O degelo da Antártida tem se acelerado e apenas 5% de perda será suficiente para inundar grandes áreas urbanas e rurais. A maior parte do litoral brasileiro está ameaçada pelas inundações
A despeito das variações anuais, a reta de tendência dos dados mensais estava sempre direcionada para cima e a inclinação era positiva. Os gráficos abaixo mostram os dados relativos aos meses de fevereiro e março. Nota-se que entre 1979 e 2017 a inclinação da reta de fevereiro era de 3,0 + ou – 3,8% por década, mesmo considerando que em 2016 e 2017 a anomalia ficou abaixo da média do período. Mas considerando o período 1979 e 2022 a inclinação da reta ficou negativa, marcando -0,4 + ou – 3,4%. Nota-se que entre 1979 e 2017 a inclinação da reta de março era de 3,3 + ou – 3,8% por década, mesmo considerando que em 2017 a anomalia ficou abaixo da média do período. Mas considerando o período 1979 e 2022 a inclinação da reta caiu para 0,9 + ou – 3,4%.
O gráfico abaixo, também da National Snow & Ice Data Center (NSIDC), mostra que a extensão de gelo marinho na Antártida na média do período 1981-2010 e o ano 2022. O mês de março de 2022 apresenta o menor nível de todos os tempos, o que provocou a inclinação negativa da reta de tendência de longo prazo.
A temperatura da Terra já aumentou 1,2ºC desde o período pré-industrial e a meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, era limitar o aquecimento global a 2ºC, com esforços para que ele não ultrapasse os 1,5ºC. Mas, as gerações que estão nascendo agora e que terão muitas pessoas sobreviventes no ano de 2100, vão passar por 4 vezes mais extremos climáticos do que passam agora, no cenário de 1,5ºC. Mas se as temperaturas aumentarem por volta de 2ºC, elas terão 5 vezes mais inundações, tempestades, secas e ondas de calor do que agora.
Segundo o IPCC, pelo menos 3,3 bilhões de pessoas são altamente vulneráveis às mudanças climáticas e 15 vezes mais propensas a morrer por condições climáticas extremas.
O degelo da Antártida tem se acelerado e apenas 5% de perda será suficiente para inundar grandes áreas urbanas e rurais. A maior parte do litoral brasileiro está ameaçado pelas inundações, como mostrei em artigo do Ecodebate (Alves, 19/03/21). Assim, o degelo da Antártida é uma péssima notícia para a humanidade.
O nível do mar deve subir dezenas
de centímetros no século XXI, dependendo dos níveis das emissões futuras e da
aceleração do aquecimento global. As gerações que ainda nascerão vão herdar um
mundo mais complicado e mais inóspito, podendo haver uma mobilidade social
descendente em um mundo com muitas injustiças ambientais, apartheid climático e
conflitos de diversas ordens.
Uma plataforma de gelo, com área
mais de duas vezes maior que a da cidade de Porto Alegre, desmoronou
completamente no Leste da Antártida Oriental. A plataforma de gelo Conger, que
tinha uma superfície aproximada de 1.200 km2, desabou por volta de
15/03/22.
Nem tudo o que acontece na natureza se deve apenas ao aquecimento global. A Antártida perde massa através da descarga de icebergs e plataformas de gelo crescentes e minguantes como parte de um ciclo natural. Mas o que se vê agora, com o colapso da plataforma de gelo Conger e outras, é a continuação de uma tendência preocupante pela qual as plataformas de gelo da Antártida sofrem colapso em toda a área uma após a outra.
O fato é que o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas. Os indicadores da crise climática e ambiental estão piores do que previsto por modelos anteriores. Toda a vida na Terra é vulnerável ao aquecimento global, incluindo os ecossistemas e a civilização humana. Mitigação e adaptação são fundamentais.
Todavia, se a humanidade não alterar o estilo de vida e a maneira de produzir e consumir, as mudanças podem inviabilizar a capacidade de adaptação e o colapso ecológico seria inevitável. Para salvar a humanidade é preciso salvar a natureza e garantir a estabilidade climática. (ecodebate)
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