Para ativista, a tragédia que
vivem muitas famílias pela falta de comida deveria ser tratada como um crime de
lesa humanidade.
Sempre que se chega ao fim e
início de um ano, fazemos balanços e avaliações do que passou. No que diz
respeito à proteção social, temos marcas dolorosas a recordar de 2021. O
segundo ano da pandemia no Brasil foi também o ano de agudização da situação da
fome, do empobrecimento da população. Nas ruas, e com parcas assistências
estatais, muitas famílias passavam fome enquanto outros se acotovelavam por
cabeças de peixes, até mesmo comprando ossos que iriam para descarte e que
viraram refeições. “Quando falta comida é porque todo o resto falta”, aponta
Daniel de Souza, da ONG Ação da Cidadania.
Para ele, estarmos de volta
ao mapa da fome e encerrar 2021 com cerca de 55 milhões de pessoas em alguma
insegurança alimentar só tem um significado: “Significa que nos últimos anos as
políticas públicas – e, por consequência, a vontade política do governo –
simplesmente negligenciaram o combate à fome”. Na entrevista a seguir,
concedida através de mensagens de áudio enviadas por WhatsApp ao Instituto
Humanitas Unisinos – IHU, Daniel detalha que a ONG criada pelo seu pai, o
sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi forçada a reeditar campanhas
gigantescas de arrecadação de alimentos. “O relato de que a fome estava
voltando começou a nos chegar em 2016, 2017. Isso fez com que gente voltasse a
fazer o Natal Sem Fome, depois de dez anos sem fazer”, conta.
Daniel ainda faz questão de explicar que “a campanha do Natal Sem Fome, essa campanha de arrecadação de alimentos e doação, sempre foi e sempre será uma ação simbólica, emergencial, necessária e, principalmente, usada para a gente chamar a atenção e cobrar dos governos as políticas públicas que são necessárias”. Assim, essas e outras ações nunca resolverão efetivamente o problema da fome no país. “A única solução é a política pública. Ela é o caminho para tirar o Brasil dessa situação”, indica. “Sem política pública, vamos ficar 50 anos fazendo campanhas e nada vai adiantar”, completa.
Daniel Carvalho de Souza trabalha desde 1998 com criação e produção de campanhas de mobilização nas áreas de saúde, direitos humanos, educação, fome e meio ambiente, estando à frente inclusive de ações para o Rock in Rio, um dos apoiadores da Ação da Cidadania. Atua em campanhas para a prevenção de HIV/AIDS, com parcerias com Ministério da Saúde e Organizações das Nações Unidas – ONU, além do apoio de artistas brasileiros. Criou campanhas com entidades internacionais sobre violência contra a mulher e racismo. Passou parte da infância visitando seu pai, Betinho, o sociólogo Herbert de Sousa, durante seu período no exílio. Com a experiência adquirida ao lado do pai, Daniel segue na Ação da Cidadania como presidente do Conselho, função que ocupa há 24 anos.
Confira a entrevista.
IHU – No Brasil de hoje, mais
da metade da população vive em insegurança alimentar. Ou seja, passa fome. O
que esse dado revela?
Daniel de Souza – Significa
que nos últimos anos as políticas públicas – e, por consequência, a vontade
política do governo – simplesmente negligenciaram o combate à fome. Sabemos que
são exatamente as políticas públicas que podem erradicar a fome, e o que temos
visto nos últimos quatro ou cinco anos é o desmonte das políticas públicas que
se tinha. Há, inclusive, a negação da fome por esse atual governo. Isso, somado
à pandemia, nos traz essa trágica marca de 55 milhões de pessoas em alguma
insegurança alimentar.
Significa que nos últimos
anos as políticas públicas – e, por consequência, a vontade política do governo
– simplesmente negligenciaram o combate à fome – Daniel de Souza.
IHU – Sempre se destacou o
poder e força do terceiro setor no Brasil. Mas, por outro lado, isso não revela
a inabilidade do poder público em assuntos ligados à proteção e assistência
social?
