segunda-feira, 1 de março de 2021

Poluição por combustíveis fósseis é responsável por 1 em cada 5 mortes

Poluição gerada por combustíveis fósseis é responsável por 1 em cada 5 mortes no mundo.

Sudeste do Brasil destaca-se entre as regiões mais afetadas. Proconve 8, que reduz a poluição gerada pelos veículos a diesel, pode salvar milhares de vidas.
Mais de 8 milhões de pessoas morreram em 2018 devido à poluição por queima de combustíveis fósseis, como o diesel e o carvão. Isto significa que 1 em cada 5 mortes no mundo teve como causa essa modalidade de contaminação do ar – estimativa significativamente superior à de pesquisas anteriores.

A informação é de um estudo publicado em 09/02/21 na revista Environmental Research por cientistas da Universidade de Harvard, em colaboração com a Universidade de Birmingham, a Universidade de Leicester e o University College London (UCL).

Os pesquisadores descobriram que a exposição a partículas provenientes de emissões de combustíveis fósseis foi responsável por 21,5% do total de mortes em 2012, caindo para 18% em 2018 devido a medidas mais rigorosas de qualidade do ar na China. Na América Latina, o estudo identificou que, em 2012, quase 6% das mortes de crianças (747 falecimentos) e cerca de 8% das mortes de adultos (cerca de 180 mil falecimentos) tiveram como causa a poluição atmosférica, percentual semelhante ao de adultos mortos no Brasil por essa razão.

As regiões com as maiores concentrações de poluição do ar por combustíveis fósseis – incluindo o Leste da América do Norte, Europa e Sudeste Asiático – têm as maiores taxas de mortalidade, de acordo com o estudo publicado. Nessas regiões, o problema está relacionado, sobretudo, às usinas termelétricas movidas a carvão. O Brasil como um todo não aparece como um dos países mais afetados, mas a região Sudeste se destaca (ver mapa em anexo).

“Quando esses estudos olham para o Brasil, eles observam todo o território, o que pode dar a falsa impressão de que os brasileiros não estão expostos a altos índices de contaminação do ar, mas mais de 80% da população brasileira vive em cidades, que é onde está concentrada a poluição por material particulado oriunda da queima de combustível fóssil”, explica o físico ambiental e professor da USP Paulo Artaxo.

O professor ressalta que essa contaminação é gerada principalmente pelos veículos pesados, como os ônibus movidos à diesel. “Já existe tecnologia para coletivos com baixa emissão ou até emissão zero, como é o caso dos ônibus elétricos, mas o lobby das empresas de transporte junto às câmaras de vereadores tem impedido que o ar das nossas cidades se torne mais seguro.”

Para Artaxo, os legisladores não agem de acordo com a gravidade do problema no país. “As montadoras querem adiar por ainda mais tempo o Proconve 8, um padrão tecnológico que reduz a poluição gerada pelos veículos salvando milhares de vidas e que já foi adotado nos países desenvolvidos uma década atrás. Nós temos que nos questionar: a legislação é feita para proteger as pessoas ou as indústrias?”

Metodologia aprimorada

Como os pesquisadores chegaram a um número tão alto de mortes, 8,7 milhões em 2018 somente por combustíveis fósseis, se o mais recente Global Burden of Disease Study (o maior e mais abrangente levantamento sobre as causas da mortalidade global) coloca em 4,2 milhões o número total de mortes globais por material particulado no ar, incluindo poeira e fumaça de incêndios florestais e queimadas agrícolas?

As pesquisas anteriores dependiam de observações de satélite para estimar as concentrações médias anuais globais de partículas em suspensão no ar, conhecidas como PM2,5. O problema é que essas observações não conseguiam distinguir entre as partículas provenientes de emissões de combustíveis fósseis e aquelas de outras fontes, como poeira e queimadas. Para superar este desafio, os pesquisadores de Harvard se voltaram para GEOS-Chem, um modelo global 3D de química atmosférica com alta resolução espacial. Com isso, foi possível dividir o globo em uma grade com caixas de até 50 km x 60 km e observar os níveis de poluição em cada caixa individualmente.

Outra inovação foi o modelo de avaliação da ligação entre os níveis de concentração de partículas e os resultados em saúde, desenvolvido pelos professores de Epidemiologia Ambiental de Harvard, Alina Vodonos e Joel Schwartz. Este novo modelo encontrou uma taxa de mortalidade mais alta para exposição às emissões de combustíveis fósseis em longo prazo, inclusive em concentrações mais baixas.

“Com dados de satélite, você está vendo apenas peças do quebra-cabeça”, disse Loretta J. Mickley, co-autora do estudo e pesquisadora sênior em Interações Químico-Climáticas da Harvard John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences (SEAS). “É um desafio para os satélites distinguir entre os tipos de partículas, e pode haver lacunas nos dados”.

“Em vez de depender de médias espalhadas por grandes regiões, queríamos mapear onde está a poluição e onde as pessoas vivem, para podermos saber mais exatamente o que as pessoas estão respirando”, disse Karn Vohra, estudante de pós-graduação da Universidade de Birmingham e primeira autora do estudo.

“Muitas vezes, quando discutimos os perigos da combustão de combustíveis fósseis, ficamos no contexto do CO2 e das mudanças climáticas e ignoramos o potencial impacto na saúde”, disse Schwartz.

“Nosso estudo dá novas evidências de que a poluição do ar pela contínua dependência dos combustíveis fósseis é prejudicial à saúde global”, disse Marais. “Não podemos, em boa consciência, continuar a depender dos combustíveis fósseis, quando sabemos que existem efeitos tão severos sobre a saúde e alternativas viáveis e mais limpas”. (ecodebate)

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