A
terra aqui é espelhada: as ondas azul-prateadas de um imenso painel solar se
estendem em todas as direções.
Ao
longe, eles esbarram em uma parede cinza colossal de 5 andares de altura e
quase um quilômetro de comprimento. Atrás deste muro, você avista as tubulações
e pórticos de uma fábrica de produtos químicos.
Conforme
você se aproxima, vê que a parede está se movendo – ela é inteiramente composta
de ventiladores enormes que giram em caixas de aço. Parece um aparelho de
ar-condicionado gigantesco, soprando em proporções inacreditáveis.
De
certa forma, é exatamente isso. Você está olhando para uma usina de captura
direta de ar (DAC, na sigla em inglês), uma das dezenas de milhares do tipo em
todo o mundo. Juntas, elas estão tentando resfriar o planeta sugando dióxido de
carbono do ar.
Esta
paisagem texana ficou famosa pelos bilhões de barris de petróleo extraídos de
suas profundezas durante o século 20. Agora, o legado desses combustíveis
fósseis – o CO2 em nosso ar – está sendo bombeado de volta para os
reservatórios vazios.
Se
o mundo deseja cumprir as metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento
global a 1,5°C até 2100, paisagens como esta podem ser necessárias em meados do
século.
Mas
voltemos por um momento até 2021, para Squamish, na Província canadense de
British Columbia, onde, em contraste com um horizonte bucólico de montanhas
nevadas, estão sendo feitos os últimos retoques em um dispositivo do tamanho de
um celeiro coberto com uma lona azul.
Quando
entrar em operação, em setembro, o protótipo da usina de captura direta de ar
da Carbon Engineering começará a remover 1 tonelada de CO2 do ar
todos os anos.
Esta
paisagem texana ficou famosa pelos bilhões de barris de petróleo extraídos de
suas profundezas durante o século 20. Agora, o legado desses combustíveis
fósseis – o CO2 em nosso ar – está sendo bombeado de volta para os
reservatórios vazios.
Se o mundo deseja cumprir as metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C até 2100, paisagens como esta podem ser necessárias em meados do século.
Mas voltemos por um momento até 2021, para Squamish, na Província canadense de British Columbia, onde, em contraste com um horizonte bucólico de montanhas nevadas, estão sendo feitos os últimos retoques em um dispositivo do tamanho de um celeiro coberto com uma lona azul.
Quando
entrar em operação, em setembro, o protótipo da usina de captura direta de ar
da Carbon Engineering começará a remover 1 tonelada de CO2 do ar
todos os anos.
O
hidróxido de potássio absorve CO2 do ar. O líquido é canalizado para
uma segunda câmara e misturado com hidróxido de cálcio, a cal usada na
construção civil, que se prende ao CO2 dissolvido, produzindo
pequenos flocos de calcário.
Esses
flocos são peneirados e aquecidos em uma terceira câmara, de calcinação, até
que se decomponham, liberando CO2 puro, que é capturado e
armazenado. Em cada etapa, os resíduos químicos são reciclados.
Com
as emissões globais de carbono continuando a aumentar, a meta climática de 1,5°C
parece cada vez menos provável de ser alcançada sem intervenções como essa.
"O
número de coisas que teriam que acontecer sem a captura direta de ar é tão
extenso e variado que é altamente improvável que sejamos capazes de cumprir o
Acordo de Paris sem ela", diz Ajay Gambhir, pesquisador sênior do
Instituto Grantham para Mudança Climática da Universidade Imperial College
London, no Reino Unido, e um autor de um artigo sobre o papel da DAC na
mitigação do clima.
O
IPCC apresenta alguns modelos de estabilização do clima que não dependem da
captura direta de ar, mas Gambhir adverte que eles são "extremamente
ambiciosos" em suas previsões sobre os avanços na eficiência energética e
a disposição das pessoas em mudar seu comportamento.
"Passamos
do ponto em que a redução das emissões precisava ocorrer", acrescenta
Zelikova. "Estamos confiando cada vez mais na DAC."
A
DAC está longe de ser a única maneira de o carbono ser retirado da atmosfera.
