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mudanças no clima jogarão 132 milhões na pobreza até 2030.
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ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Hx_xGPqRgKs
Em
Glasgow, negociação na COP26 vive impasse diante da falta de um acordo entre
governos sobre como financiar uma transição. Fome, queda de produtividade,
migrações em massa, conflitos por recursos e instabilidade. Essas são algumas
das previsões para o mundo, caso governos não consigam fechar um acordo para
implementar m medidas concretas para garantir um freio ao aquecimento global,
em Glasgow, nesta semana.
Com
a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas entrando em sua fase final, a
constatação de negociadores é que o otimismo inicial deu lugar a um temor real
de um colapso das negociações. Mas se governos não conseguem chegar a um
consenso, cientistas preparam a publicação de mais um informe do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e que vai revelar que o
planeta caminha para um impacto "irreversível" para a humanidade se
as temperaturas continuarem a subir.
Num
novo documento que será publicado em fevereiro de 2022 e que já começa a ser
finalizado, o IPCC deixa claro que o mundo deve se preparar para mudanças
profundas nos próximos 30 anos. Segundo o rascunho do informe, obtido pelo UOL,
a incapacidade de governos de limitar o aquecimento para 1,5°C e a falta de um
plano de adaptação terão consequências devastadoras.
O
documento estima que, mesmo com o cenário de um aquecimento que não passe do
patamar de 1,5°C, os bolsões de pobreza persistirão e, até 2030, o número de
pessoas vivendo em extrema pobreza aumentará em mais de 132 milhões, além dos
700 milhões de habitantes no planeta que já sobrevivem nessa situação.
Isso
ainda geraria deslocamentos de populações e migrações de populações incapazes
de se adaptar às mudanças climáticas.
"Mesmo com as mudanças climáticas atuais e moderadas, as pessoas vulneráveis experimentarão uma maior erosão da segurança de meios de subsistência que podem interagir com crises humanitárias, tais como deslocamento e migração forçada e conflitos violentos, e levar a pontos de ruptura social", diz. "O deslocamento pode reconfigurar dramaticamente as comunidades com implicações para a coesão social e os sistemas de conhecimento", constata.
Fome e impacto na agricultura
De
acordo com o documento, um dos principais impactos será na produção agrícola,
um dos pilares da inserção do Brasil no mundo. De fato, em Glasgow, parte da
participação oficial do governo brasileiro no debate ocorre em sintonia com o
setor agrícola.
O
IPCC revela que, de fato, já houve uma queda de 4% a 10% na produtividade no
campo no mundo nos últimos 30 anos, por conta das mudanças climáticas. Isso já
teria afetado 166 milhões de pessoas, principalmente na África e na América
Central, causando dependência da assistência humanitária devido a emergências
alimentares relacionadas ao clima entre 2015-2019. Só na África Subsaariana, as
produções de milho e trigo diminuíram 5,8% e 2,3%, respectivamente.
Mas
isso deve se aprofundar, aumentando a fome em até 80 milhões de pessoas até
2050. "As mudanças climáticas estão mudando as regiões agrícolas,
contraindo seus limites e contribuindo para perdas de culturas e gado em larga
escala e qualidade reduzida", alerta.
"O
aquecimento projetado, o estresse hídrico e os extremos climáticos aumentarão a
variabilidade espacial e temporal na produção agrícola, exacerbando a
insegurança alimentar regional e a desnutrição", alerta. "A
variabilidade climática potencialmente sincronizada entre as principais regiões
produtoras de alimentos aumentará a perda simultânea de colheitas",
destaca o documento, indicando ainda o risco de aumentos na incidência de
pragas e doenças. "Um maior controle de pragas devido ao aumento da
reprodução e redistribuição causará um aumento no custo de produção, perda de
biodiversidade e impactos no ecossistema", diz.
O
aumento das concentrações atmosféricas de CO2 também terá diversos
impactos. Um deles é a redução da densidade de proteínas e outros nutrientes
importantes em algumas culturas, piorando a qualidade dos alimentos e a
nutrição.
"Os
principais impactos projetados das mudanças climáticas no setor agrícola e
alimentar incluem um declínio na pesca, aquicultura e produção agrícola, as
principais produções agrícolas serão impactadas particularmente na África
Subsaariana, América Central e do Sul, Sul e Sudeste Asiático, uma redução na
produção animal na Mongólia, e mudanças nos sistemas agrícolas e nas áreas de
cultivo em quase todas as regiões, com implicações negativas para a segurança
alimentar", destaca.
Por
exemplo, um aumento de temperatura de 2,3ºC causaria um declínio de até 415 mil
km² de terras agrícolas na Mesoamérica e até 405 mil km² na América do Sul.
Na
Europa, as perdas de rendimento do milho aumentarão com os níveis de
aquecimento, enquanto a produção de cereais e soja em baixas latitudes está
projetada para diminuir em aproximadamente 5% para cada grau Celsius de
aquecimento. A produção australiana de trigo pode diminuir de 7% a 9% até 2050.
Em
resumo, o IPCC prevê que o impacto das mudanças climáticas sobre os sistemas
alimentares será profundo, com "consequências negativas para a renda,
alimentação e segurança nutricional para milhões de pessoas, especialmente em
latitudes baixas [do planeta]".
As
transformações ainda afetam a previsibilidade da data ou do local de plantio,
resultando na "redução da qualidade do produto colhido, com consequências
para a subsistência".
"O
aumento da variabilidade climática e extremos afetam negativamente os sistemas
agrícolas baseados na pecuária, incluindo a dinâmica do rebanho e as taxas de
recuperação, impactando diretamente a resiliência das famílias", constata
o IPCC.
Assim
como já veio alertando nos últimos anos, o IPCC deixa claro que o aquecimento
além de 1,5°C acima das temperaturas pré-industriais causará "impactos
progressivamente sérios, por séculos e, em alguns casos, irreversíveis para
sistemas humanos e ecológicos, incluindo extinções de espécies e impactos do
nível do mar nos sistemas costeiros".
Impasse
nas negociações
Para
o IPCC, apenas mudanças no padrão econômico não serão suficientes para lidar
com essa realidade. A entidade defende amplos planos de adaptação, inclusive
para transformar a agricultura da América do Sul e de outras regiões do mundo.
Mas,
para governos, isso apenas poderá ocorrer quando países ricos estiverem
dispostos a cumprir suas promessas e fazer as transferências de recursos que já
foram estabelecidas em 2009 e 2015.
Em Glasgow, porém, uma vez mais a questão financeira para a adaptação está no centro do debate. Emergentes, como o Brasil, insistem que os valores estipulados no passado de 100 bilhões de dólares por ano de transferência de ricos para pobres já não são suficientes e que um comitê deve ser estabelecido para buscar um novo patamar, para além de 2023.
Por conta de mudanças climáticas, crises humanitárias vão dobrar até 2050.
A
proposta, porém, é rejeitada pelos países ricos e, faltando apenas cinco dias
para o fim da COP26, um impasse completo domina o processo na Escócia. (uol)
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