A mudança no uso da terra –
incluindo o desmatamento de florestas para criar espaço para fazendas e
pastagens – contribuiu com cerca de três quartos da quantidade de gases de
efeito estufa impulsionados pelo comércio global de produtos agrícolas entre
2004 e 2017
Cientistas do sistema
terrestre da Universidade da Califórnia, Irvine e outras instituições traçaram
a linha mais clara até agora conectando consumidores de produtos agrícolas em
países mais ricos da Ásia, Europa e América do Norte com um crescimento das
emissões de gases de efeito estufa em nações menos desenvolvidas,
principalmente no Hemisfério Sul.
Em um artigo publicado na
Science, os pesquisadores relatam que o comércio de emissões do uso da terra –
que vêm de uma combinação de agricultura e mudança no uso da terra – aumentou
de 5,1 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (ao considerar outras
emissões de gases de efeito estufa, como óxido nitroso e metano) por ano em
2004 para 5,8 gigatoneladas em 2017.
No artigo, os cientistas descobriram que a mudança no uso da terra – incluindo o desmatamento de florestas que absorvem carbono para criar espaço para fazendas e pastagens – contribuiu com cerca de três quartos da quantidade de gases de efeito estufa impulsionados pelo comércio global de produtos agrícolas entre 2004 e 2017.
“Aproximadamente um quarto de todas as emissões humanas de gases de efeito estufa são do uso da terra”, disse o coautor Steven Davis, professor de ciência do sistema terrestre da UCI. “Nosso trabalho mostra que grandes parcelas dessas emissões em países de baixa renda estão relacionadas ao consumo em países mais desenvolvidos.”
As principais fontes de
emissões de mudanças no uso da terra durante o período estudado foram o Brasil,
onde a prática de remoção de vegetação natural, como florestas para dar lugar a
pastagens e fazendas, causou grande transformação do uso da terra no país, e a
Indonésia, onde turfas antigas que armazenam carbono foram queimadas ou
eliminadas para permitir o cultivo de plantas para produzir óleo de palma para
exportação para países ricos.
Cerca de 22% das plantações e pastagens do mundo – 1 bilhão de hectares – são usados para cultivar produtos destinados a consumidores estrangeiros, segundo os pesquisadores. Commodities como arroz, trigo, milho, soja, óleo de palma e outras sementes oleaginosas ocupam quase um terço da terra usada para bens comercializados e contribuem com cerca de metade das emissões de gases de efeito estufa comercializadas.
Acordo comercial União Europeia-Mercosul intensificará a crise climática provocada pela agricultura.
O estudo mostrou mudanças que
ocorreram em certas regiões entre 2004 e 2017: na fase inicial, a China era um
exportador líquido de produtos agrícolas, mas em 2017, tornou-se um importador
de bens e emissões de uso da terra, em parte de Brasil. Ao mesmo tempo, as
exportações do Brasil para a Europa e os Estados Unidos, que eram os maiores
parceiros comerciais do país em produtos agrícolas em 2004, caíram.
Em 2017, último ano examinado
pelos pesquisadores, a maior fonte de emissões relacionadas à exportação foi o
Brasil, seguido por Argentina, Indonésia, Tailândia, Rússia e Austrália. Os
maiores importadores líquidos de produtos vinculados a essas emissões foram
China, Estados Unidos, Japão e Alemanha, seguidos pelo Reino Unido, Itália,
Coreia do Sul e Arábia Saudita.
Além de adicionar gases de
efeito estufa à atmosfera, práticas humanas de uso da terra causaram
perturbações significativas nos ecossistemas, degradaram a biodiversidade,
esgotaram os recursos hídricos e introduziram outros tipos de poluição em
ambientes locais.
Do ponto de vista econômico, os exportadores que produzem as maiores quantidades de emissões de uso da terra também são fortemente dependentes da agricultura de exportação como contribuinte para o produto interno bruto.
Nações ricas dependem da biodiversidade de países em desenvolvimento. (ecodebate)
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