Para reduzir a Pegada
Ecológica, os países ricos precisam reduzir o consumo conspícuo e os gastos
militares e os países pobres não podem emular o estilo de desenvolvimento do
Norte Global.
“As autoridades dizem que uma
recuperação global da pandemia deve estar enraizada no crescimento verde. Mas
não existe crescimento verde. O crescimento está apagando o verde da Terra”.
George Monbiot (04/10/2021).
O hemisfério Ocidental –
fundamentalmente a Europa e os Estados Unidos (EUA) – foi o grande emissor
histórico de CO2, em decorrência da queima de combustíveis fósseis.
Mas este quadro mudou no século XXI e o hemisfério Oriental – especialmente a
China e a Índia – passou a ocupar o posto de maior poluidor do mundo.
O gráfico abaixo mostra que
em 1959 os EUA respondiam por 32% das emissões globais, a União Europeia (27
países) respondiam por 21,9%, a China por 8,1% e a Índia por somente 1,1% das
emissões globais. Mas em 6 décadas tudo mudou. Em 2019, a China passou a ocupar
o primeiro lugar no ranking das emissões fósseis de CO2, com 30,6%
das emissões globais.
Em segundo lugar os EUA com
13,5% do total, a União Europeia (27 países) com 7,5% do total e a Índia com 7%
das emissões globais. Outra característica que solta aos olhos é que os EUA e a
Europa27 apresentam emissões em queda nos anos 2000, enquanto a China e Índia
apresentam tendência de alta. O mapa da poluição mudou, com o crescente peso da
Ásia, que é o continente mais populoso do mundo.
O gráfico abaixo apresenta a
soma das emissões da China e da Índia e dos EUA e a Europa27. Em 1959, os EUA e
a Europa27 eram responsáveis por mais da metade das emissões globais (53,9%),
enquanto os dois países mais populosos do mundo eram responsáveis por somente
9,2% das emissões. Em 2019, o quadro se inverteu e China e Índia passaram a
emitir 37,6% do total mundial e a soma de EUA e Europa27 caiu para 21%. No
século XXI, os dois grandes países asiáticos apresentam tendência de alta das
emissões enquanto os países ocidentais apresentam tendência de redução das
emissões.
Emissões fósseis de CO2: China + Índia e EUA + Europa27: 1959-2019.
Source: BP 2020; Global Carbon Project 2021.
Evidentemente, as emissões per capita são maiores nos países ocidentais. Porém, o maior volume de população e uma matriz energética mais sustentada no carvão mineral, fazem da China e da Índia os maiores emissores de emissões fósseis de CO2. Os gráficos abaixo mostram que China e Índia são mais dependentes do carvão, enquanto os EUA e a Europa27 mais dependentes do petróleo e gás. As energias renováveis são as que mais crescem atualmente, mas ainda possuem um baixo percentual na geração da energia de cada país ou região.
Na COP26, em Glasgow, mais de 40 países se comprometeram a eliminar gradualmente o uso do carvão mineral, considerado uma das fontes mais poluentes. A ideia é reduzir as emissões para manter o aquecimento global abaixo de 1,5º C, em relação ao período pré-industrial. Alguns dos principais produtores e exportadores de carvão, como Canadá, Chile, Polônia, Vietnã e Ucrânia, assinaram o compromisso.
Todavia, os 4 maiores
usuários de carvão – China, Índia, EUA e Austrália não assinaram o documento.
Além disto, a maioria dos países prometem a neutralidade de carbono para 2050,
a China promete a neutralidade apenas para 2060 e a Índia para 2070. Portanto,
o mundo vai continuar consumindo carvão e demais combustíveis fósseis e vai
continuar emitindo CO2, apesar de todo o discurso a favor do controle do
aquecimento global. Os países ricos justificam as emissões pois não querem
ficar pobres e os países pobres querem emitir para manter o crescimento
econômico, acabar com a pobreza e, preferencialmente, ficarem ricos.
Evidentemente, o mundo
precisa de maior equidade social, mas também precisa reduzir a capacidade de
carga da Terra. Por exemplo, os países da OTAN continuam investindo trilhões de
dólares para manter a segurança e a hegemonia Ocidental. Os países orientais
também investem somas cada vez mais vultosas para se defenderem e para combater
o colonialismo que já provocou grandes danos ao Sul Global.
Assim, os gastos militares
continuam alimentando o uso de combustíveis fósseis e elevando as despesas
inúteis do ponto de vista social. O correto seria acabar com a corrida
armamentista e promover o desarmamento, garantindo a paz e a solidariedade
nacional e internacional, junto com a redução da Pegada Ecológica.
O relatório de 2020 do
Instituto Internacional para a Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI –
Stockholm International Peace Research Institute), publicado em 21/04/2021,
mostra que os gastos militares no mundo, no ano passado, chegaram à
impressionante cifra de US$ 1.981.000.000.000,00 (um trilhão e novecentos e
oitenta e um bilhão de dólares).
Os cinco maiores gastadores
em 2020, que juntos responderam por 62% dos gastos militares globais, foram os
Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Reino Unido. Enquanto isto faltam
recursos para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.
Contudo, como escrevi
recentemente: “Se os diversos governos do mundo cortarem pela metade os gastos
militares e investirem este dinheiro na descarbonização da economia seria
possível evitar um colapso ambiental global. Reduzir os gastos de guerra de US$
2 trilhões para US$ 1 trilhão e investir estes recursos na mudança da matriz
energética poderia contribuir substancialmente para um mundo mais pacífico e
com mais sustentabilidade ambiental” (Alves, 27/09/2021).
Para reduzir a Pegada
Ecológica, os países ricos precisam reduzir o consumo conspícuo e os gastos
militares e os países pobres não podem emular o estilo de desenvolvimento do
Norte Global.
Se o mundo continuar emitindo
gases de efeito estufa, o efeito será devastador e pode gerar um colapso
climático sem precedentes na história humana. Além do decrescimento
demoeconômico, a comunidade das nações precisa mudar a matriz energética e
substituir o uso do carvão, do petróleo e do gás.
Como disse George Monbiot:
“Quase tudo o que está sendo dito por governos poderosos na COP26 é uma
distração da tarefa central: manter os combustíveis fósseis no solo”.
(ecodebate)
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