Daniel de Souza – O terceiro
setor sempre foi atuante, sempre teve seu papel, inclusive em movimentos e em
ações em que o Brasil se tornou referência. Um deles é a questão da AIDS, ou
seja, tivemos a sociedade civil junto e pressionando por uma política pública
pelo combate a AIDS, que ficou muito conhecida no mundo inteiro.
Outra área em que o Brasil se
tornou referência é o combate à fome, que também teve o engajamento de toda a
população. É histórica, embora não seja tanta quanto a gente gostaria, a
participação da sociedade em questões de política pública, seja no apoio ou na
pressão.
Só que, de fato, temos visto, nesse governo atual, um desmonte não só na área da questão do combate à fome, mas em quase todos os setores. O que acontece nesses casos? A sociedade civil é obrigada a agir. E, hoje, ela está agindo no combate à fome, no combate ao desmatamento, na questão da saúde. A sociedade está tendo que cumprir o papel que é do governo. O governo é que deveria estar se preocupando com todas essas questões e fazendo o que é necessário.
IHU – Então, vivemos o fruto do desmonte de políticas públicas? Quando você localiza o início desse desmonte?
Daniel de Souza – Estamos
vivendo exatamente essa consequência. Embora, como a gente sempre diz, a
pandemia tenha piorado a situação econômica, piorado a pobreza, aumentado a
crise do desemprego, é importante lembrar que já em 2019, 2018, pelos dados que
temos, estávamos vivendo uma volta para o mapa da fome da Organização das
Nações Unidas – ONU. Estávamos descendo a ladeira porque em 2016 e 2017 começou
o desmonte das políticas de combate à fome, menos recursos para o Fome Zero,
para a construção de cisternas, para a agricultura familiar, para merenda
escolar.
Estávamos descendo a ladeira
porque em 2016 e 2017 começou o desmonte das políticas de combate à fome, menos
recursos para o Fome Zero, para a construção de cisternas, para a agricultura
familiar, para merenda escolar – Daniel de Souza.
Isso tudo foi sendo desmontado
e aí a consequência é óbvia, não tem como não acontecer o que está acontecendo
agora. E, de novo, agravado pela pandemia e pela total inépcia do governo de
reagir. E isso seja em relação a dar um Auxílio Emergencial decente, seja em
relação a implementar as políticas de saúde para que as pessoas pudessem voltar
a trabalhar mais rápido. É um desastre total. É um governo que não pensa na
frente, que não tem planejamento. Então, estamos vendo um quadro muito ruim e
que, como não deve mudar, vai piorar agora em 2022.
IHU – No começo da pandemia,
uma onda de solidariedade varreu o Brasil. Mas, na mesma proporção em que o
número de pessoas sem renda aumentava, assim como a fome, essa onda foi
perdendo força. Como analisa esse contexto?
Daniel de Souza – De fato,
tivemos uma onda muito grande de solidariedade no início da pandemia porque
também, creio eu, as pessoas pensaram que a pandemia não duraria tanto. Mas, na
medida em que o tempo foi passando, e fomos vendo que não seriam meses, mas
anos, não só as pessoas perdem esse ímpeto inicial como também a própria crise
vai cobrando seu preço. Tivemos muitos casos de entidades e pessoas que antes
estavam doando e que, com o passar do tempo, precisaram de doações, precisaram
receber ajuda.
Tivemos muitos casos de entidades
e pessoas que antes estavam doando e que, com o passar do tempo, precisaram de
doações, precisaram receber ajuda – Daniel de Souza.
Tivemos um fato positivo
agora no final da campanha do Natal Sem Fome, e no final desse ano de 2021
vimos um aumento da solidariedade, um aumento das doações e isso se deve ao
fato de a população brasileira realmente ser solidária. Independente da crise,
da situação na qual a gente esteja vivendo, vemos essa solidariedade. E isso é
o que nos dá esperança.
No entanto, de fato, nesses
dois anos foi muito difícil manter essa solidariedade e essas doações numa
crescente. Porque é muito tempo, é uma crise muito grande e acabamos ficando
com picos e vales nos gráficos sobre os números de doações.
IHU – Quais os desafios atuais
para mobilizar uma rede de solidariedade?
