Os dados apenas confirmam que
os desastres ambientais e climáticos já provocam muitos reveses para a
humanidade e isto vai se agravar no futuro.
“O que está em jogo são
negatividades: perdas, devastação e ameaças” - Ulrich Beck (1944-2015).
O relatório “The human cost of
disasters: an overview of the last 20 years (2000-2019)” da UNDRR (United Nations
Office for Disaster Risk Reduction) publicado no dia 13/10/2020 para marcar o
Dia Internacional para Redução do Risco de Desastres, confirma que os eventos
climáticos extremos passaram a dominar a paisagem de desastres no século 21.
No período de 2000 a 2019,
ocorreram 7.348 grandes eventos de desastres registrados, ceifando 1,23 milhão
de vidas, afetando 4,2 bilhões de pessoas (muitos em mais de uma ocasião),
resultando em aproximadamente US$ 2,97 trilhões em perdas econômicas globais.
Este é um aumento acentuado em relação aos vinte anos anteriores. Entre 1980 e 1999, 4.212 desastres foram associados a desastres naturais em todo o mundo, ceifando aproximadamente 1,19 milhão de vidas e afetando 3,25 bilhões de pessoas, resultando em aproximadamente US $ 1,63 trilhão em perdas econômicas.
Grande parte da diferença nos dois períodos é explicada por um aumento nos desastres relacionados ao clima, incluindo eventos climáticos extremos: de 3.656 eventos relacionados às mudanças climáticas (1980-1999) para 6.681 desastres relacionados ao clima no período de 2000-2019. Isto sugere que o desenvolvimento global passou a lidar com o crescimento antieconômico, quando os prejuízos passam a prevalecer sobre os benefícios.
Dados recentes mostram que, em
termos meteorológicos, o ano de 2020 foi histórico: a tempestade subtropical
Theta formou-se no Oceano Atlântico, elevando o número total de tempestades
nomeadas nesta temporada para 29 – quebrando o recorde estabelecido em 2005
(ainda faltando semanas para o fim da temporada). Em setembro, o Centro
Nacional de Furacões já havia analisado sua lista alfabética de nomes e mudado
para as letras gregas. O número de tempestades e furacões é crescente, assim
como os seus danos.
O tufão Vamco que atingiu o sul
da principal ilha das Filipinas, Luzon, no dia 12/11/2020 foi a terceira grande
tempestade a afetar o arquipélago em menos de um mês. A tempestade deixou pelo
menos 11 mortos no país; bairros de Manila ficaram alagados e ventos chegaram a
155 km/h.
Sem dúvida, o aquecimento
global está se agravando. A concentração de CO2 na atmosfera variava em níveis
abaixo de 280 partes por milhão (ppm) durante todo o Holoceno (últimos 12 mil
anos). A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em 1920,
atingiu 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1987, 400 ppm em 2015 e chegou a 418,3 ppm
em 01/06/2020.
As emissões globais de CO2
que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de
toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram
37 bilhões de toneladas em 2019. Segundo o Acordo de Paris, aprovado em 2015 na
ONU, existe a necessidade de reduzir imediatamente as emissões globais e chegar
à emissão zero até 2050, para manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC.
Os últimos 7 anos (2014-20)
foram os mais quentes já registrados e a década 2011-20 é a mais quente da
série histórica. A atmosfera do Planeta está ficando mais quente e isto tem um
impacto devastador em diversos aspectos, pois, além do degelo, amplas áreas da
Terra estão ficando inóspitas ou inabitáveis.
Um estudo publicado na revista
Scientific Reports (12/11/2020), faz a ousada afirmação de que, hipoteticamente
falando, poderíamos “já estar além de um ponto sem volta para o aquecimento
global”. Usando um modelo matemático simples, os autores simulam o que
aconteceria em um mundo hipotético onde as emissões de gases de efeito estufa
fossem interrompidas em 2020. Eles consideram que, nas simulações, o mundo
continua a aquecer por centenas de anos como resultado de ciclos de feedback
positivo como o degelo do permafrost. Estes resultados devem servir de alerta,
pois o IPCC considera que se as emissões de gases de efeito estufa parassem
imediatamente, é provável que haja muito pouco aumento nas temperaturas e
nenhum sinal de retomada do aquecimento no futuro.
Sem dúvida, os perigos são
enormes. A pandemia da covid-19 aumentou a morbimortalidade do mundo e tem
gerado muitos danos econômicos e sociais. Mas o SARS-CoV-2 deve ser vencido
mais cedo ou mais tarde. Todavia, a emergência climática só vai se agravar ao
longo do século XXI.
Os dados indicados pela UNDRR apenas confirmam que os desastres ambientais e climáticos já provocam muitos reveses para a humanidade e isto vai se agravar no futuro.
Como disse Ulrich Beck, no conflito ecológico da sociedade de risco (do Antropoceno): “O que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças”. (ecodebate)
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