Ele pode ser removido naturalmente por meio de mudanças no uso da terra, como o
plantio de florestas.
Mas
é algo lento e exigiria grandes extensões de terras valiosas – reflorestar uma
área do tamanho dos Estados Unidos, segundo alguns estimam, e aumentar o preço
dos alimentos em cinco vezes no processo.
O
artigo de Gambhir calcula que simplesmente manter o ritmo das emissões globais
de CO2 – atualmente, 36 gigatoneladas por ano – exigiria construir
cerca de 30 mil usinas de DAC de larga escala, mais de três para cada central
elétrica a carvão em operação no mundo hoje.
A
construção de cada usina custaria até US$ 500 milhões – chegando a um custo de
até US$ 15 trilhões.
Cada
uma dessas unidades precisaria ser abastecida com solvente para absorver o CO2.
O abastecimento de uma frota de usinas grande o suficiente para capturar 10
gigatoneladas de CO2 por ano vai exigir cerca de 4 milhões de
toneladas de hidróxido de potássio, o equivalente a uma vez e meia todo o
fornecimento anual global deste produto.
E
uma vez que essas milhares de usinas forem construídas, elas também vão
precisar de energia para funcionar.
"Se
esta fosse uma indústria global absorvendo 10 gigatoneladas de CO2 por
ano, você estaria gastando 100 exajoules, cerca de um sexto da energia global
total", diz Gambhir.
A
maior parte dessa energia é necessária para aquecer a câmara de calcinação a
cerca de 800°C – quente demais para a energia elétrica sozinha, então, cada
planta de DAC precisaria de um aquecedor a gás e de uma boa fonte de gás.
As
estimativas de quanto custa capturar uma tonelada de CO2 do ar
variam amplamente, de US$ 100 a US$ 1 mil por tonelada.
Oldham
diz que a maioria dos números é excessivamente pessimista – ele está confiante
de que a Climate Engineering pode remover uma tonelada de carbono por apenas US$
94, especialmente quando se tornar um processo industrial difundido.
Um
problema maior é descobrir para onde enviar a conta. Incrivelmente, salvar o
mundo acaba sendo algo muito difícil de vender, comercialmente falando.
Surpreendentemente,
um dos maiores clientes do CO2 comprimido é a indústria de
combustíveis fósseis.
À
medida que os poços secam, não é incomum espremer o óleo restante do solo
pressionando o reservatório usando vapor ou gás em um processo chamado
recuperação aprimorada de petróleo.
O
dióxido de carbono é uma escolha popular para isso e vem com o benefício
adicional de reter esse carbono no subsolo, completando o estágio final de
captura e armazenamento de carbono.
A
Occidental Petroleum, que se associou à Carbon Engineering para construir uma
planta de DAC em larga escala no Texas, usa 50 milhões de toneladas de CO2
todos os anos na recuperação aprimorada de petróleo.
Cada
tonelada de CO2 usada dessa forma vale cerca de US$ 225 somente em
créditos fiscais.
Talvez
seja apropriado que o CO2 presente no ar acabe sendo devolvido ao
subsolo dos campos de petróleo de onde veio, embora possa ser irônico que a única
maneira de financiar isso seja buscando ainda mais óleo.
A
Occidental e outras empresas esperam que, ao bombear CO2 no solo,
possam reduzir drasticamente o impacto do carbono do petróleo: uma operação
típica de recuperação aprimorada sequestra uma tonelada de CO2 para
cada 1,5 toneladas que libera de óleo fresco.
Portanto,
embora o processo reduza as emissões associadas ao petróleo, ele não equilibra
as contas.
Outras
alternativas
Mas há outros usos que podem se tornar mais viáveis comercialmente. A Climeworks, empresa de captura direta de ar, tem 14 unidades de menor escala em operação sequestrando 900 toneladas de CO2 por ano, que vende para uma estufa para estimular o crescimento da plantação de picles.
E agora está trabalhando em uma solução de longo prazo: uma usina em construção na Islândia vai misturar CO2 capturado com água e bombeá-lo até 500 ou 600 metros abaixo do solo, onde o gás reagirá com o basalto ao redor e se transformará em pedra.