Daniel de Souza – Os desafios
são vários. Primeiro, temos que mostrar credibilidade. Para as pessoas doarem,
quando todos estão pedindo, solicitando ajuda, a instituição, independente de
qual for, tem que gozar de credibilidade para você fazer essa doação e ter
certeza de que ela vai ser bem aproveitada.
Segundo, é manter uma rede
grande para, seja qual for a doação, alimento, colchão, o que for, fazer chegar
na ponta. Isso é muito importante. Às vezes, tão difícil quanto arrecadar é
você distribuir. Por isso, tem que ter essa distribuição lá na ponta muito bem
azeitada para que, assim que chegar a doação, ela possa ser distribuída.
E outro desafio é justamente
manter a campanha, a sociedade mobilizada enquanto for necessário. Porque, do
contrário, se fazemos algo muito pontual, muito grande, como o problema
continua, obviamente, a tendência é que a campanha ou a mobilização morra. Os
desafios hoje são esses. Veja, por exemplo, que a gente entrou em 2022 já com a
campanha Brasil Sem Fome. Estamos acabando a campanha Natal Sem Fome e já
entraremos com o Brasil Sem Fome porque sabemos que a fome continua, ainda vai
piorar e crescer. E aí é nosso papel falar para a sociedade justamente isso:
precisamos continuar.
IHU – Nas campanhas de
arrecadação de donativos para as famílias no último Natal, vimos pedidos de
alimentos, brinquedos, material escolar, mas também de roupas para adultos,
remédios, fraldas (infantis e geriátricas) e até absorventes femininos. Diante
desses pedidos, o que podemos afirmar sobre o desamparo dos mais pobres?
Daniel de Souza – Até já
toquei nesse ponto anteriormente, mas a gente está testemunhando, de uma forma
muito trágica, um desgoverno. É um governo que parece que já nasceu com a
perspectiva de simplesmente desrespeitar a população, só se preocupar com os
seus. Vemos isso na prática, basta olhar para qualquer área, cultura, saúde,
educação, meio ambiente, veremos que tudo está um desastre.
E aí é claro que, quando se
dá a todas as outras questões mais pessoais, ocorre a falta de elementos
básicos para a população, porque quando falta comida é porque todo o resto
falta. Esse governo está sendo realmente criminoso e o que temos de fazer é
resistir até ele ir embora e, então, reconstruir o país, porque não existe
nenhuma perspectiva. Talvez isso seja o mais trágico, por parte desse governo,
porque não é capaz de pensar um projeto de país. Ele sabe o que quer desmontar,
mas não sabe o que quer construir. É isso que estamos vivendo, uma desconstrução
do país e a gente precisa retomar essa reconstrução a partir de 2023.
Quando falta comida é porque todo o resto falta. Esse governo está sendo realmente criminoso e o que temos de fazer é resistir até ele ir embora e, então, reconstruir o país – Daniel de Souza.
IHU – Há 30 anos, seu pai, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, fundou a ONG Ação da Cidadania. Que contexto era aquele e quais demandas das pessoas mais pobres daquela época ainda não foram superadas?
Daniel de Souza – Na época do
Betinho, quando ele lançou a campanha, tínhamos uma diferença muito grande que
foi o governo daquela época, de Itamar Franco, totalmente disposto, alinhado e
junto da sociedade civil para combater a fome. Itamar Franco colocou todos os
ministérios e estrutura governamental à disposição e ali já tivemos uma grande
mobilização.
Agora, como sempre dizemos, o
que resolve a fome são as políticas públicas, e aí passamos a ter, a partir de
2003, com a eleição do presidente Lula – que disse que a prioridade do governo dele
era dar ao povo brasileiro três refeições diárias – essa vontade política, um
investimento pesado nos programas de combate à fome. Tanto que, em 2014, a
gente sai do mapa da fome da ONU. Por que saímos? Porque existiu um
investimento na política pública.
Como sempre dizemos, o que
resolve a fome são as políticas públicas – Daniel de Souza.
