O peso do desperdício global
de comida equivale a aproximadamente ao de 23 milhões de caminhões de 40
toneladas totalmente carregados que, se enfileirados, poderiam dar sete voltas
na Terra.
Novo estudo com dados
agregados de 54 países, entre eles o Brasil, contou com colaboração da Embrapa
Alimentos e Territórios
Estima-se que 931 milhões de
toneladas de alimentos, ou 17% do total de alimentos disponíveis para os
consumidores em 2019, foram para a cesta do lixo de domicílios, varejistas,
restaurantes e de outros serviços alimentares, de acordo com o estudo global
Índice do Desperdício de Alimentos, lançado neste mês de março pelo Programa
das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA) e a organização inglesa WRAP
(The Waste and Resources Action Programme).
O peso do desperdício global
de comida equivale a aproximadamente ao de 23 milhões de caminhões de 40
toneladas totalmente carregados que, se enfileirados, poderiam dar sete voltas
na Terra.
Com enfoque nas etapas de
varejo e consumo de alimentos, faz parte do esforço global para contribuir com
soluções para a meta 12.3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
que visa reduzir pela metade as perdas e o desperdício de alimentos até 2030.
O novo relatório da ONU complementa o “Food Losses Index”, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) também com contribuições de pesquisadores da Embrapa.
Para Gustavo Porpino, especialista no tema da Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió- AL) que colaborou como revisor do estudo da ONU, os achados da pesquisa contradizem a narrativa anterior de que o desperdício nas etapas de varejo e consumo estavam mais concentrados nos países desenvolvidos. “O estudo indica que ações para reduzir o problema são relevantes tanto em países desenvolvidos quanto em países emergentes. Nos países de renda média-baixa, o desperdício estimado nas famílias foi até maior do que em países de alta renda, isso se dá por que a classe média baixa tem mais dificuldades de planejar as compras, por vezes não possuem os meios para preservar bem os alimentos e um segmento ainda não reaproveita as sobras das refeições. Educação e comunicação para mudança comportamental são importantes para reverter este quadro”, avalia.
Porpino ressalta ainda a
importância de fortalecer políticas públicas de alimentação voltadas para o
fortalecimento de sistemas alimentares circulares. “É uma tendência global
aliar mais a economia circular ao setor agroalimentar. O Brasil tem muito
potencial de avançar, por exemplo, no desenvolvimento de produtos
agroalimentares upcycled, que inovam ao dar novos usos a resíduos, e também de
co-criar soluções com foodtechs para reduzir o desperdício de alimentos”.
O estudo também aponta que a
maior parte do desperdício acontece nos domicílios, que descartam 11% do total
de alimentos disponíveis na fase de consumo da cadeia de abastecimento. Os
serviços alimentares e os estabelecimentos varejistas desperdiçam 5% e 2%,
respectivamente.
Nível per capita global, 121 kg de alimentos por ano são desperdiçados, em média, considerando o volume descartado pelos varejistas e consumidores, sendo 74 kg destes, provenientes de domicílios. Relatório também inclui estimativas regionais e nacionais per capita.
Mudanças climáticas
“A redução do desperdício
alimentar diminuiria as emissões de gases de efeito de estufa, atenuaria a
destruição da natureza por meio da conversão da terra e da poluição, aumentaria
a disponibilidade de alimentos e, assim, reduziria a fome e pouparia recursos
em um momento de recessão global”, afirma Inger Andersen, Diretora Executiva do
PNUMA.
“Se quisermos levar a sério o
combate às mudanças climáticas, à perda da natureza e da biodiversidade, à
poluição e resíduos, empresas, governos e cidadãos de todo o mundo têm de fazer
a sua parte para reduzir o desperdício alimentar. A Cúpula da ONU sobre
Sistemas Alimentares este ano proporcionará uma oportunidade para lançar novas
ações ousadas para combater o desperdício alimentar a nível mundial”,
acrescenta.
Segundo o PNUMA, com 690
milhões de pessoas afetadas pela fome em 2019, um número que poderá aumentar
significativamente com a pandemia da COVID-19, e três bilhões de pessoas
impossibilitadas de custear uma dieta saudável, os consumidores precisam de
ajuda para reduzir o desperdício alimentar em casa.
Problema global
Outros 38 países têm dados de
desperdício alimentar doméstico onde pequenas alterações na metodologia,
cobertura geográfica ou tamanho da amostra lhes permitiriam criar uma
estimativa compatível com o SDG 12.3. Um total de 54 países possuem dados
relativos a pelo menos um dos três setores analisados pelo relatório.
As novas estimativas de desperdício de alimentos mundial foram geradas a partir de pontos de dados existentes e extrapolações baseadas nas estimativas observadas em outros países. O estudo da Embrapa e FGV sobre desperdício de alimentos em famílias brasileiras, elaborado via projeto dos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil, foi utilizado para estimar o montante desperdiçado na etapa de consumo no Brasil.
Os dados sobre a proporção de partes comestíveis e não-comestíveis desperdiçadas estão disponíveis apenas em alguns países de alta renda e mostram uma proporção de 50/50, em média nos domicílios. A proporção de partes não comestíveis é uma importante lacuna de conhecimento, podendo ser mais elevada em países com nível de renda mais baixo. (ecodebate)
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