Eduardo
Maeda, da Universidade de Helsinque, e colegas usaram dados de satélite para
comparar áreas dominadas por diferentes usos do solo e tamanhos de fazenda para
avaliar seus impactos no clima regional. Embora pequenos assentamentos rurais
não tenham experimentado mudanças claras nas chuvas durante as últimas décadas,
as áreas dominadas por fazendas de commodities tornaram-se significativamente
mais secas. As áreas de agricultura de commodities também experimentaram um
aumento muito maior na temperatura, em comparação com os assentamentos rurais
de pequena escala, em grande parte devido ao manejo intenso das safras
comerciais, levando à redução da cobertura vegetal ao longo do ano e à
diminuição da transpiração das plantas. De acordo com os autores, mitigar as
mudanças climáticas na bacia amazônica exigirá alternativas às práticas
agrícolas atuais de commodities.
“Nossos
resultados mostram que o desmatamento causado por grandes fazendas de
commodities pode causar um aumento de temperatura local até 3x maior do que o
observado no desmatamento causado por pequenos assentamentos rurais”, diz
Maeda.
As
florestas tropicais são condicionadores de ar naturais
As
florestas tropicais atuam como uma bomba d’água, obtendo água da superfície da
terra e jogando-a de volta na atmosfera. Como esse processo requer energia, ele
causa uma redução na temperatura da superfície. A água que retorna para a
atmosfera, muitas vezes volta para a floresta na forma de chuva. As árvores
tornam-se então um componente crítico de uma complexa máquina de reciclagem de
água, que garante que a floresta se mantenha sempre úmida. Quando a floresta é
removida, a água que retorna para a atmosfera é reduzida e a energia não
utilizada contribui para aumentar as temperaturas locais.
A
pesquisa de Maeda e colegas demonstra que esse processo é ainda mais agravado
por grandes fazendas de commodities. A produção de safras de commodities na
floresta amazônica é frequentemente associada a um manejo muito intensivo da
terra. Devido às condições climáticas favoráveis, os agricultores costumam ter
duas safras / semeaduras por ano. Essas atividades removem completamente a
vegetação da superfície terrestre, levando a um clima local mais quente e seco.
Embora
áreas dominadas por pequenos assentamentos rurais também experimentem aumento
de temperatura, a magnitude das mudanças é substancialmente menor do que as
observadas em grandes fazendas de commodities. Os autores do estudo argumentam
que a principal razão é porque esses pequenos assentamentos rurais são
frequentemente menos manejados, deixando uma cobertura vegetal mais densa e
contínua do que nas grandes fazendas de monocultura.
Práticas agrícolas alternativas necessárias para ajudar a salvar a floresta amazônica.
Áreas desmatadas usadas para agricultura no sul da Amazônia mostradas em imagens de satélite.
Os
resultados desta pesquisa fornecem evidências convincentes de que práticas
agrícolas alternativas serão críticas para um futuro sustentável na floresta
amazônica.
“Isso
significa que parar o desmatamento não é mais suficiente. Para proteger os
remanescentes florestais, os agricultores da região amazônica terão que
incorporar práticas mais sustentáveis”.
De
acordo com a pesquisa, isso significa que as atividades agrícolas precisam
estar mais integradas ao ecossistema natural da Amazônia. A agrossilvicultura
é, por exemplo, uma alternativa interessante, pois busca gerenciar os serviços
florestais e a agricultura ao mesmo tempo, melhorando a fertilidade do solo,
aumentando a disponibilidade de água, preservando a cobertura vegetal e o
microclima. O reflorestamento de pastagens abandonadas e áreas de desmatamento
ilegal também são caminhos importantes para mitigar as mudanças ambientais.
Os autores do estudo alertam que tais mudanças não virão facilmente. A produção de safras de commodities no sul da Amazônia pode ser um negócio muito lucrativo. Assim, as políticas locais e internacionais, em combinação com ações lideradas pela indústria de alimentos e organizações da sociedade civil, terão um papel crítico na mudança da mentalidade atual. Finalmente, aumentar a consciência internacional e a preferência dos consumidores por produtos mais sustentáveis, será essencial para criar uma pressão real na cadeia de abastecimento, esperançosamente dando alguma esperança para o futuro da floresta amazônica.
Aquecimento global é o grande desafio da agricultura.
A
pesquisa foi financiada pela Academia da Finlândia e realizada no Laboratório
de Dinâmica de Ecossistemas Terrestres da Universidade de Helsinque.
(ecodebate)
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