domingo, 29 de maio de 2022

Países em desenvolvimento crescem mais do que os países desenvolvidos

A governança global tem muito o que fazer na área econômica, social e ambiental para construir um mundo mais justo e sustentável no século XXI

Os países em desenvolvimento (liderados pela China e pela Índia) têm, nas últimas décadas, apresentado maior crescimento econômico dos que os países desenvolvidos. Em consequência, o PIB dos países emergentes superou o PIB dos países avançados e existe um processo de convergência da renda per capita, pois a diferença da renda média entre os dois grupos de países está diminuindo.

O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que em 1980 os países desenvolvidos tinham um PIB de US$ 8,4 trilhões e os países em desenvolvimento um PIB de US$ 4,98 trilhões. A estimativa para 2027 é de um PIB de US$ 82,5 trilhões nas economias avançadas e de US$ 128,9 trilhões nas economias emergentes.
Segundo o professor e prêmio Nobel de economia, Michael Spence (2012), antes de 1750, por milhares de anos, o crescimento econômico era insignificante em todo o mundo. A maioria da população mundial era pobre (havia algumas elites ricas) e em alguns lugares havia uma pequena classe média orientada para o comércio. Mas por volta de 1750, a Inglaterra começou uma nova trajetória, a da Revolução Industrial. Os níveis de renda per capita começaram a melhorar. O crescimento acelerou e, pela primeira vez na história recente, o desenvolvimento se tornou duradouro.

Durante o século XIX, o padrão se espalhou rapidamente para a Europa continental e depois para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A Revolução Industrial se expandiu por dois séculos, até a Segunda Guerra Mundial, e provocou um processo de divergência da renda, isto é, alguns países ficaram muito mais ricos do que o resto do mundo. A mudança drástica no modelo de crescimento, entre 1750 e 1950, limitou-se ao que hoje entendemos como países avançados ou industrializados (ou, às vezes, maduros). Isso afetou a vida de quase 15% da população do planeta.

Após a Segunda Guerra Mundial, o modelo começou a mudar novamente, embora no início fosse difícil perceber que era realmente uma megatendência. Os países em desenvolvimento começaram a crescer. No início muito lentamente e apenas em algumas áreas isoladas. Então o avanço começou a se espalhar e acelerar. Quando, a partir da década de 1980, a China e a Índia (os dois países mais populosos do mundo) iniciaram uma fase de rápido crescimento econômico, a convergência da renda, em nível internacional, passou a ficar clara. É o que Michael Spence chama de nova convergência.

Considerando o gráfico abaixo, nota-se que houve, de fato, um processo de convergência entre a renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) dos países desenvolvidos (economias avançadas) e dos países em desenvolvimento (economias emergentes) nas últimas 4 décadas. A renda per capita dos primeiros era de US$ 26,6 mil em 1980, passou para US$ 53,5 mil em 2022 e deve chegar a US$ 57,6 mil em 2027, segundo as estimativas do FMI. Já a renda per capita dos segundos era de US$ 3,6 mil em 1980, passou para US$ 11,9 mil em 2022 e deve chegar a US$ 14,1 mil em 2027. A renda per capita das economias avançadas era 7 vezes maior do que a das economias emergentes em 1980 e deve cair para 4,1 vezes em 2027. Portanto, a despeito das desigualdades, a diferença de renda diminuiu entre 1980 e 2027, o que mostra um processo de convergência.

O fato é que houve avanço do comércio internacional, especialmente depois do fim da Guerra Fria e a Ásia emergente conseguiu ganhos significativos na medida em que construiu uma inserção soberana no processo de globalização e conquistou um ritmo de aumento da renda per capita que converge para o nível das economias mais ricas e avançadas do mundo. Já a América Latina e a África são continentes em que a renda diverge dos países desenvolvidos e são regiões, com baixo grau de complexidade da estrutura produtiva, que estão em um processo submergente.

Isto quer dizer que o mundo não é totalmente convergente. Existem regiões que estão ficando mais pobres em termos relativos. A ALC pode, no longo prazo, ficar presa na “armadilha da renda média” e pode ficar cada vez mais distante da Ásia emergente.

O caso mais grave é da África Subsaariana que deve chegar em 2100 com cerca de 4 bilhões de habitantes (quase 40% da população mundial) e uma renda per capita cada vez mais distante daquela da América do Norte, da Europa, da Oceania e da Ásia emergente. Um contingente tão grande de pessoas presas na “armadilha da pobreza” pode ser uma bomba relógio que sinalize para uma erupção de uma grande crise social.

Por conseguinte, a governança global tem muito o que fazer na área econômica, social e ambiental para construir um mundo mais justo e sustentável no século XXI. (ecodebate)

Nenhum comentário:

Poluição plástica pode matar embriões de animais oceânicos

Oceanos em 2050 vão ter mais plástico do que peixes, alerta Fórum de Davos. Altos níveis de poluição plástica podem matar os embriões de uma...