A África tem uma das taxas de
crescimento populacional mais rápidas do mundo. Os modelos de crescimento
projetam que a população atual do continente de cerca de 1,3 bilhão de pessoas
quase dobrará para 2,5 bilhões até 2050 – e é provável que continue crescendo
além disso.
Ao mesmo tempo, a desnutrição
é generalizada na África – 21% da população enfrenta insegurança alimentar – e
o continente é especialmente vulnerável às mudanças climáticas. Regiões mais
quentes já estão passando por desertificação e áreas de baixa produtividade
agrícola são suscetíveis a choques climáticos de clima adverso, seca,
inundações e chuvas irregulares. Os efeitos combinados do crescimento
populacional e das mudanças climáticas levantam uma séria questão para o
continente: como a África alimentará sua crescente população em condições cada
vez mais hostis?
Beltran-Peña e D’Odorico aplicaram os resultados de modelos agro-hidrológicos, climáticos e socioeconômicos para avaliar a autossuficiência alimentar e a vulnerabilidade climática de 49 países africanos em um cenário em que a temperatura média global é 3°C acima dos níveis pré-industriais até século.
Eles descobriram que, sob um clima 3°C mais quente, a África enfrentará um grave descompasso entre o tamanho da população e a autonomia alimentar. Em 2075, a produção de alimentos na África será capaz de alimentar apenas 1,35 bilhão de um número estimado de 3,5 bilhões de pessoas – uma descoberta que já explica o aumento da produtividade agrícola por meio de melhorias na irrigação e práticas sustentáveis.
Sob este cenário climático,
as nações africanas terão que expandir as terras agrícolas e depender mais
fortemente da importação de alimentos. Ambas as abordagens vêm com
desvantagens: a expansão das terras agrícolas traz ramificações ecológicas
potencialmente desastrosas, enquanto a dependência das importações tornaria a
África mais suscetível à volatilidade dos preços globais dos alimentos. A
análise indicou que a África Oriental e Ocidental terá as necessidades de
importação mais significativas.
A pesquisa também sugeriu medidas para lidar com a previsão sombria. Aumentar a proporção de alimentos à base de plantas consumidos e melhorar o armazenamento de água – principalmente em regiões áridas – pode ajudar a mitigar a crescente insegurança alimentar, por exemplo. Além disso, reduzir pela metade as taxas atuais de perda e desperdício de alimentos poderia aumentar a produção doméstica de alimentos e alimentar mais 130 milhões de pessoas. No entanto, observam os pesquisadores, essas soluções não eliminarão os déficits alimentares projetados no continente.
Fome: aquecimento aumenta o risco de uma nova grande crise global.
O segundo dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas é acabar com a fome e a
desnutrição. Esta pesquisa sugere que esse objetivo pode não ser viável na
África sob o atual paradigma de emissões e aquecimento. (O Futuro da Terra, https://doi.org/10.1029/2022EF002651, 2022).
(ecodebate)
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