O aumento do desmatamento na
Amazônia nos últimos anos pode acelerar um processo de savanização da floresta.
É o que apontam pesquisadores
de órgãos e entidades que analisam a degradação do meio ambiente no país, como
o INPE/Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais.
De acordo com alguns
cientistas, se a Amazônia perder 3% a 8% a mais de sua cobertura florestal,
pode passar do ponto irreversível de se tornar uma savana degradada, conforme
publicado pelo site Mongabay Brasil.
O ambientalista Miguel
Scarcello, secretário-geral da ONG SOS Amazônia, estabelecida no estado do
Acre, afirma que, de fato, este risco é muito elevado atualmente.
Ele explica que muitos
estudos desconsideram áreas com desmate parcial, com extração de árvores
específicas, observando apenas as zonas inteiras de degradação. Por isso, ele
estima que a situação seja ainda mais crítica.
"Acredito que os
impactos serão muito grandes. A princípio, o que temos são estudos que apontam
para uma savanização da região, em vez de predominar uma floresta densa, com
muitas árvores", disse Scarcello, em entrevista à Sputnik Brasil.
O especialista detalha que a
ação humana poderá provocar uma redução das espécies de árvores de grande
porte, um maior espaçamento entre uma copa e outra e ainda uma queda do volume
de chuvas.
"Pode haver um período
de seca muito mais extenso e severo, com ocorrência esparsa de chuvas, e,
consequentemente, uma grande redução de água no lençol freático e um efeito
direto na oferta de água nos rios. Este é o mecanismo lógico que a gente pode
prever", alertou o ambientalista.
Scarcello acredita em
consequências muito negativas sobre toda a vegetação e a população de animais
da região, com um deslocamento em massa de espécies, que alterará o processo
natural de floração e fecundação.
Esse movimento afetará ainda a forma de vida das pessoas desses locais, com mudanças no consumo alimentar e no comércio, acarretando em possíveis prejuízos financeiros.
Imagem de área da Amazônia sendo desmatada, em Porto Velho, no Brasil em 23/08/2019.
O especialista ressalta que,
por não haver controle absoluto sobre toda a realidade do território amazônico,
é difícil realizar previsões.
Porém, ele aponta que, em uma
taxa anual de desmatamento de 10 mil km², como ocorre hoje, o país poderá
completar o processo de savanização da floresta em 30 anos.
"Se levarmos em
consideração que há um processo de degradação florestal muito intenso
acontecendo por conta de outras maneiras de intervenção, não só o desmatamento,
podemos acelerar esse efeito de savanização sem perceber", avisou o
ambientalista.
Segundo Scarcello, o
enfraquecimento dos órgãos de controle ambiental nos últimos dois anos, no
governo de Jair Bolsonaro, tem impulsionado um aumento do desmatamento "bem
maior que nos anos anteriores".
"Então, pode levar até
bem menos de 30 anos, devido a essas ações de degradação seletiva, feitas em
todas as áreas da Amazônia, em todas as partes", afirmou.
O que precisa ser feito para
reverter o quadro?
Para salvar a floresta da
savanização, o ambientalista explica que, em primeiro lugar, é necessária uma
"mudança de postura política".
"É preciso fazer muita
coisa. Precisamos de determinação política e consciência das populações e dos
atores locais de que é necessário parar esse processo da maneira como tem sido
feito", disse.
Em seguida, ele indica uma série de medidas importantes. Segundo o ambientalista, as autoridades devem alterar o mecanismo das atividades produtivas, investindo em restauração florestal, incremento da agricultura e implantação de sistemas agroflorestais.
Pedaços de troncos de árvores da Amazônia derrubadas ilegalmente na reserva Renascer, no Pará.
Scarcello ressalta a
necessidade de combinar a restauração do território com a implantação de
cultivos que forneçam alimentos ou matéria-prima para atender as cadeias de
negócio da região.
"Pode-se incrementar o
plantio de cacau, açaí... Tudo isso possibilita a restauração e,
consequentemente, a desaceleração desse processo de savanização", afirmou.
De acordo com o especialista,
o ideal era realizar um reflorestamento de 20 mil km² por ano na Amazônia.
Em sua visão, se for possível
ao menos compensar o ritmo de desmatamento anual de 10 mil km², já seria um
avanço.
"É necessário que haja
um investimento intenso nesse sentido, com a paralisação de todas as
iniciativas de derrubada da floresta. Acredito que isso possa ser feito de uma
maneira decrescente, em um processo sucessivo, reduzindo ano a ano a área de
desmate e incrementando cada vez mais a área reflorestada", disse
Scarcello. (sputniknews)
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