O
incêndio florestal é um cenário preocupante, uma vez que o desmatamento provoca
danos irreversíveis a natureza, como pontua a doutora em ciências biológicas,
professora pelo SENAC/SP, Betina Alves.
Segundo
ela, o Cerrado é um tipo de savana tropical que só existe no Brasil e que
acolhe a maior diversidade de gramíneas do mundo.
As
raízes das árvores do bioma são profundas e em conjunto com as raízes dos
arbustos e gramíneas, formam uma enorme rede de canais que reservam água, mesmo
nas estações mais secas.
De
acordo com a especialista, a rede subterrânea é responsável por irrigar o
Pantanal e partes da Amazônia. E com o desmatamento da savana, as águas
subterrâneas estão sofrendo uma severa redução, porque sem as raízes, a água
não atinge os lençóis freáticos.
“O
avanço da agropecuária e da silvicultura tem sido grandes responsáveis pelo
desmatamento do Cerrado. Metade da vegetação super diversa da região foi
dizimada. Boa parte da produção de soja do Brasil está nessa floresta”,
informa.
O
bioma Cerrado está localizado na maior parte na região central do Brasil.
Inclui os estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal e Rondônia.
Consequências
O
resultado não é favorável para o meio ambiente. Alves comenta que há dois tipos
de queimadas, os naturais e as antrópicas. As queimadas que ocorrem de forma
natural são raríssimas, e com isso as espécies conseguem se recuperar
naturalmente, muitas germinam e soltam flores. Mas as queimadas antrópicas,
resultantes da ação humana, prejudicam as de origem natural, como consequência
as espécies não conseguem se recuperar, por conseguinte a floresta é devastada.
“As queimadas naturais não são o problema, mas sim o aumento brutal na ocorrência de queimadas de ação humana na região de Cerrado brasileiro nos últimos anos”, justifica a bióloga.
O papel de movimentos ambientais que buscam fazer a diferença
A
percepção dos fatos não é só evidenciada na área técnica que fundamenta os
conceitos apresentados pelas pesquisas realizadas. Temos diversos casos vividos
na prática, conforme a realidade do agricultor e liderança de movimento social
em prol do Cerrado e luta pela terra, Adilson Machado.
O
ativista foi uma liderança da Comissão Pastoral da Terra e representa uma
importante figura do movimento até os dias de hoje. Ele vive desde criança em
áreas de assentamento quando sua família se mudou do Paraná para o estado de
Rondônia. E assegura que o cenário da região é conturbado e que sente essas
mudanças no dia a dia.
“O
agronegócio está desmatando, acabando, destruindo, abrindo valas, drenando as
margens do rio Guaporé na fronteira com a Bolívia, nos municípios de
Pimenteiras, Cabixi, Cerejeiras, Corumbiara em regiões de Cerrado de áreas de
reservas, preservação permanentes estão sendo drenadas para a expansão de soja.
Sendo essa umas das grandes dificuldades da liderança a frente do movimento,”
enfatiza o agricultor.
Machado
testemunha diversos acontecimentos que faz o trabalho do pequeno agricultor e
lideranças à frente de projetos sociais como o dele, serem penosos e árduos,
uma vez que o desmatamento só cresce com as constantes queimadas.
“A
situação é complicada, há o conflito de terras alarmante, despejo em plena
pandemia, mortes e chacinas. É dificultoso ser agricultor nessa região e ter
que conviver com agrotóxicos, contaminação das águas, doenças e perseguição”,
conta sua experiência vivendo no território.
Jornalista
e também ativista do movimento “Comissão Pastoral da Terra”, Leuziene Lopes,
acredita numa causa que inclui a participação de todos, igualmente voluntária e
involuntária.
Os
trabalhos exercidos pelas ONGs e movimentos são no intuito de defender o bioma
como um todo. Segundo ela, a organização faz um trabalho de ‘acompanhamento’
com objetivo central de lutar pela terra com base em tudo que a gira em torno.
É trabalhado a formação de lideranças, a preservação das nascentes e dos povos
que ali vivem.
“Eu
considero muito importante a participação da juventude nesse processo,
independente do contexto em que elas estejam. Como por exemplo, se alguém vive
num ambiente urbano de grande centro e pensar que não precisa do trabalho que é
feito em Rondônia, ou qualquer lugar no interior do Brasil, é um pensamento
retrógado e ignorante”, diz.
Lopes
garante que essa questão vem do ponto de vista do ambiente ao qual todos
estamos ligados, não importa o espaço social. O que o pequeno agricultor produz
no campo é colocado na boca do morador da grande cidade.
“O fato de a juventude ajudar a preservar o Cerrado vai afetar diretamente na vida dos jovens que estão no contexto urbano dos grandes centros. Muitos efeitos climáticos que temos sentindo será as metrópoles e quem está na base da agricultura que vão sofrer essas consequências com maior intensidade”, pontua a ativista do movimento.
O papel da imprensa
E
por fim o papel da imprensa em meio a toda essa problemática é altamente
indispensável para mostrar a veracidade dos fatos e cobrar medidas de
prevenção. O impacto midiático do 4º poder influencia a sociedade civil.
“A
comunicação e o jornalismo têm um papel fundamental de educação e denúncia. É
educar as pessoas em preservar a natureza, independente da circunstância a que
estão. Há uma deficiência em relação a isso. Se conversamos com alguém sobre o
Cerrado, muito provável que não vão saber o que é o bioma, e do que se trata do
berço das águas”, ressalta a jornalista.
ATENÇÃO!
Está no ar o financiamento coletivo da Campanha #SalveUmaNascente. A meta é
ambiciosa: querem salvar até cinco nascentes do Cerrado. É possível doar sem
pedir nada em troca ou adquirir uma das recompensas. Ajude naquilo que puder, o
Cerrado precisa de você Acesse: https://benfeitoria.com/salveumanascente
e compartilhe com seus amigos e amigas. (ecodebate)
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