A grande diferença daquela
época é que se tinha a sociedade e governo juntos, e hoje temos a sociedade
tentando fazer a sua parte – embora não seja o seu papel matar a fome de
ninguém, estamos fazendo por solidariedade, por entender que é necessário – e
um governo jogando contra. Inclusive, muitas vezes, negando a existência da
fome. É muito mais difícil, pois quem efetivamente poderia resolver não só não
está querendo fazer isso como, ainda por cima, está atrapalhando. E, realmente,
tendo uma atitude criminosa nesse sentido. O que está acontecendo no Brasil é
realmente um crime de lesa humanidade.
IHU – A ONG Ação da Cidadania
atua em todos os estados da federação. Que relatos têm chegado sobre esse
momento? Em que regiões há os maiores problemas relacionados à fome?
Daniel de Souza – Sim, a Ação
da Cidadania está em todos os estados. Atuamos em rede, justamente para fazer
com que o alimento chegue para o Brasil inteiro. E são os comitês, que são
nossas coordenações lá na ponta, que nos dão um pouco do retrato do que está
acontecendo no país. Muitas vezes recebemos essas informações e temos uma
avaliação delas antes mesmo de institutos como IBGE, IPEA etc. porque temos essas
pessoas lá na ponta.
O relato de que a fome estava
voltando começou a nos chegar em 2016, 2017. Isso fez com que a gente voltasse
a fazer o Natal Sem Fome, depois de dez anos sem fazer. Muito antes de saírem
as pesquisas e dados de 2018, a gente trouxe de volta essa campanha baseada nos
relatos dos comitês da Ação da Cidadania em diferentes estados, principalmente
no norte e no nordeste. Novamente, são esses comitês que têm a responsabilidade
de receber as cestas e doar para as famílias, seja no Natal Sem Fome ou seja no
Brasil Sem Fome.
IHU – O que a experiência da
concessão do Auxílio Emergencial durante a pandemia revela? Em que medida
podemos considerar que, a partir dessa experiência, se faz emergente a
discussão da implementação de uma renda básica universal?
Daniel de Souza – Na atual
situação, acho que tudo que for sugerido, que for possível fazer é importante.
A questão da renda básica universal, a questão de doação de alimentos, a
questão dos programas sociais, tudo isso, nesse momento de tragédia, vale e tem
que ser trabalhado. E isso exatamente para a gente não depender de governos que
vão usar isso, como estão usando agora, para a política.
A questão da renda básica
universal, a questão de doação de alimentos, a questão dos programas sociais,
tudo isso, nesse momento de tragédia, vale e tem que ser trabalhado – Daniel de
Souza.
A gente só está tendo esse
Auxílio Brasil, que é o programa que substitui o Bolsa Família, porque ano que
vem tem eleição. Se não tivesse eleição, esse benefício não estaria sendo
concedido. E veja que ainda tem isso, essa perversidade de estar usando
politicamente a eleição do ano que vem como moeda de troca para dar comida à
população. Repito: não é um projeto de país, é um projeto pessoal de poder. É
isso que estamos vivendo. Por isso, acho que, nesse momento, todos os
instrumentos que tivermos de combate à fome são absolutamente válidos.
Repito: não é um projeto de país, é um projeto pessoal de poder. É isso que estamos vivendo – Daniel de Souza.
IHU – As questões de fundo que mobilizaram as ações de Betinho e sua percepção de políticas públicas de assistência social inspiraram o programa Bolsa Família. Mas sabemos que, entre o Bolsa Família e o Brasil Sem Fome de Betinho, há distinções. No que o Bolsa Família se afastou das concepções dele?
Daniel de Souza – Na verdade,
não existem diferenças. A campanha do Natal Sem Fome, essa campanha de
arrecadação de alimentos e doação, sempre foi e sempre será uma ação simbólica,
emergencial, necessária e, principalmente, usada para a gente chamar a atenção
e cobrar dos governos as políticas públicas que são necessárias. Já o Bolsa
Família é exatamente um programa de política pública.
Como disse, a gente,
inclusive, parou de fazer o Natal Sem Fome durante dez anos, e achamos que
nunca mais precisaríamos fazer, exatamente porque passou a existir o Bolsa
Família. O que resolve, o que tirou o Brasil do mapa da fome foi o Bolsa
Família, que é um programa de governo de combate à fome. É isso que a gente
quer e é isso que foi desmontado. Não existem diferenças, são questões
complementares.