Para
financiar isso, ela oferece às empresas e aos cidadãos a possibilidade de
comprar crédito de carbono, a partir de meros 7 euros por mês. Será que o resto
do mundo pode ser convencido a fazer isso?
"A
DAC sempre custará dinheiro e, a menos que você seja pago para isso, não há
incentivo financeiro", diz Chris Goodall, autor de What We Need To Do Now:
For A Zero Carbon Future (O que precisamos fazer agora: para um futuro com
carbono zero, em tradução livre).
A
Climeworks pode vender créditos para pessoas virtuosas, firmar contratos com a
Microsoft e a Stripe para tirar algumas centenas de toneladas de carbono por
ano da atmosfera, mas isso precisa ser aumentado em um milhão de vezes, e
requer que alguém pague por isso.
"Há
subsídios para carros elétricos, financiamento barato para usinas solares, mas
você não vê isso para DAC", diz Oldham.
"Há
tanto foco na redução de emissões, mas não existe o mesmo grau de foco no resto
do problema, o volume de CO2 na atmosfera. O grande impedimento para
a DAC é que a ideia não está nas políticas".
Zelikova
acredita que a DAC seguirá um caminho semelhante ao de outras tecnologias
climáticas e se tornará mais acessível.
"Temos
curvas de custo bem desenvolvidas que mostram como a tecnologia tem o custo
reduzido muito rapidamente", afirma.
"Superamos
obstáculos semelhantes com a energia eólica e solar. O principal é
implementá-las ao máximo. É importante que o governo apoie a comercialização –
ele tem um papel como primeiro cliente, e um cliente com o bolso cheio de
dinheiro."
Goodall
defende um imposto global sobre o carbono, o que tornaria caro emitir carbono,
a menos que os créditos fossem adquiridos.
"Há
um custo enorme nas mudanças climáticas, nos desastres naturais induzidos ou
exacerbados. Precisamos acabar com a ideia de que a DAC deveria ser
barata".
Risco
e recompensa
Mesmo
se concordarmos em construir 30 mil usinas de DAC em escala industrial,
encontrar os materiais químicos para operá-las e o dinheiro para pagar por tudo
isso, ainda não estaremos fora de perigo.
Na
verdade, podemos acabar em uma situação pior do que antes, graças a um fenômeno
conhecido como dissuasão da mitigação.
"Se
você acha que a DAC estará lá no médio e longo prazo, você não fará tanta
redução de emissões no curto prazo", explica Gambhir.
"Se
a ampliação der errado – se for difícil produzir o adsorvente, ou se degradar
mais rapidamente, se for mais complicado tecnologicamente, se acabar sendo mais
caro do que o esperado –, então, de certa forma, por não ter agido rapidamente
no curto prazo, você efetivamente se vê encurralado em um caminho de
temperaturas mais altas."
Os
críticos da DAC apontam que grande parte de seu apelo reside na promessa de uma
tecnologia hipotética que nos permite continuar vivendo nosso estilo de vida
rico em carbono.
Mesmo
assim, Oldham argumenta que, para algumas indústrias difíceis de descarbonizar,
como a da aviação, os créditos que financiam a DAC podem ser a opção mais
viável.
"Se
for mais barato e mais fácil retirar o carbono do ar do que parar de voar,
talvez seja esse papel que a DAC desempenha no controle de emissões."
Gambhir
argumenta, por sua vez, que não é uma situação do tipo "isso ou
aquilo". "Precisamos reduzir rapidamente as emissões no curto prazo,
mas, ao mesmo tempo, desenvolver a DAC com determinação para ter certeza de que
poderemos contar com ela no futuro."
Zelikova
concorda: "A DAC é uma ferramenta fundamental para equilibrar o orçamento
de carbono, de forma que o que não podemos eliminar hoje possa ser removido
mais tarde".
Enquanto Oldham busca expandir a Carbon Engineering, o fator primordial é provar que a DAC em larga escala é "viável, acessível e disponível".
Se ele for bem-sucedido, o futuro do clima do nosso planeta pode mais uma vez ser decidido nos campos de petróleo do Texas. (biodieselbr)
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