Os
cientistas da saúde, das ciências ambientais e das ciências de produção
reconhecem que a destruição generalizada da natureza, incluindo habitats e
espécies, está corroendo a segurança hídrica e alimentar e aumentando a chance
de pandemias (Duncan 2007; Marazziti et al. 2021; Ying and Weiping 2021; IPCC,
2021 Items C.2.1, D.2.2).
Um
editorial assinado por 19 editores-chefes das mais renomadas revistas
científicas ligadas à saúde foi publicado por mais de 200 revistas em setembro
deste ano reconhecendo que somente mudanças fundamentais na sociedade reverterão
nossa trajetória atual (Atwoli et al. 2021).
Desde
a revolução industrial quando, como sociedade, estabelecemos um novo modelo de
desenvolvimento econômico, a temperatura média da Terra tem aumentado
significativamente (IPCC, 2021 Item A.1). Substituímos a tração animal pela
potência gerada nas máquinas a vapor, construímos grandes fábricas movidas a um
combustível que estava enterrado a milênios e rapidamente alteramos o balanço
de gases na atmosfera.
Todos os seres vivos especializados em fotossíntese não são mais capazes de remover o gás carbônico emitido pelo padrão de comportamento humano dos 2 últimos séculos. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera passou de 0,29 ppm/ano na década de 60 para 2,39 ppm/ano na última década (Canadell et al, 21021).
Desde 1750, aumentamos em 47% a concentração de CO2, 156% em CH4 23% em N2O na atmosfera (IPCC, 2021 Item A.2.1). Os cientistas do clima descobriram que o acúmulo desses gases (CO2, CH4, N2O) prejudica a troca de calor entre a atmosfera e o espaço, isto é, a radiação térmica para o espaço foi reduzida – o que é chamado de efeito-estufa, que tem aumentado a temperatura do planeta. A temperatura da superfície terrestre era 1.09°C mais alta em 2020 do que em 1900 (IPCC, 2021 Item A.1.2).
Esse
aumento de temperatura, por sua vez, causa um desequilíbrio ecológico
catastrófico em todo o planeta, incluindo, dentre muitos outros, o derretimento
das calotas polares, aumento do nível dos mares, extinção de milhares de
espécies vegetais e animais, eventos climáticos extremos (secas e inundações),
redução da produtividade das lavouras, aumento de pragas e doenças (IPCC, 2021
Item B.2).
A
queima de combustíveis fósseis não é a única fonte de emissão de gases do
efeito estufa, mas é a maior delas pois contribui com 74% do total de emissões
(Ritchie and Roser 2020). Concluímos, portanto, que o fator que sustentou o
grande avanço tecnológico e um consequente aumento extraordinário da qualidade
de vida no planeta é também o responsável pelo desequilíbrio ecológico que
observamos hoje.
A dependência econômica global do uso de combustíveis fósseis torna as ações de mitigação das mudanças climáticas difíceis e exigem a atuação forte e urgente dos líderes mundiais como urge a sociedade médica mundial em seu recente editorial (Atwoli et al. 2021).
Susana Puga Ribeiro é doutora em Biologia Celular e Estrutural, mestre em Biologia Animal, graduada em Zootecnia, todas pela Universidade Federal de Viçosa (MG). É professora no curso de Medicina da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e desenvolve pesquisa na área de Fisiologia e Morfologia, nos temas: Ontogênese de Ilhotas Pancreáticas e Rins em Desmodus rotundus; Morcego Vampiro: adaptações morfofisiológicas em respostas às diferentes dietas durante diferentes estágios de vida (fetos, lactentes e adultos). (ecodebate)
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