Poluição gerada por
combustíveis fósseis é responsável por 1 em cada 5 mortes no mundo.
A informação é de um estudo
publicado em 09/02/21 na revista Environmental Research por cientistas da
Universidade de Harvard, em colaboração com a Universidade de Birmingham, a
Universidade de Leicester e o University College London (UCL).
Os pesquisadores descobriram
que a exposição a partículas provenientes de emissões de combustíveis fósseis
foi responsável por 21,5% do total de mortes em 2012, caindo para 18% em 2018
devido a medidas mais rigorosas de qualidade do ar na China. Na América Latina,
o estudo identificou que, em 2012, quase 6% das mortes de crianças (747
falecimentos) e cerca de 8% das mortes de adultos (cerca de 180 mil
falecimentos) tiveram como causa a poluição atmosférica, percentual semelhante
ao de adultos mortos no Brasil por essa razão.
As regiões com as maiores
concentrações de poluição do ar por combustíveis fósseis – incluindo o Leste da
América do Norte, Europa e Sudeste Asiático – têm as maiores taxas de
mortalidade, de acordo com o estudo publicado. Nessas regiões, o problema está
relacionado, sobretudo, às usinas termelétricas movidas a carvão. O Brasil como
um todo não aparece como um dos países mais afetados, mas a região Sudeste se
destaca (ver mapa em anexo).
“Quando esses estudos olham
para o Brasil, eles observam todo o território, o que pode dar a falsa
impressão de que os brasileiros não estão expostos a altos índices de
contaminação do ar, mas mais de 80% da população brasileira vive em cidades,
que é onde está concentrada a poluição por material particulado oriunda da
queima de combustível fóssil”, explica o físico ambiental e professor da USP
Paulo Artaxo.
O professor ressalta que essa
contaminação é gerada principalmente pelos veículos pesados, como os ônibus
movidos à diesel. “Já existe tecnologia para coletivos com baixa emissão ou até
emissão zero, como é o caso dos ônibus elétricos, mas o lobby das empresas de
transporte junto às câmaras de vereadores tem impedido que o ar das nossas
cidades se torne mais seguro.”
Para Artaxo, os legisladores não agem de acordo com a gravidade do problema no país. “As montadoras querem adiar por ainda mais tempo o Proconve 8, um padrão tecnológico que reduz a poluição gerada pelos veículos salvando milhares de vidas e que já foi adotado nos países desenvolvidos uma década atrás. Nós temos que nos questionar: a legislação é feita para proteger as pessoas ou as indústrias?”
Metodologia aprimorada
Como os pesquisadores
chegaram a um número tão alto de mortes, 8,7 milhões em 2018 somente por
combustíveis fósseis, se o mais recente Global Burden of Disease Study (o maior
e mais abrangente levantamento sobre as causas da mortalidade global) coloca em
4,2 milhões o número total de mortes globais por material particulado no ar,
incluindo poeira e fumaça de incêndios florestais e queimadas agrícolas?
As pesquisas anteriores
dependiam de observações de satélite para estimar as concentrações médias
anuais globais de partículas em suspensão no ar, conhecidas como PM2,5. O
problema é que essas observações não conseguiam distinguir entre as partículas
provenientes de emissões de combustíveis fósseis e aquelas de outras fontes,
como poeira e queimadas. Para superar este desafio, os pesquisadores de Harvard
se voltaram para GEOS-Chem, um modelo global 3D de química atmosférica com alta
resolução espacial. Com isso, foi possível dividir o globo em uma grade com
caixas de até 50 km x 60 km e observar os níveis de poluição em cada caixa
individualmente.
Outra inovação foi o modelo
de avaliação da ligação entre os níveis de concentração de partículas e os
resultados em saúde, desenvolvido pelos professores de Epidemiologia Ambiental
de Harvard, Alina Vodonos e Joel Schwartz. Este novo modelo encontrou uma taxa
de mortalidade mais alta para exposição às emissões de combustíveis fósseis em
longo prazo, inclusive em concentrações mais baixas.
“Com dados de satélite, você
está vendo apenas peças do quebra-cabeça”, disse Loretta J. Mickley, co-autora
do estudo e pesquisadora sênior em Interações Químico-Climáticas da Harvard
John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences (SEAS). “É um
desafio para os satélites distinguir entre os tipos de partículas, e pode haver
lacunas nos dados”.
“Em vez de depender de médias
espalhadas por grandes regiões, queríamos mapear onde está a poluição e onde as
pessoas vivem, para podermos saber mais exatamente o que as pessoas estão
respirando”, disse Karn Vohra, estudante de pós-graduação da Universidade de
Birmingham e primeira autora do estudo.
“Muitas vezes, quando discutimos os perigos da combustão de combustíveis fósseis, ficamos no contexto do CO2 e das mudanças climáticas e ignoramos o potencial impacto na saúde”, disse Schwartz.
“Nosso estudo dá novas evidências de que a poluição do ar pela contínua dependência dos combustíveis fósseis é prejudicial à saúde global”, disse Marais. “Não podemos, em boa consciência, continuar a depender dos combustíveis fósseis, quando sabemos que existem efeitos tão severos sobre a saúde e alternativas viáveis e mais limpas”. (ecodebate)
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