeitos da mudança
climática e investimentos em um futuro verde.
Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2020 do PNUMA conclui que, embora as nações tenham avançado no planejamento, enormes lacunas permanecem no financiamento aos países em desenvolvimento e no que diz respeito a garantir que os projetos de adaptação cheguem ao estágio em que trazem proteção real contra impactos climáticos – como secas, enchentes e elevação do nível do mar.
O financiamento público e privado da adaptação deve ser intensificado urgentemente, assim como a implementação deve ser acelerada. Também devem se tornar prioridade as soluções baseadas na natureza – ações em nível local que endereçam os desafios da sociedade, como a mudança climática, e proporcionam bem-estar humano e benefícios à biodiversidade, protegendo, manejando de forma sustentável e restaurando ecossistemas naturais ou modificados.
“A dura verdade é que a
mudança climática está à nossa porta. Seus impactos se intensificarão e
atingirão mais duramente os países e comunidades vulneráveis – mesmo se
cumprirmos as metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global em até
2°C ainda neste século e perseguir a meta de 1,5°C”, afirmou Inger Andersen,
Diretora Executiva do PNUMA.
“Como disse o Secretário-geral
da ONU, precisamos de um compromisso global para aplicar metade de todo o
financiamento global na adaptação climática no próximo ano. Isto permitirá um
grande avanço na adaptação – em tudo, desde sistemas de alerta precoce até
recursos hídricos resilientes e soluções baseadas na natureza”, acrescentou.
O planejamento está
crescendo, mas o financiamento e o acompanhamento estão atrasados
A conclusão mais encorajadora
do relatório é que 72% dos países adotaram pelo menos um instrumento nacional
de planejamento de adaptação. A maioria dos países em desenvolvimento está
preparando um Plano Nacional de Adaptação. Entretanto, o financiamento
necessário para implementar esses planos não está crescendo rápido o
suficiente.
O financiamento da adaptação
está crescendo, mas em ritmo insuficiente devido ao rápido aumento dos custos da
adaptação. Os custos anuais da adaptação somente nos países em desenvolvimento
são estimados atualmente em US$ 70 bilhões. Espera-se que este valor chegue a
US$ 140-300 bilhões em 2030 e US$ 280-500 bilhões em 2050.
Há alguns avanços promissores. O Fundo Verde Para o Clima (GCF) destinou 40% de sua carteira total à adaptação e conta cada vez mais com investimentos do setor privado. Outro desenvolvimento importante é a dinâmica crescente para assegurar um sistema financeiro sustentável. Porém, é necessário aumentar o financiamento público e privado da adaptação. Novas ferramentas, tais como critérios de investimento sustentável, princípios de divulgação relacionados ao clima e integração dos riscos climáticos nas decisões de investimento podem estimular investimentos em resiliência climática.
O mundo enfrentará graves danos humanos e econômicos se não acelerar a adaptação climática, diz relatório da ONU.
A implementação de ações de
adaptação também está crescendo. Desde 2006, cerca de 400 projetos de adaptação
financiados por fundos multilaterais a serviço do Acordo de Paris foram
realizados em países em desenvolvimento. Enquanto os projetos anteriores
raramente ultrapassavam US$ 10 milhões, 21 novos projetos desde 2017 atingiram
um valor superior a US$ 25 milhões. Entretanto, das mais de 1.700 iniciativas
de adaptação pesquisadas, apenas 3% relataram reduções reais dos riscos
climáticos para as comunidades onde os projetos estavam sendo implementados.
Soluções baseadas na natureza
podem dar uma enorme contribuição
O relatório coloca um foco
especial em soluções baseadas na natureza enquanto opções de baixo custo que
reduzem os riscos climáticos, restauram e protegem a biodiversidade e geram
benefícios para as comunidades e economias.
Uma análise de quatro grandes
fundos climáticos e de desenvolvimento – o Fundo Global para o Meio Ambiente, o
Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund, em inglês), o Fundo de Adaptação
e a Iniciativa Climática Internacional – sugeriu que o apoio a iniciativas
verdes com algum elemento de soluções baseadas na natureza aumentou nas últimas
duas décadas. O investimento acumulado em projetos de mitigação e adaptação às
mudanças climáticas nos quatro fundos foi de US$ 94 bilhões. Porém, apenas US$
12 bilhões foram gastos em soluções baseadas na natureza – uma fração pequena
do financiamento total para adaptação e conservação.
Intensificar a ação
Redução de emissões de gases
de efeito estufa diminuirá os impactos e custos associados à mudança climática.
Alcançar meta de 2°C do Acordo de Paris poderia limitar as perdas no
crescimento anual em até 1,6%, em comparação com os 2,2% da trajetória de 3°C.
Embora se espere que a
pandemia da COVID-19 afete a capacidade dos países de se adaptarem às mudanças
climáticas, investir na adaptação é uma decisão econômica sólida, de acordo com
o relatório. (ecodebate)
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