A Ação da Cidadania e o Natal
Sem Fome nasceram da mobilização da sociedade exatamente por não existir uma
política pública. A partir do momento que passou a existir uma política
pública, e que realmente funcionou e foi referência para o mundo, até pensamos:
“beleza, a gente não precisa fazer mais nenhuma campanha porque o governo está
assumindo isso”. Então, são ações diferentes, ambas superimportantes. O que se
quer é o aumento dessas políticas públicas para que a Ação da Cidadania nunca
mais precise fazer arrecadação de alimentos. É isso que importa.
O que se quer é o aumento dessas políticas públicas para que a Ação da Cidadania nunca mais precise fazer arrecadação de alimentos. É isso que importa – Daniel de Souza.
IHU – Que caminhos devem ser construídos para, novamente, tirar o Brasil do mapa da fome?
Daniel de Souza – A única
solução é a política pública. Política pública é o caminho para tirar o Brasil
dessa situação. E o fato de já ter feito isso, inclusive através de um programa
de sucesso que foi exportado para outros países, só prova que é fácil
reimplementá-lo. Não estamos inventando nada, só trazendo de volta um programa
que já deu certo. Sem política pública, vamos ficar 50 anos fazendo campanhas e
nada vai adiantar.
IHU – Voltando ao seu pai, o
Betinho. Ele foi uma referência nacional de combate à fome e a pobreza. Quais
suas recordações dele nessa luta? Quem foi Betinho para você e o que ele diria
para você, diante do contexto do Brasil de hoje?
Daniel de Souza – Na verdade,
morei pouco com meu pai. Ele e minha mãe eram separados, mas obviamente ele
sempre foi um exemplo importante. Eu o acompanhei sempre nas ações de combate à
fome, combate a AIDS etc. Sempre foi um exemplo muito forte, ele e a minha mãe.
Entendo que, hoje, ele
estaria realmente muito assustado com a situação em que a gente está. Estaria,
obviamente, mobilizando todo mundo como estamos mobilizando e acho que não
temos muita saída. Estamos diante de três anos de uma irresponsabilidade de
gestão que trouxe a gente para onde a gente está. Não temos como fugir a isso.
Por isso, acho que ele estaria fazendo a mesma coisa. Ele deve estar, onde quer
que esteja, muito, muito preocupado com a situação, entendendo que a gente vai
piorar muito ainda antes de melhorar.
IHU – Qual sua avaliação
sobre a forma como a pauta social tem aparecido nas falas dos pré-candidatos à
presidência?
Daniel de Souza – A fome já
foi pauta nesse ano de 2021 e vai ser uma pauta ainda maior agora em 2022. Essa
pauta maior, obviamente, vai estar da esquerda à direita. Alguns vão falar por
propriedade, outros vão falar por oportunismo. Outros vão falar porque não tem
como não falar, porque está tão gritante, na cara das pessoas, que não existe
hipótese de jogar essa coisa para debaixo do tapete. Agora, o importante é
saber como serão as propostas. Uma coisa é falar, a outra é resolver. Por isso,
precisamos saber como os candidatos vão lidar com isso e quais são as propostas
concretas para combater a fome em 2023.
IHU – Como você vislumbra o
contexto social do Brasil de 2022?
Daniel de Souza – Como temos falado, não existe hipótese de melhorarmos essa questão social ainda em 2022, porque não existe nenhum movimento do governo para isso. O que estamos vivendo é simplesmente uma deterioração da sociedade. Temos que aguentar ainda mais esse ano, enfrentar da melhor forma possível porque, como nada foi feito, chegou uma pandemia e antes dela já e tinha uma crise econômica.
Vamos piorar muito antes de melhorar, e vai piorar durante um bom tempo. Não sei em quantos anos a gente vai conseguir sair do mapa da fome da ONU, o que é realmente um crime, porque conseguimos sair e poucos anos depois voltamos. Vamos assistir a uma situação como nunca vimos antes e isso não tem muito jeito. Vamos só encarar de frente e enfrentar. (ecodebate)
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