Novas e atualizadas
Contribuições Nacionalmente Determinadas só retiram 7,5% das emissões previstas
para 2030, enquanto é necessário 55% para atingir a meta do Acordo de Paris de
limitar o aquecimento a 1,5°C.
As últimas promessas
climáticas para 2030 colocam o mundo no caminho para um aumento da temperatura
neste século de pelo menos 2,7°C, de acordo com o último Relatório sobre a
Lacuna de Emissões 2021 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA).
Novos e atualizados
compromissos climáticos ficam muito aquém do que é necessário para cumprir as
metas do Acordo de Paris, deixando o mundo no caminho para um aumento da
temperatura global de pelo menos 2,7°C neste século, de acordo com o último
Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021 do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA): O Aquecedor está Ligado.
O relatório, agora em sua 12º
edição anual, conclui que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na
sigla em inglês) atualizadas dos países, juntamente com outras promessas de
mitigação anunciadas para 2030, mas ainda não submetidas como NDCs atualizadas,
apenas retiram um adicional de 7,5% das emissões anuais de gases de efeito
estufa previstas para 2030 quando comparamos com a rodada anterior de
compromissos. São necessárias reduções de 30% para permanecermos no caminho de
menor custo para a meta de 2°C e 55% para a de 1,5°C.
“Menos de uma semana antes da
COP26 em Glasgow, ainda estamos no caminho para a catástrofe climática”, disse
o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante uma coletiva de imprensa
sobre o documento.
“A lacuna de emissões é o
resultado de uma lacuna de liderança. Mas os líderes ainda podem fazer disso um
ponto de virada para um futuro mais verde em vez de um ponto de inflexão para
uma catástrofe climática. A era de medidas pela metade e promessas vazias
precisa acabar”, afirmou Guterres.
Lançado antes da 26a
Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima, a COP26, que é a mais recente rodada de negociações climáticas,
realizada em Glasgow, o relatório descobre que os compromissos de emissões
líquidas zero (net-zero, em inglês) poderiam fazer uma grande diferença. Se
totalmente implementados, estes compromissos poderiam reduzir a previsão de
aumento da temperatura global para 2,2°C – trazendo, assim, esperança de que
novas ações ainda podem evitar os impactos mais catastróficos da mudança
climática. Entretanto, as promessas de emissões líquidas zero ainda são vagas,
incompletas em muitos casos e inconsistentes com a maioria das NDCs até 2030.
“A mudança climática não é mais um problema futuro. É um problema do agora. Para termos uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5°C, temos oito anos para reduzir quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa: oito anos para fazer os planos, colocar em prática as políticas, implementá-las e, em última instância, fazer os cortes. O relógio está correndo muito rápido”, disse a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
Em 30/09/2021, 120 países representando pouco mais da metade das emissões globais de gases de efeito estufa haviam comunicado suas novas ou atualizadas NDCs. Além disso, três membros do G20 anunciaram outras novas promessas de mitigação para 2030.
Para ter uma chance de
limitar o aquecimento global a 1,5°C, o mundo precisa de oito anos para retirar
28 gigatoneladas adicionais de CO2 equivalente (GtCO2e)
das emissões anuais, além do que é prometido nas NDCs atualizadas e outros
compromissos para 2030. Quando todos os demais gases de efeito estufa são
considerados, as emissões ficam próximas de 60 GtCO2e. Assim, para
ter uma chance de alcançar a meta de 1,5°C, precisamos cortar praticamente
metade das emissões de gases de efeito estufa. Para a meta de 2°C do Acordo de
Paris, a necessidade adicional é menor: uma queda nas emissões anuais de 13
GtCO2e até 2030.
O novo presidente da COP26,
Alok Sharma, disse que o relatório destaca o motivo pelo qual os países
precisam mostrar ações climáticas ambiciosas na COP26: “Como este relatório
aponta, se os países cumprirem seus NDCs para 2030 e os compromissos de
emissões líquidas zero que foram anunciados até o final de setembro, estaremos
caminhando para aumentos médios da temperatura global de pouco mais de 2°C”.
Análises complementares sugerem que os compromissos assumidos em Paris teriam
limitado o aumento da temperatura a menos de 4°C.
“Portanto, houve progresso,
mas não o suficiente. É por isso que precisamos que, especialmente os maiores
emissores, as nações do G20, assumam compromissos mais fortes até 2030 se
quisermos que seja possível manter 1,5°C no alcance durante esta década
crítica”, acrescentou Sharma.
