Estudo que investigou 19 praias alerta para os impactos que os microplásticos podem causar a diversas espécies marinhas, pondendo também ser consumido indiretamente pelo ser humano.
Formados por microesferas, os microplásticos – partículas de plástico com tamanho entre 0,001 e 5 mm – estão presentes em fios de roupas sintéticas, cosméticos e até nas pastas dentais. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontam que pelo menos 51 trilhões de partículas de microplásticos estão espalhadas pelos oceanos.
Um
estudo publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin identificou
microplásticos em praias estuarinas do litoral paranaense. Os pesquisadores do
Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná investigaram praias
localizadas às margens das Baias de Antonina, Paranaguá e Laranjeiras,
incluindo as localizadas dentro da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba
(APA de Guaraqueçaba).
Os
microplásticos foram encontrados em 16 das 19 praias estudadas. No total foram
registrados 389 itens – 63% eram espumas, como o isopor, por exemplo, e 14%
fragmentos de produtos feitos de plástico.
As
coletas foram realizadas ao longo de duas semanas no final de 2020 e todas as
análises laboratoriais ocorreram no primeiro semestre de 2021. De acordo com o
grupo, a presença e caracterização de microplásticos é inédita nas praias do
Complexo Estuarino de Paranaguá (PR), uma das mais importantes baías do Brasil.
“Nós selecionamos as praias visando a obtenção de um panorama espacial da presença dos microplásticos ao longo do sistema estuarino”, explica Mateus Farias Mengatto, Mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos pela UFPR e primeiro autor do trabalho. As partículas foram observadas em todas as praias da área de proteção de Guaraqueçaba. Mengatto também destaca que o grupo ainda encontrou pellets – plásticos primários utilizados como matéria prima por indústrias que fabricam produtos de plástico.
Mapa de localização do Complexo Estuarino de Paranaguá; Pontos vermelhos – praias onde foram encontrados microplásticos; pontos verdes – praias onde não foram encontrados; polígono com textura de linha (brancas) área da APA de Guaraqueçaba. Imagens: Mateus Farias Mengatto.
O
trabalho faz parte do projeto de pesquisa “Panorama Histórico e Perspectivas
Futuras Frente a Ocorrência de Estressores Químicos Presentes no Complexo
Estuarino de Paranaguá (EQCEP)”, um de oito selecionados pela Chamada Pública
do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações/Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Nº 21/2017 – Pesquisa e
Desenvolvimento em Ações Integradas e Sustentáveis nas Baías do Brasil.
Renata
Hanae Nagai, orientadora e coautora do trabalho, ressalta que o projeto busca
ampliar o conhecimento sobre os impactos das ações humanas no litoral do
Paraná.
“Nós
queremos fornecer informações sobre a qualidade ambiental da região para a
sociedade e tomadores de decisão, visando a conservação e uso sustentável do
ambiente costeiro”, afirma Nagai.
No
âmbito de regiões que abrigam unidades de conservação, como o litoral do
Paraná, entender a presença, quantidade e características de poluentes como
microplásticos é fundamental. “Apesar deste trabalho ter considerado apenas as
praias do Complexo Estuarino de Paranaguá, destacamos que o nosso litoral
possui ecossistemas essenciais para a manutenção da biodiversidade marinha e
para manutenção de recursos naturais consumidos pela sociedade, como por
exemplo os manguezais. É importante que esses ambientes sejam investigados em
trabalhos futuros.”, comenta Mateus.
Por
que isso importa?
O
plástico tornou-se popular no Brasil na década de 1950, mas a produção em larga
escala trouxe graves impactos ambientais. O Brasil é um dos maiores produtores
de lixo plástico do mundo, com aproximadamente 11,3 milhões de toneladas
descartadas por ano, de acordo com a World Wildlife Fund (WWF). O destino
incorreto gera poluição em oceanos, rios e solos, com impacto direto para a
fauna e a flora.
Os grandes vilões são os produtos plásticos de uso único, como embalagens descartáveis e sacolinhas plásticas, que podem permanecer no ambiente por séculos. “Uma vez no oceano esses plásticos podem ser ingeridos por organismos marinhos maiores, como peixes, tartarugas, aves e mamíferos marinhos, e podem sofrer degradação, fragmentando-se em pedaços menores, gerando o que chamamos de microplásticos”, explica a docente Renata.
Microplásticos observados a partir de um estereomicroscópio. Escala de tamanho em vermelho.
O
pequeno tamanho dos microplásticos – varia entre 0,001 e 5 mm – traz
preocupações para a comunidade científica. “Isso dificulta a retirada do meio
ambiente e também favorece sua interação com uma gama muito maior de organismos
marinhos, o que tem um efeito cascata na fauna marinha, via processos de
bioacumulação e biomagnificação. Por isso, a investigação de microplásticos
cresceu exponencialmente na última década”, aponta Mateus.
“Hoje,
a poluição por microplásticos é tema de diferentes pesquisas conduzidas por
nossos discentes de pós-graduação do Centro de Estudos do Mar. A expectativa é
que em um futuro próximo nosso entendimento do status da poluição por
microplásticos no litoral do Paraná seja ampliado. Assim, será possível
vislumbramos caminhos e soluções para os riscos e problemas gerados por este
poluente emergente”, complementa Nagai. (ecodebate)
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