É
importante destacar que mensurar com exatidão o que provocou esta profunda
mudança é um desafio de quebra-cabeça, pois tudo no planeta está intimamente
ligado. Embora não exista um consenso científico sobre a real transformação do
que hoje é o Deserto do Saara, algumas evidências científicas fornecem algumas
peças que remontam parte do passado distante desta região.
Mudança
no eixo da Terra
Até
então, o norte africano era úmido e possuía uma vegetação bem parecida com a
atual região do Senegal. Fósseis de animais que já não fazem mais parte da
região, como crocodilos, elefantes e hipopótamos, reforçam o passado úmido do
Saara. Além disso, os raros e isolados corpos de água ainda encontrados por lá
possuem espécies de peixes que só seriam explicadas pela presença de vias
aquáticas — ou seja, rios.
A
alteração cíclica do eixo da Terra, a qual ocorre a cada 20 mil anos, provocou
um aumento na quantidade raios solares incidindo sobre a região. Algumas
pesquisas sugerem que o Saara teria mudado de verde para desértico rapidamente
— em questão de séculos — por conta da mudança do eixo terrestre, que afetou
profundamente o clima global.
Contudo,
outros estudos indicam que o Saara se formou há apenas 2,7 mil anos através de
uma mudança bem mais lenta. Inclusive, amostras coletadas no lago Yoa,
localizado ao norte da República do Chade, forneceram pistas para construir
parte da história geológica local, indicando que um processo gradual de
desertificação perdura até hoje.
Ação
humana
Apenas a alteração no eixo da Terra não seria suficiente para explicar a profunda mudança na região do Saara. Em um estudo publicado em 2017 na revista Frontiers in Earth Science, o arqueólogo David Wright, da University of Oslo, analisou uma série de dados arqueológicos e ambientais.
Os núcleos de sedimentos e registros de pólen datados do mesmo período indicavam um padrão: qualquer lugar que tivesse o registro de presença humana apresentava mudanças correspondentes na variedade de plantas. Nos períodos finais do ainda verde Saara, os humanos perambularam pela região e, com seu gado, modificaram parte da vegetação restante.
Outra
consequência da presença humana na região foi o aumento do albedo — uma espécie
de poeira que flutua pela atmosfera —, conhecido como um dos fatores que
explicam a aridez do Saara. A ação humana, nessa escala, não teria sido
suficiente para ruir toda vegetação restante local, mas pode ter intensificado
o ponto de inflexão, desencadeando de vez o fim do período úmido.
O
Saara será verde outra vez?
Com ou sem humanos, inevitavelmente o Saara se transformaria no grande deserto quente que ele é hoje. Graças à alteração cíclica do eixo da Terra, de tempos em tempos algumas configurações na superfície do planeta se repetem. Um exemplo disso são as várias eras glaciais pelas quais nosso mundo já atravessou.
O Saara não foi verde há apenas 11 mil anos, mas a região passou por um período úmido cerca de 125 mil anos atrás e, mesmo sem qualquer interferência humana, nada impediu que a paisagem se transformasse por completo. Portanto, é de se esperar que, em alguns milhares de anos, o maior deserto quente do mundo volte a abrigar rios, lagos e florestas.
Deserto
do Saara, ao Norte da África, em visualização da NASA: levantamento sugere que
outras áreas do tipo no mundo também podem estar se expandindo.
O Deserto do Saara expandiu-se cerca de 10% desde 1920, aponta estudo de cientistas da Universidade de Maryland, nos EUA, publicado recentemente no periódico científico “Journal of Climate”. O estudo é o primeiro a fazer um levantamento em escala de séculos das mudanças nas “fronteiras” do maior deserto do mundo, e sugere que outros ambientes do tipo no planeta também podem estar crescendo. (canaltech)
Nenhum comentário:
Postar um comentário