Foco nas emissões líquidas
zero – De acordo com os autores, as promessas de emissões líquidas zero – e
suas execuções efetivas – poderiam fazer uma grande diferença, mas os planos
atuais são vagos e não estão refletidos nas NDCs. Um total de 49 países mais a
União Europeia se comprometeram com metas de emissões líquidas zero. Isso cobre
mais da metade das emissões domésticas globais de gases de efeito estufa, mais
da metade do PIB e um terço da população global. Onze metas estão consagradas
em lei, cobrindo 12% das emissões globais.
Se forem robustas e
implementadas integralmente, as metas de emissões líquidas zero poderiam
reduzir o aquecimento global em mais aproximadamente 0,5°C, reduzindo o aumento
previsto da temperatura para 2,2°C. Entretanto, muitos dos planos climáticos
nacionais postergam a ação para depois de 2030, levantando dúvidas se as
promessas de neutralidade climática podem ser cumpridas. Doze membros do G20 se
comprometeram com uma meta de emissões líquidas zero, mas elas ainda são
altamente ambíguas. A ação também precisa ser antecipada para chegar às metas
de 2030.
“O mundo tem que acordar para
o perigo iminente que enfrentamos como espécie. As nações precisam implementar
as políticas para cumprir seus novos compromissos, e começar já nos próximos
meses. Elas precisam tornar seus compromissos de neutralidade climática mais
concretos, garantindo que sejam incluídos nas NDCs e que as ações sejam
apresentadas. Em seguida, precisam colocar as políticas em prática para apoiar esta
ambição elevada e, novamente, começar a implementá-las urgentemente”, afirmou
Andersen.
“É também essencial fornecer
apoio financeiro e tecnológico às nações em desenvolvimento – para que possam
se adaptar aos impactos já em curso da mudança climática e se lançar em um
caminho de crescimento de baixas emissões”, complementou.
Potencial do metano e dos
mecanismos de mercado – Todos os anos, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões
examina o potencial de setores específicos. Neste ano, ele se concentra no metano
e nos mecanismos de mercado. A redução das emissões de metano dos setores de
combustíveis fósseis, resíduos e agricultura pode contribuir para fechar a
lacuna de emissões e reduzir o aquecimento no curto prazo.
As emissões de metano são o
segundo maior vetor do aquecimento global. O gás tem um potencial de
aquecimento global 80 vezes superior ao do dióxido de carbono em um horizonte
de 20 anos; também tem uma vida útil na atmosfera menor que o dióxido de
carbono – de apenas doze anos em comparação com até centenas para o CO2.
Portanto, os cortes no metano limitarão o aumento da temperatura mais
rapidamente que os cortes no dióxido de carbono.
Somente as medidas técnicas
disponíveis de baixo ou nenhum custo poderiam reduzir as emissões
antropogênicas de metano em cerca de 20% ao ano. A implementação de todas as
medidas, juntamente com medidas estruturais e comportamentais mais amplas,
poderia reduzir as emissões antropogênicas de metano em aproximadamente 45%.
Os mercados de carbono, por
sua vez, têm o potencial de reduzir custos e, assim, incentivar compromissos de
redução mais ambiciosos, mas somente se as regras forem claramente definidas,
concebidas para assegurar que as transações reflitam as reduções reais de
emissões, e sejam apoiadas por acordos para acompanhar o progresso e
proporcionar transparência.
As receitas obtidas através
destes mercados poderiam financiar soluções de mitigação e adaptação a nível
interno e em nações vulneráveis, onde os encargos da mudança climática são
maiores.
Oportunidade de recuperação
da COVID-19 foi perdida – O relatório conclui que a oportunidade de usar o
resgate fiscal e os gastos com a recuperação da COVID-19 para estimular a
economia e, ao mesmo tempo, apoiar a ação climática, foi perdida na maioria dos
países.
A pandemia da COVID-19 levou
a uma queda nas emissões globais de CO2 de 5,4% em 2020. Entretanto,
espera-se que as emissões de CO2 e de outras emissões em 2021
aumentem novamente para um nível apenas ligeiramente inferior ao recorde de
alta em 2019.
Apenas cerca de 20% do total dos investimentos de recuperação até maio/2021 deverão reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Destes gastos, quase 90% são de seis membros do G20 e um convidado permanente.
Os gastos da COVID-19 têm sido muito menores nas economias de baixa renda (US$ 60/pessoa) do que nas economias avançadas (11.800 dólares por pessoa). As lacunas nas finanças provavelmente agravarão as lacunas nas nações vulneráveis em matéria de resiliência climática e medidas de mitigação. (ecodebate)
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