No Decrescimento com
Progresso, o fundamental é decrescer as atividades poluidoras, mas estimular o crescimento
das atividades amigáveis ao meio ambiente.
Portanto, o Brasil sabe o que
é decrescimento. Mas o decrescimento experimentado pelos brasileiros foi
marcado pelo retrocesso econômico, social e ambiental. Houve
desindustrialização, reprimarização da estrutura produtiva e uma
“especialização regressiva” da economia. Houve aumento da pobreza e um
esgarçamento do tecido social. E houve uma grande degradação do meio ambiente
com agravamento do desmatamento, perda da biodiversidade e aumento da poluição.
Portanto, o Brasil experimentou um tipo de decrescimento que não é bom para
ninguém.
Mas qualquer país teria condições de planejar um decrescimento com prosperidade, na linha do livro de Tim Jackson: “Prosperidade sem Crescimento – Vida Boa em um Planeta Finito” ou como mostrado na faixa abaixo (exibida durante a Conferência Rio + 20, ocorrida em 2012) que defende o decrescimento com desenvolvimento humano, ecologicamente sustentável e socialmente justo.
No Decrescimento com Progresso, o fundamental é decrescer as atividades poluidoras, mas estimular o crescimento das atividades amigáveis ao meio ambiente. Como apresentei no artigo “O decrescimento demoeconômico e o trilema da sustentabilidade” (Alves, 20/06/2018), há diversas maneiras de fazer decrescer as atividades mais poluidoras e degradadoras do meio ambiente, abrindo espaço para crescer as atividades mais voltadas para a preservação e a regeneração ecológica, tais como:
• Decrescer os gastos
militares e reduzir a produção e uso de instrumentos de guerra e aumentar os
investimentos em atividades de engrandecimento da solidariedade nacional e
internacional, na promoção da paz e na ampliação do bem-estar social (com
melhoria da saúde, da educação e cultura ecocêntrica).
• Decrescer a produção e o
consumo de fertilizantes químicos e agrotóxicos e aumentar os investimentos na
agricultura orgânica, na permacultura e na agricultura urbana, produzindo
alimentos saudáveis perto dos grandes centros urbanos (para decrescer os custos
de transporte e o desperdício dos alimentos).
• Decrescer as áreas de
pastagem e a produção e o consumo de proteína animal, promovendo a transição
para uma dieta vegetariana e vegana, além de aumentar as áreas de florestas e
vegetação nativa.
• Decrescer a produção e o
uso de carros particulares (principalmente aqueles grandes, pesados e que
demandam muita energia por quilômetro rodado) e aumentar os investimentos em
transporte coletivo e no compartilhamento de automóveis elétricos.
• Decrescer as desigualdades,
o consumo conspícuo, os bens de luxo e investir em bens e serviços que permitam
a universalização do bem-estar, aumentando as atividades da economia solidária,
da economia colaborativa, de forma a diminuir os impactos das atividades
antrópicas.
• Decrescer a demanda dos
serviços ecossistêmicos, reduzir a poluição e diminuir as áreas ecúmenas,
aumentando as áreas verdes (florestas e matas), limpando os rios, lagos e
oceanos para viabilizar a recuperação da biodiversidade, o aumento das áreas
anecúmenas e o incremento do bem-estar ecológico.
• Decrescer a economia
material e aumentar a economia imaterial, a produção de bens intangíveis e a
sociedade do conhecimento, da solidariedade e do compartilhamento.
O fato é que a humanidade
precisa mudar o estilo de vida e o padrão de produção e consumo para diminuir a
degradação ambiental. O alerta feito, em 1972, no livro “Limites do
Crescimento”, continua válido. Mas não basta mais limitar o crescimento. O
desafio atual é promover o decrescimento demoeconômico, reduzindo a Pegada
Ecológica e aumentando a Biocapacidade do Planeta.
Portanto, é preciso um
decrescimento tanto da população, quanto da economia, pois se houver redução do
PIB e manutenção do volume da população haverá redução da renda per capita e as
pessoas, em média, ficarão mais pobres. Decrescer apenas a população exigiria
uma redução muito forte para equilibrar a Pegada Ecológica com a Biocapacidade,
o que seria inviável na prática. Mas existe um caminho que o mundo pode trilhar
no sentido de promover um decrescimento demoeconômico com prosperidade
econômica e social e com sustentabilidade ambiental.
Por exemplo, a população mundial deve atingir 8 bilhões de habitantes em 2023, segundo a Divisão de População da ONU e o PIB mundial, em poder de paridade de compra, deve ficar em US$ 147,3 trilhões, com uma renda per capita de US$ 18,4 mil. Numa situação hipotética, vamos imaginar que haja uma redução da população de 0,3% ao ano e uma redução de 0,1% ao ano do PIB entre 2024 e 2100. Como mostra o gráfico abaixo, haveria um aumento da renda per capita de US$ 18,4 mil para US$ 21,5 mil, em 76 anos, um aumento de 17%. No mesmo período a população mundial cairia de 8 bilhões para 6,4 bilhões de habitantes (uma queda de 20% em 76 anos) e o PIB teria uma queda de US$ 147,3 trilhões para US$ 136,4 trilhões (uma redução de 7,4% em 76 anos).
Ou seja, se a redução da população acontecer em ritmo mais rápido do que a queda do montante de bens e serviços produzidos anualmente, ao contrário do decrescimento recessivo, o mundo poderia ter um decrescimento demoeconômico com prosperidade, com aumento da renda per capita e elevação do bem-estar social e ambiental.
O Brasil e vários países do
mundo já vivem um decrescimento econômico recessivo. Diversos países (exemplo o
Japão) já apresentam decrescimento populacional e a China vai perder mais de
400 milhões de habitantes entre 2030 e 2100 (segundo projeções da ONU).
Decrescimento foi mundial
devido a pandemia, tendo o caminho 'longo e irregular até a retomada da
economia global após a covid-19, na previsão do FMI. (ecodebate)
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