A governança global tem muito
o que fazer na área econômica, social e ambiental para construir um mundo mais
justo e sustentável no século XXI
Os países em desenvolvimento
(liderados pela China e pela Índia) têm, nas últimas décadas, apresentado maior
crescimento econômico dos que os países desenvolvidos. Em consequência, o PIB
dos países emergentes superou o PIB dos países avançados e existe um processo
de convergência da renda per capita, pois a diferença da renda média entre os
dois grupos de países está diminuindo.
Durante o século XIX, o
padrão se espalhou rapidamente para a Europa continental e depois para os
Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A Revolução Industrial se
expandiu por dois séculos, até a Segunda Guerra Mundial, e provocou um processo
de divergência da renda, isto é, alguns países ficaram muito mais ricos do que
o resto do mundo. A mudança drástica no modelo de crescimento, entre 1750 e
1950, limitou-se ao que hoje entendemos como países avançados ou
industrializados (ou, às vezes, maduros). Isso afetou a vida de quase 15% da
população do planeta.
Após a Segunda Guerra
Mundial, o modelo começou a mudar novamente, embora no início fosse difícil
perceber que era realmente uma megatendência. Os países em desenvolvimento
começaram a crescer. No início muito lentamente e apenas em algumas áreas
isoladas. Então o avanço começou a se espalhar e acelerar. Quando, a partir da
década de 1980, a China e a Índia (os dois países mais populosos do mundo)
iniciaram uma fase de rápido crescimento econômico, a convergência da renda, em
nível internacional, passou a ficar clara. É o que Michael Spence chama de nova
convergência.
Considerando o gráfico abaixo, nota-se que houve, de fato, um processo de convergência entre a renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) dos países desenvolvidos (economias avançadas) e dos países em desenvolvimento (economias emergentes) nas últimas 4 décadas. A renda per capita dos primeiros era de US$ 26,6 mil em 1980, passou para US$ 53,5 mil em 2022 e deve chegar a US$ 57,6 mil em 2027, segundo as estimativas do FMI. Já a renda per capita dos segundos era de US$ 3,6 mil em 1980, passou para US$ 11,9 mil em 2022 e deve chegar a US$ 14,1 mil em 2027. A renda per capita das economias avançadas era 7 vezes maior do que a das economias emergentes em 1980 e deve cair para 4,1 vezes em 2027. Portanto, a despeito das desigualdades, a diferença de renda diminuiu entre 1980 e 2027, o que mostra um processo de convergência.
O fato é que houve avanço do comércio internacional, especialmente depois do fim da Guerra Fria e a Ásia emergente conseguiu ganhos significativos na medida em que construiu uma inserção soberana no processo de globalização e conquistou um ritmo de aumento da renda per capita que converge para o nível das economias mais ricas e avançadas do mundo. Já a América Latina e a África são continentes em que a renda diverge dos países desenvolvidos e são regiões, com baixo grau de complexidade da estrutura produtiva, que estão em um processo submergente.
Isto quer dizer que o mundo
não é totalmente convergente. Existem regiões que estão ficando mais pobres em
termos relativos. A ALC pode, no longo prazo, ficar presa na “armadilha da
renda média” e pode ficar cada vez mais distante da Ásia emergente.
O caso mais grave é da África Subsaariana que deve chegar em 2100 com cerca de 4 bilhões de habitantes (quase 40% da população mundial) e uma renda per capita cada vez mais distante daquela da América do Norte, da Europa, da Oceania e da Ásia emergente. Um contingente tão grande de pessoas presas na “armadilha da pobreza” pode ser uma bomba relógio que sinalize para uma erupção de uma grande crise social.
Por conseguinte, a governança global tem muito o que fazer na área econômica, social e ambiental para construir um mundo mais justo e sustentável no século XXI. (ecodebate)
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